Benzeno: Uma história negada

Operadores e mecânicos de máquinas e motores são os trabalhadores que mais ficam expostos ao Benzeno no Brasil. A mortalidade por leucemia entre os expostos é quase o dobro da estimada na população geral. Os dados foram apresentados pelas pesquisadoras Maria Juliana Moura Corrêa e Isabele Campos Costa Amaral durante suas palestras “Prevalência da exposição ao benzeno e mortalidade por leucemia entre expostos: estimativas para o Brasil”, e “Exposição ocupacional e ambiental ao benzeno a baixas concentrações sob a perspectiva dos efeitos genotóxicos”, na tarde de terça-feira (11), no Sindipetro-RJ. As atividades fizeram parte da programação alternativa da Bancada dos Trabalhadores no 76º Encontro da Comissão Nacional Permanente do Benzeno.

Em sua tese de doutorado, que norteou as palestras, a epidemologista Maria Juliana, explicou que este foi o primeiro estudo brasileiro com estimativas de exposição para trabalhadores de diversos ramos produtivos com uso e aplicação da Matriz de Exposição FINJEM (Finnish National Job-Exposure Matrix), da Finlândia. A pesquisadora salientou que no Brasil existe uma lógica distorcida de que o trabalhador e os pesquisadores devem comprovar que existem riscos na exposição ao benzeno quando o ideal seria que os empresários tivessem que provar que o risco não existe: “Temos que combater as causas que levam a ausência das informações, precisamos construir conhecimento, formar novos pesquisadores para metodologias que busquem proteger a saúde dos trabalhadores. O ocultamento do adoecimento, da exposição e de áreas de risco, por diversos mecanismos, entre eles o sistema previdenciário que nega o nexo- causal, o isolamento no local de trabalho, a falta de notificação são alguns componentes que geram a “construção social do silêncio epidemológico do benzeno, uma história negada”. Além disso, não existem registros acessíveis aos trabalhadores e pesquisadores que permitam traçar níveis de exposição, aliados à contínua subnotificação dos casos nos sistemas oficiais.

Individualmente também é difícil o trabalhador admitir a própria doença e o longo período entre a exposição e os efeitos do benzeno, que pode chegar a 20 anos, aliado a falta de preparo para o diagnóstico de doenças do trabalho e o reconhecimento de nexo causal pelo serviço médico do INSS resultam no que a pesquisadora classifica como “nexo ideo­lógico”.

Com a falta de dados e/ou sistemas com baixa cobertura e poucos registros sobre as leucemias relacionadas à exposição ao benzeno, optou-se por utilizar dados de mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) nos quais consta a ocupação profissional. Com a base de dados do SUS e o censo, foi possível estimar as maiores taxas de mortalidade por leucemia.

Entre outros pontos, a Dra. Isabele Campos, que apresentou um trabalho sobre a contaminação dos frentistas, salientou a importância de realização periódica de exame de hemograma completo para observar mudanças nas células sanguíneas e acompanhamento da metabolização do benzeno nos trabalhadores, inclusive os que são expostos a taxas estabelecidas como dentro da normalidade. Quando absorvido pelo organismo o benzeno pode formar produtos diferenciados e aumentar a concentração de ácido transtransmucônico, substâncias químicas que modificam e causam danos no DNA, na medula óssea e alterações de mini células que podem gerar também aberrações cromossômicas.

Versão do impresso Boletim 66

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