Navios que viram carcaça e afundam na Baía da Guanabara: o desleixo da direção da Petrobrás com patrimônio do Brasil

Uma reportagem publicada no site “A Tribuna” denuncia o desleixo da Transpetro para com sua frota de navios. A matéria mostra a situação do petroleiro Irmã Dulce, que está atracado há anos no Estaleiro Mauá e parcialmente afundado. A popa da embarcação, do tipo Panamax, afundou e há indícios que um enorme buraco no casco proporcionou a entrada de água. Porém, a Marinha do Brasil (MB) esclareceu que a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ) tomou conhecimento do ocorrido e que o navio está adernado e derrabado no píer, não havendo registro de feridos e também não há indícios de poluição, uma vez que não havia óleo ou materiais contaminantes a bordo, segundo nota.

O navio Irmã Dulce é um dos três que faltavam para completar os 10 petroleiros do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), da Transpetro, e foi lançado ao mar em 2014 para passar por acabamentos no Estaleiro Mauá. A CPRJ enviou, na última terça-feira (05), uma Equipe de Inspeção Naval e oficiais do Grupo de Vistoria e Inspeção para prestar esclarecimentos sobre o incidente.

A Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ) informou que o estaleiro responsável pela construção do navio foi notificado a promover a reflutuação do mesmo. As causas e responsabilidades do incidente serão apuradas em Inquérito Administrativo instaurado pela Marinha.

O Irmã Dulce estava com 95% de conclusão das obras em 2018, mas os problemas que envolvem o petroleiro são antigos. O Estaleiro Mauá foi contratado pela Transpetro para o reparo da embarcação, através da empresa Eisa Petro 1. Problemas no setor naval, inclusive com demissões em massa, fizeram desse navio um elefante branco: a Eisa Petro 1 quebrou, o Estaleiro Mauá também passa por problemas financeiros e está em recuperação judicial. A Transpetro se isentou da responsabilidade pelo navio, que agora é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Segundo a reportagem do A Tribuna, a Transpetro informou que o navio não é da empresa há mais de cinco anos. Os contratos já foram rescindidos com todas as obrigações pagas desde então. Já o BNDES e o próprio Estaleiro Mauá não se manifestaram sobre o assunto.
Os navios petroleiros Panamax (referência para passar no Canal do Panamá) transportam petróleo e têm capacidade para 90,2 milhões de litros e 228 metros de comprimento. O Promef investiu R$ 11,2 bilhões na encomenda desse e de outros navios. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), o programa tem três pilares: construir navios no Brasil; alcançar índice de conteúdo nacional mínimo de 65% na primeira fase, e de 70% na segunda fase; atingir competitividade internacional, após a curva de aprendizado.
Das dez embarcações do Promef lançadas ao mar, oito já foram entregues à Transpetro: os navios de produtos Celso Furtado, Sérgio Buarque de Holanda, Rômulo Almeida e José Alencar, construídos pelo Mauá; e os Suezmax (referência para passar no Canal de Suez) João Cândido, Zumbi dos Palmares, Milton Santos e Dragão do Mar, feitos pelo Estaleiro Atlântico Sul (EAS), em Ipojuca (PE).

Em maio de 2018, o Sindipetro-RJ entrevistou um representante do Sinaval, Sergio Bacci, vice-presidente da entidade, que já dava um panorama do desleixo da direção da Petrobrás, àquela época presidida por Pedro Parente, sobre as encomendas de construção e reparos da sua frota de navios e plataformas.

“Tudo isso acaba parando na justiça, fica tudo no litigioso. Um dia, daqui a 20 anos vamos saber no que isso vai dar. Como brasileiro, não dá ao passarmos na Ponte Rio Niterói e vermos três navios daquele tamanho apodrecendo e com muitas pessoas precisando de emprego. Digo isso sem qualquer viés ideológico, não é possível jogar dinheiro fora. O que se gastou para fazer aquilo, mais de R$ 1bi. Muda o governo aí o sujeito diz: ‘não quero mais fazer navio no Brasil’. Ou esse país começa a ser sério com uma política industrial séria, mudando governo ou não, com qualquer governo mantemos os projetos industriais, ou vamos continuar nessa lenga-lenga que o Brasil é.” – disse Sérgio.

Segundo dados do Sinaval, entre 2000 e 2014, ocorreu um boom da indústria naval, em que chegaram a serem criados mais de 80 mil empregos diretos e aproximadamente 320 mil indiretos no setor. Hoje, o que sobra são carcaças que apodrecem a olhos vistos, sem que haja qualquer tipo de política governamental para tentar reverter isso. Pelo jeito, o dinheiro investido no setor da indústria naval, como também milhares de empregos adernam como os navios da Transpetro.

 

Imagem A Tribuna

 

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