Consciência Negra em meio aos ataques do governo Bolsonaro

Desigualdade entre brasileiros reflete o racismo estrutural e institucional

No contexto do Dia da Consciência Negra, celebrado neste 20 de novembro, a luta antirracista ganha cada vez mais visibilidade no Brasil. Aqui no Rio de Janeiro está programado um ato unificado no monumento a Zumbi dos Palmares, estátua que está localizada na Avenida Presidente Vargas Centro do Rio de Janeiro, nas proximidades da passarela do samba. O ato começa a partir de 9h e tem previsão de encerramento ao meio-dia.

 

“Estamos voltando ao busto de Zumbi que foi inaugurado nos 100 anos da abolição da escravatura no Brasil em 1988, um local que tem  uma significância para a história afrobrasileira. A imagem que em realidade representa um guerreiro do Benin, país da Africa, representa toda a luta de Zumbi, Dandara, entre outras personalidades que reafirmaram a luta pela Consciência Negra em nosso país” – explica Julio Cesar Condaque, professor de história e dirigente do Quilombo Raça e Classe e também da CSP Conlutas.
Desde a posse do atual presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019, uma série de ataques estão sendo feitos ao movimento negro no Brasil. Condaque aponta quem Bolsonaro usa para atacar o movimento.

“Sergio Camargo que é presidente da Fundação  Cultural Palmares, órgão vinculado ao Ministério da Cultura, disse que este ano não terá a celebração da Consciência Negra.  O movimento negro e toda a sua vanguarda se levantaram contra essa atitude para fazer atos em todo o Rio de Janeiro em repúdio a essas declarações e atitudes do Sergio Camargo. Um sujeito que ocupa uma cadeira em que nomes importantes como Clovis Moura, Matilde Ribeiro, Caó, ícones do movimento negro, que tiveram assento, e agora esta mesma cadeira é ocupada por um jornalista negro que não tem nenhum compromisso com a questão racial, sendo  integrante de uma ala ideológica do Bolsonaro e que vem atacando de forma sistemática a comunidade negra” – denuncia o atual ocupante da Fundação Palmares.

A programação do ato desde sexta-feira no monumento de Zumbi contará com atividades culturais e religiosas, como capoeira de Angola, jongo, bailarinas negras, grupos de maracatu, entre outros.

Racismo estrutural no Brasil
Segundo o censo do IBGE, o Brasil conta com uma população de 210 milhões de habitantes, dentre os quais 55,8% são pretos e pardos. Do total das pessoas em situação de miséria no Brasil, 75% são pretos e pardos, segundo dados do próprio IBGE de 2019. Isso mostra que os  indicadores têm correspondência nas vidas das pessoas em situação de pobreza. Seja pelas suas condições de moradia, geralmente em regiões altamente adensadas, pelo acesso aos serviços de saneamento básico ou, ainda, pelo acesso desigual ao SUS como podemos verificar no atual momento com a pandemia da COVID-19.

De acordo com dados da nota técnica Análise Socioeconômica da Taxa de Letalidade da COVID-19 no Brasil do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), do total de casos registrados entre brancos, 37,93% resultaram em óbitos e 62,07% tiveram recuperação. Já entre negros (pretos e pardos), 54,78% dos casos tiveram como desfecho óbitos e 45,22% a recuperação dos doentes. No entanto, negros sem escolaridade apresentaram uma proporção quatro vezes maior de morte do que brancos com nível superior (80,35% contra 19,65%). Além disso, negros mostraram maior proporção de óbitos, 37% em média, maior do que brancos na mesma faixa de escolaridade, enquanto, no nível superior, ocorria a maior diferença, de 50%.
“Hoje categoricamente é preciso unificar as lutas. Atualmente lidamos com o racismo estrutural que  mostra suas nuances,  por exemplo,  na questão da moradia em que existe um déficit habitacional de 70%” – cobra Júlio.

Corroborando a fala de Júlio sobre o racismo estrutural, pode-se recorrer à Pesquisa Nacional de Mostra por Domicílios (Pnad) divulgada em setembro último que detalha uma taxa de desemprego de 17,8% entre os negros, de pardos em 15,4% e 10,4% entre brancos.
“Por fim também não podemos fechar os olhos para as queimadas que afetam regiões da Amazônia e Pantanal cujas comunidades indígenas e quilombolas são afetadas diretamente” – finaliza Júlio César Condaque.

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