Gestores de Merluza brincam de roleta russa com trabalhadores

Mais um caso de negligência assola uma das plataformas abrangidas pelo Sindicato dos Petroleiros do Litoral Paulista. Dessa vez, os trabalhadores da Plataforma de Merluza, localizada na Bacia de Santos, estão tendo que lidar com a política genocida dos gestores da Petrobrás que cismam em repetir o “beabá” da cartilha do governo Bolsonaro – o lucro acima da vida.

Na última segunda-feira (11), sete trabalhadores, que estavam no Aeroporto de Jacarepaguá e que iriam embarcar em Merluza, foram submetidos ao teste rápido para COVID-19. O exame é um procedimento obrigatório de pré-embarque para as plataformas em alto mar. É uma forma de triagem para evitar a propagação do vírus nas plataformas.

Os petroleiros embarcaram no helicóptero sem aguardar o resultado dos exames. Após 15 minutos de voo todos foram surpreendidos com a informação que um dos tripulantes estava infectado pelo coronavírus. Diante do quadro, o pessoal do apoio aéreo decidiu que a aeronave deveria retomar a base.  Os sete tripulantes seguiram às ordens do apoio aéreo e foram encaminhados para o hotel. O trabalhador que teve o resultado positivo foi isolado.

Já em março deste ano o Sindipetro-LP publicava uma reportagem sobre denúncias sobre exposição de trabalhadores na plataforma de Merluza

 

Petrobrás na contramão

Diferente disso, os gestores de Merluza optaram pela continuidade do voo. A gerência pautou a decisão na eficácia do teste que apresenta 25% de margem de erro.  O que o torna não muito confiável e acaba colocando a vida dos trabalhadores em risco. Isso comprova, mais uma vez que eles estão pouco se importando com o crescimento de contágio da COVID-19 nas plataformas.

A situação não para por aí. Se ontem (11), a chefia da plataforma não conseguiu que o pessoal embarcasse, hoje a realidade foi bem diferente. Na manhã desta terça-feira (12) os seis trabalhadores, que tiveram contato com o petroleiro infectado, tiveram que subir a bordo da plataforma. Isso contraria totalmente uma portaria do Ministério da Saúde cujo texto prevê que pessoas que conviveram com casos suspeitos ou confirmados do novo coronavírus devem também ser mantidas em isolamento, para evitar a propagação da doença.

Doença a bordo e POB nas alturas

Merluza hoje abriga um trabalhador com suspeita da doença e outros dois contactantes – que são indivíduos que apresentam algum risco de infecção por contato direto ou indireto com fluidos e secreções corporais do caso suspeito, provável ou confirmado de COVID-19. Todos estão isolados, mas a situação deixa a força de trabalho apreensiva já que o Departamento de Saúde se mantém calado diante do quadro. Esse absurdo já é suficiente para que ninguém subisse a bordo, mas a realidade é outra.

Enquanto todas as plataformas da Bacia de Santos estão reduzindo o efetivo, para combater a propagação da COVID-19, a Plataforma de Merluza a cada dia que passa embarca mais trabalhadores. Se engana quem acha que os petroleiros estão lá para operar e produzir. O intuito dos gestores é aumentar o pessoal a bordo (POB), com mão de obra terceirizada, para fazer manutenção da unidade e assim priorizar a venda de Merluza que está elencada no pacote de privatização da Petrobrás.

Merluza é uma plataforma pequena e atualmente conta com 36 trabalhadores embarcados, sendo que o limite máximo são 50. Para se ter ideia do tamanho reduzido da unidade, normalmente uma plataforma tem o POB de 130 pessoas. Ela se torna alvo fácil para propagação da COVID-19.

Nesse momento, a plataforma está com as atividades suspensas porque está sendo auditada pela Marinha do Brasil e pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) graças a denúncia do Sindicato divulgada através da matéria “Insegurança, assédio e negligência diante do Covid-19 na Plataforma de Merluza”.

“Cagoeta” é a nova medida para evitar o coronavirus

Se não bastasse os altos índices propagação da doença dentro das plataformas e o medo iminente de contaminação, os trabalhadores e Merluza está tendo que lidar com o um vírus pior – o assédio. Um geplat, em vias de aposentadoria, implantou um sistema absurdo de prevenir e combater a COVID-19. Ele teve a “brilhante” ideia de misturar nos camarotes petroleiros próprios e terceirizados para que um denuncie o outro ao menor sintoma da COVID-19. No melhor sistema de dedo-duro.

Em meio a uma pandemia que vitimou mais de 11 mil pessoas no país e infectou quase 500 trabalhadores de  E&P ele acha que isso funciona mais que os testes preconizados pela Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde. Não há palavras para lidar com uma situação dessas.

Fonte Sindipetro-LP

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