Dia da Visibilidade Trans: a luta contra o preconceito e todas as formas de violência

Por André Lobão

O Dia  da Visibilidade Trans foi criado em 2004, quando 27 pessoas trans foram ao Congresso Nacional, em Brasília, em uma campanha elaborada por lideranças do Movimento de Pessoas Trans, em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

Esse é o grande motivo da comemoração: a inclusão desta data no calendário oficial do nosso país para reconhecimento das pessoas trans como cidadãs com afirmação de seus direitos civis e melhores oportunidades no mercado de trabalho.

Como comemorar festivamente esta data com índices de violência de gênero tão alarmantes, principalmente assassinatos contra as pessoas trans?

O Sindipetro-RJ considera que esta data deve ser celebrada como um ato de resiliência em defesa da causa trans. Sair às ruas com cartazes em passeatas, postar em redes sociais as denúncias contra abusos e defesa de direitos são formas importantes de luta, além do fortalecimento das organizações da sociedade civil que se empenham nesta luta, compondo suas fileiras ou contribuindo de amplas formas com suas demandas.

Alice no país da transfobia

Alice Pereira é uma ex-petroleira que atuou 12 anos na Petrobrás, de onde saiu em um PIDV em 2016. Hoje atuando como cartunista e membro honorária do GT de Diversidade e Combate às Opressões do Sindipetro-RJ, fala da importância da data:

“Bem, não sei se celebração seria a palavra mais apropriada. Acho que a data é importante para lembrar das pessoas sobre a existência de pessoas trans, pois a maioria acaba relegada a guetos e a viver excluída do mercado de trabalho, educação, família e círculos sociais. É uma data para lembrar que nós existimos e que precisamos ocupar esses locais para que nossa existência seja vista com naturalidade e sem preconceitos” – criticando o preconceito existente na sociedade brasileira.

Alice ao sair da Petrobrás sofreu preconceito de ex-amigos da empresa em grupos de Whatsapp, sendo vítima de bulling virtual.

“Eu não tinha me assumido lá dentro. Uma semana depois de sair eu me assumi para alguns amigos mais próximos em um grupo de Whatsapp. A minha mensagem então foi encaminhada para vários outros grupos, e dois dias depois um amigo (que já sabia por mim) me falou que estavam rolando essas mensagens, e inclusive, anexaram fotos minhas da forma que eu estava vivendo, transicionada. Essa divulgação foi feita de forma pejorativa. Fiquei sabendo por amigos que virei motivo de fofoca geral. Gente que nem me conhecia falando de mim” – conta a cartunista.

 

A triste realidade dos assassinatos

“Infelizmente, o Brasil lidera o ranking de assassinatos motivados por transfobia – que é um tipo específico de violência de gênero dirigido exclusivamente às pessoas trans. Estima-se que em 2020 pelo menos 175 mulheres transexuais e travestis foram assassinadas no Brasil por motivação transfóbica – um aumento de 41% em relação a 2019, mesmo em época de pandemia (Fonte: Dossiê – Assassinatos e violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2020). Penso que tanto ódio dirigido às companheiras e companheiros trans se dá pelo incômodo que eles e elas causam ao status quo. Seus corpos e vozes abalam as estruturas do patriarcado, que por milênios domina nossa cultura” – analisa Charles que é também conselheiro fiscal e co-fundador (gestão 2014 – 2017) do GT de Diversidade Combate às Opressões do Sindipetro-RJ.

Casos recentes de violência e o trabalho do GT de Diversidade de Combate às Opressões

Os ataques sofridos esta semana pelas integrantes do Psol em São Paulo, a covereadora Carol Iara, que teve sua casa como alvo de tiros, e a vereadora Érika Hilton, que teve seu gabinete invadido por um homem que lhe fez ameaças, também são citados por Charles como episódios de violência contra pessoas trans.

“A única forma de superarmos tanta violência é educar as próximas gerações numa cultura de promoção da diversidade e reservar cada vez mais assentos para as pessoas trans nos espaços de poder (parlamento), movimentos sociais (sindicatos) e liderança (mundo do trabalho). Os recentes episódios de violência que acometeram as parlamentares Carol Iara e Érika Hilton não passaram desapercebidas por nós do GT de Diversidade de Combate às Opressões do Sindipetro-RJ. Por isso, nós, membros do GT, dirigimos nossa solidariedade e admiração às companheiras e companheiros trans vítimas de transfobia, em especial às parlamentares Carol e Érika” – finaliza.

Atividades no Rio

 Ainda nesta sexta, pela celebração do Dia da Visibilidade Trans, a ONG Impulse Rio vai expor na Praça da Cinelândia 25 banners com fotos de personalidades transexuais e travestis que contribuíram para construção do movimento transgênero , seja, na militância social e vida política, nas artes e cultura, educação, sociedade civil, na luta pela igualdade racial, entre outras áreas homenageadas. A ação vai fazer parte de um conjunto de atividades organizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), a partir das 17h na Assembleia Legislativa do Rio.
Também na Cinelândia o Fórum Estadual de Travestis e Transsexuais do Rio de Janeiro realiza uma concentração a partir das 17h.

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