O mito da Petrobrás quebrada e a meta de alavancagem de 2,5 vezes a dívida líquida sobre o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) têm servido de justificativa para que a direção da empresa intensifique o desmonte com velocidade surpreendente, vendendo ativos estratégicos por valores depreciados e dilapidando a saúde e a integração vertical da companhia. O próprio número cabalístico de 2,5 nunca foi devidamente justificado, representando um “achismo” do senhor Pedro Parente, que ultimamente tem “achado” que o melhor número seria 1,5. Por que teria chegado a tal conclusão? Certamente, prevendo que a meta será alcançada, para que se continue o desmonte. Do contrário, faltarão pretextos.

O Sindipetro-RJ afirma reiteradamente que a empresa não está e nunca esteve quebrada. Sua geração operacional de caixa e liquidez corrente a tornam uma empresa muito mais rentável que nossas concorrentes estadunidenses. Lembremos ainda que os efeitos dos investimentos no Pré-Sal serão percebidos somente depois de 2022. Nossos “prejuízos” registrados nos resultados operacionais de 2014 a 2016 devem-se aos absurdos impairments e provisões praticados pela direção da empresa, os quais não têm efeito real no caixa da companhia; são apenas exercícios contábeis. Porém, a forma como a Petrobrás vem executando estes exercícios nos últimos anos serviu muito bem para consolidar a visão de empresa quebrada. E os auditores externos não perceberam isso? Ora, se não perceberam as irregularidades do passado, certamente não percebem as do presente.

Todas as empresas que a mídia busca mostrar como tendo situação financeira melhor que a Petrobrás possuem menores reservas provadas de óleo e gás, possuindo, consequentemente, menos recursos para explorar e para pagar suas dívidas. Não à toa, as atenções estão cada vez mais focadas no Pré-Sal brasileiro, talvez uma das únicas grandes províncias petrolíferas do mundo onde não se precisa disparar um tiro para espoliar, bastando-se apenas aliciar alguns políticos lesa-pátria de plantão. Curiosamente, em 18/10, o Valor Econômico publicou que a Petrobrás não precisará alcançar a marca de US$ 21 bi em desinvestimentos para atingir a meta de alavancagem de 2,5 de acordo com estimativas da classificadora de riscos Moody’s. Segundo a agência que elevou a nota de crédito (rating) da companhia de B1 para Ba3, a redução da necessidade da venda de ativos se deve a uma melhora do fluxo de caixa e ao alongamento do vencimento das dívidas. “Nossa perspectiva é que a empresa não precisa vender tantos ativos para atingir a meta de desalavancagem. Ou com fluxo de caixa ou com venda de ativos a empresa vai continuar reduzindo sua dívida, que é seu grande problema”, afirmou Nymia Almeida, vice presidente sênior de crédito da Moody’s.

A diretoria do Sindipetro-RJ não respeita ou confia em agências classificadoras de risco, uma vez que os pareceres emitidos por elas representam apenas interesses privatistas (vide documentá- rio ‘Inside Job’ , traduzido na versão brasileira como Trabalho Interno). Porém, sabemos que esses “deuses” do mercado têm um arsenal de seguidores, os quais se baseiam no que dizem para investir ou não em uma empresa. Daí surge uma desconcertante contradição no modus operandi da direção da Petrobrás: se até os “deuses” não justificam o desmonte, qual será o novo argumento falacioso desta gestão?

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