Assédio moral e prática discriminatória

Quando foi convidada para fazer parte da equipe da Plataforma P-75, em 2016, após vários processos de seleção, a técnica de manutenção na especialidade de instrumentação, Maria Luiza, que já trabalhava há 13 anos embarcada em uma mesma plataforma na Bacia de Campos, jamais poderia imaginar o que estava por vir!

O que parecia um desafio profissional promissor, que a levou a superar até mesmo a distância e saudades da filha ainda bebê, se tornou um martírio, após seu retorno da China, onde acompanhou parte do processo de construção da Plataforma.

Engenharia Eletrônica com duas pós-graduações na área de petróleo, a petroleira trabalhou durante dois anos no projeto da P-75. Em função disso, se mudou para Santos e depois para a China. Tudo ia bem, até que no início de 2018, o projeto mudou de gerência, passando a fazer parte da UO-Rio.

Quando o novo gerente assumiu (Ângelo Roberto Moreira dos Santos Fonseca – gerente de operação da P-75), foi retirada da equipe que retornaria para a China, sob alegação que precisavam de um profissional com o seu perfil para ficar em terra acompanhando o projeto no Rio de Janeiro, mas que depois que as atividades iniciassem, retornaria normalmente para o trabalho com a equipe de manutenção Maria Luiza então, mudou-se novamente, e ao chegar no Rio passou a realizar um trabalho administrativo, sendo a cada dia mais afastada do projeto, sem explicação e sem nenhuma proposta de recolocação profissional. Quando percebeu, já tinham colocado outra pessoa em seu lugar na plataforma.

O argumento foi de que ela não tinha perfil para o trabalho embarcada e que deveria procurar outro local para trabalhar. Chegou a ser transferida para a unidade do Espírito Santo, sem ser consultada, durante as férias.

Efetivo mínimo de mulheres

Vivemos em uma sociedade preconceituosa e machista onde as mulheres são discriminadas por serem consideradas frágeis, sem aptidão para determinadas funções e funcionárias dispendiosas, por conta de gravidez e da maternidade. Dentro da Petrobrás, pelo menos na UO-Rio, a situação se perpetua. Relatos apontam que a Plataforma P-75, deverá entrar em operação em outubro, com apenas uma mulher petroleira própria (fora as eventuais terceirizadas), em um efetivo de mais de 120 pessoas, ou seja, uma participação quase nula.

Buscar a igualdade de oportunidades e eliminar a discriminação no ambiente de trabalho deveria ser uma ação efetiva, mas o RH da UO-Rio parece não pensar desta forma, já que até o fechamento desta matéria sequer respondeu ao Setor de Saúde, Meio Ambiente, Segurança e Novas Tecnologias do Sindicato, quanto aos dois ofícios solicitando informações sobre a quantidade de trabalhadoras por plataforma (P74, P75, P76, P77); a quantidade delas por turno; a política da empresa sobre efetivo feminino para embarque e a distribuição do espaço destinado às empregadas em cada uma das plataformas.

“Passei por diversas situações de humilhação e assédio durante esse período. Até a maternidade foi usada como justificativa do que estavam fazendo comigo. Fiz denúncia na ouvidoria Petrobrás chamando atenção para o comportamento inadequado e falta de ética desse gerente. Infelizmente acabou em nada.

Mesmo diante dos depoimentos e provas, a Petrobrás negligenciou minha situação. Disse que não houve assédio e chamou de “ruído de comunicação”. É uma pena ver que a Petrobrás ainda continua defendendo os gerentes que não cumprem o código de ética da empresa. No momento ainda estou tentando resolver minha situação profissional, mas que isso, recuperar o psicológico que foi completamente abalado.

Trabalhar em um projeto novo era um desafio bastante atraente, pessoas novas, crescimento e reconhecimento profissional, além da oportunidade de ajudar a empresa com meu conhecimento. Estava feliz e com o sentimento que tudo estava valendo a pena, mesmo com os sacrifícios. Mesmo com a saudade da minha família, meu sentimento era de gratidão por tudo que estava acontecendo. Como uma pessoa que trabalhou a vida inteira embarcada não serve para embarcar? Sofri perseguição, fui exposta repetidas vezes a situações humilhantes e constrangedoras.

Fui afastada dos demais e não recebi mais tarefas; até os colegas acabaram se afastando com medo de serem mal vistos pela chefia. O que me deixou mais triste” – conta Maria Luiza.

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