Parceiro de Crivella é velho conhecido da Petros

A operação Hades que prendeu, nesta terça-feira(22), o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, também pegou um velho personagem quase invisível aos olhos dos participantes de fundos de pensão como o fundo Petros. No caso, o homem invisível , se assim pode ser chamado, é Adenor Gonçalves dos Santos, bispo da igreja Aliança Batista. Adenor foi presidente do Conselho de Administração do grupo Galilleo Educacional, gestora da Universidade Gama Filho e  Centro Universitário da Cidade ( UniverCidade).

Em janeiro de 2014, duas semanas após o MEC descredenciar a Gama Filho e a UniverCidade por suposta baixa qualidade acadêmica, a direção da Galileo  Educacional entrou com um processo, para anular uma operação de debêntures no valor de R$ 100 milhões. Na ocasião, os investidores – fundos de pensão Postalis (dos Correios) e Petros (da Petrobras) – tiveram como garantia as mensalidades dos estudantes de Medicina da UGF.

Em junho de 2016, o Ministerio Público Federal (MPF) deflagrou a operação “Recomeço”, com a Polícia Federal, para prender empresários ligados à mantenedora, à UniverCidade e à UGF por supostos desvios de recursos que causaram prejuízos de quase R$ 90 milhões aos dois fundos de pensão. O prejuízo da Petros no negócio foi de R$22 milhões.

Conselheiros eleitos da Petros denunciaram a situação

Essa e outras operações foram objeto da denúncia do Conselho Fiscal da Petros após tomar conhecimento do resultado da auditoria em 70 investimentos do fundo realizada pela empresa Ernst & Young (E&Y), que foi solicitada pelo Conselho Deliberativo da Fundação por proposição dos conselheiros eleitos Silvio Sinedino e Paulo Brandão.

Ao acessar o relatório da E&Y e a resposta da Petros, Ronaldo Tedesco, que era o presidente do Conselho Fiscal na época, solicitou reunião conjunta entre o Conselho Deliberativo, o Conselho Fiscal, a Diretoria Executiva da Fundação e a empresa E&Y para uma aferição entre os apontamentos do relatório de auditoria e as respostas fornecidas pela Petros. Em sua resposta à auditoria realizada, a Diretoria Executiva argumentava que os apontamentos da E&Y extrapolaram o que havia sido solicitado no escopo da auditoria.

Segundo o MPF, o esquema se deu com a emissão de Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI), tendo o grupo Galileo dado como garantia um terreno sobrevalorizado em Guaratiba na Zona Oeste do Rio. As investigações mostraram que o esquema envolvia investimentos ligados aos fundos de pensão e várias empresas ligadas a Adenor Gonçalves dos Santos.
O MPF apurou que o terreno dado como garantia foi avaliado em 2011 em R$5,47 milhões ; já em 2013 o valor chegava a R$ 464, 29 milhões, uma valorização de quase 100 vezes em pouco mais de dois anos.
Adenor, através de suas empresas de consultoria, assessoria jurídica e financeira,  embolsou no negócio um total de R$ 26, 26 milhões, segundo o MPF.

Fundo de pensão Previ-Rio: a bola da vez

Mas voltando a operação Hades, as investigações apuraram que o pastor Adenor participava de um esquema de fraudes e pagamentos de propina na contratação do grupo Assim Saúde (operadora de plano de saúde) pelo Previ-Rio. Adenor participava de encontros para renovações de contratos, diz ainda o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, com base no relato de João Carlos Gonçalves Regado, presidente do grupo Assim.
O MPRJ disse que o valor arrecadado no esquema de Crivella chega a R$ 50 milhões.

Ligações com Ronald Levinsohn

O pastor Adenor ascendeu o comando do grupo Galilei Educacional em 2012, tendo como padrinho Ronald Levinsohn, empresário dono do grupo Delfim que protagonizou um do mais rumorosos escândalos financeiros dos anos 1980, em plena ditadura militar. O grupo Delfin era dono da maior caderneta de poupança do país, com 3,5 milhões de depositantes que ficaram a ver navios. Anos depois Levinsohn se meteu no ramo da educação universitária  Por conta disso, o pastor Adenor sempre levou fama de ser “laranja” de Ronald Levinsohn que faleceu em janeiro de 2020.
O fato é que mesmo sem seu padrinho por perto, o pastor Adenor segue envolvido com suspeitas em fraudes e,pelo jeito, fundos de pensão são o seu alvo predileto.

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