Leilão da ANP acontece sob protestos de petroleiros, ambientalistas e indígenas

Nesta quarta-feira foi realizada a 14ª Rodada de Licitações de Petróleo e Gás que ofertou 287 blocos de exploração, divididos em 29 setores de nove bacias sedimentares, que totalizam uma área de quase 123 mil km². Ficou claro que as empresas multinacionais não querem gastar nenhum tostão em pesquisa, exploração, querendo somente arrematar a preços vis áreas já em processo de produção.

Por mais que possa parecer surreal, a abertura do leilão foi realizada pelo Ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência do governo Michel Temer, coordenador do processo de privatizações,  acusado formalmente pela Procuradoria Geral da República por crime de organização criminosa.

A Rodada de licitação começou às 9h com a Parnaíba Gás Natural, subsidiária integral da elétrica Eneva, controlada por capital alemão, levando cinco blocos na Bacia do Parnaíba, por quase R$ 2,7 mi. Outros sete blocos da bacia não receberam ofertas.

A chinesa CNOOC e a espanhola Repsol levaram áreas marítimas na Bacia do Espírito Santo, pelos valores de R$ 23,5 mi e R$ 23 mi, respectivamente. Mais cedo, a Petrobrás arrematou um bloco, na Bacia do Paraná, por R$ 1,69mi. A área, por sinal, tendo sido a única arrematada dentre as 11 oferecidas naquela bacia.

Na Bacia de Santos, onde havia expectativa de maior interesse por parte das companhias, somente um dos 76 blocos foi arrematado pela empresa australiana Karoon, por R$ 20 mi.

Quanto à Bacia do Recôncavo, 7 dos 27 blocos foram levados pelas empresas Petroil, Guindaste Brasil, Tek e Great Energy, que pagaram a pechincha de R$ 1,94 mi.

Ficou claro que a licitação foi concluída sem cumprir totalmente seus, pois vários  blocos como o da Bacia de Pelotas não receberam nenhuma oferta. Na Bacia Potiguar apenas um bloco foi arrematado dentre os 62 ofertados, tendo a empresa Geopark Brasil como vencedora, por R$ 412,5 mil

Os lotes mais disputados foram os da Bacia de Campos. Todos os seis blocos do setor SC-AP3 foram arrematados pelo consórcio formado entre Petrobrás e Exxonmobil, sendo um deles pelo valor de R$ 2,2 bilhões.

Ao todo, 17 empresas arremataram áreas para exploração, sendo 7 delas estrangeiras.

“Tem uma mentira colocada aqui quando se chama isso que vimos hoje de processo licitatório. Basta observamos a situação de cartas marcadas ao ver que só uma empresa participou da aquisição de determinado bloco numa só proposta. O Governo corrupto de Temer escolhe o pior momento para vender o nosso petróleo e a melhor forma de entregar nossas reservas às empresas estrangeiras” – analisou para o canal de TV Telesur,  Vinicius Camargo diretor do Sindipetro-RJ.

Protesto de povos originários e petroleiros – Durante o evento, um grupo indígena, integrantes da ONG 350.ORG  e petroleiros presentes foram impedidos e agredidos pela segurança contratada pela ANP ao tentarem continuar um protesto no acesso ao auditório do Windsor Barra Hotel – Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde estava sendo realizado a 14ª Rodada de Licitações da ANP.

“Estamos diante desse leilão cuja arbitrariedade fica clara quando se realiza de portas fechadas, e sabemos que pela lei qualquer leilão deve  ser realizado de portas abertas, e não foi isso que aconteceu aqui” – disse a atriz Cássia Kiss, integrante do protesto contra a realização do leilão.

Os povos originários junto com a ONG 350.ORG denunciaram como o “Fracking”, uma forma de exploração com perfuração de rochas em  poços que usa um tipo de areia fina misturada com jato de água e pode afetar os mananciais e lençóis freáticos como afirma Kretan, integrante da tribo Kaigangue.

“Para nós é uma ameaça, tudo que se mexe na terra, principalmente, o que fica abaixo do aquífero Guarani, para nós é uma ameaça à sobrevivência para nossas gerações, de povos originários e outros povos como até o homem branco. Sabemos que as empresas petroleiras não pensam nisso, é público que o dinheiro do petróleo corrompe tudo. Basta ver o que aconteceu nos últimos anos no Brasil. Precisamos defender o nosso território brasileiro, não podemos ficar nessa situação na qual  retiram os nossos direitos, levam as nossas riquezas”  – falou Kretan que é coordenador da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin-Sul).

 

Na frente do hotel os integrantes da 350.ORG fizeram uma performance, mostrando como a indústria do  petróleo afeta a pureza da água e das pessoas.

Ainda nesta quarta (27), ocorre uma nova plenária geral unificada das categorias que organiza as atividades do dia 3 de outubro no Rio de Janeiro, Dia Nacional Luta (DNL) de Mobilizações e Paralisações em Defesa das Estatais, que vai acontecer além do Rio de Janeiro, em vários estados e cidades do Brasil.

Já os petroleiros e petroleiras já sabem que será um ano em que só a firme resistência unificada da categoria poderá manter os atuais direitos. E por isso a FNP continua a chamar a FUP à unidade e luta pela mesa única de negociações. As assembleias  vão discutir, além da proposta de acordo coletivo apresentado pela Petrobrás, a participação nas atividades do dia 3.

DNL – Além das atividades de paralisação que devem se iniciar a partir das 6 h da manhã, está previsto um ato em frente à Eletrobrás (Pres. Vargas, 409) às 11hs seguido de caminhada até a Petrobrás para novo ato em frente ao Edise, às 13h. Às 15h, a manifestação será em frente à Petros. Um ato show denuncia o desmonte do Estado e celebra as atividades de mobilização na Cinelândia a partir das 17hs.

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