Perseguição e assédio contra Moara: desconstruindo a tese da direção da Petrobrás

Na última quarta-feira (25), após os atos contra a censura e perseguição  à petroleira Moara Zanetti, diretora do Sindipetro-RJ lotada em um dos RH da Petrobrás, foi realizada à noite uma reunião com o substituto do gerente executivo de RH, que se encontra de férias. A petroleira está tendo sua atuação como dirigente sindical enquadrada pela empresa como uma situação de conflito de interesse e, por isso, buscam transferi-la forçadamente para outro setor , apesar de afirmarem em ofício que  buscam uma solução “negociada” para o “problema”.

A empresa sinaliza em seu oficio de resposta ao Sindipetro e entregue durante a reunião à entidade que “É preciso destacar que, para aqueles que não conhecem e reconhecem a atuação isenta da empregada, o vídeo mostra uma empregada lotada no RH criticando duramente a Política de Recursos Humanos da Petrobrás, aprovada pelo Conselho de Administração da Companhia (…)”. E prosseguem “Portanto, a ação de afastar a empregada de assuntos que potencialmente colidem com sua atuação como dirigente sindical tem como objetivo preserva-lhe a autonomia e liberdade e expressão, em conformidade com os itens 4.4.1, 4.8.1 e 4.8.2 do Guia de Condutas do Sistema Petrobrás” – justifica falaciosamente a direção da empresa em trechos de ofício entregue ao Sindicato na reunião.

O Sindipetro-RJ reforça e sustenta que a tese de ‘Conflito de Interesse’ ocorre quando alguém trabalha para uma empresa com objetivos claros de favorecimento próprio e a fim de obter informações para ganhos financeiros pessoais ou para terceiros. Definitivamente, este não é o caso de Moara e do Sindipetro-RJ, pois ambos são representantes legais e constituídos na defesa da categoria petroleira, não sendo portando uma questão de interesse individual e sim de interesse coletivo.

Alem disso, segundo o próprio Código de Ética da companhia esses interesses não deveriam ser considerados conflitantes, pelo menos não em absoluto, ja que, segundo o item 2.6 é importante “buscar a permanente conciliação de interesses e realização de direitos, por meio de canais institucionais de negociação, no seu relacionamento com as entidades sindicais representativas dos empregados”.

O fato é que em seu próprio ofício, a empresa admite que Moara Zanetti não descumpriu o Código de Ética. Apenas fez um depoimento em vídeo criticando o PCR, uma nova política de RH que visa preparar terreno para a “privatização total” da Petrobrás.

A direção aponta, na verdade, um conflito em potencial, já que a petroleira simplesmente tem acesso a informações de RH e, algumas, de confidencialidade em sua área (NP3). Parece que para a companhia, dirigente sindical tem que ser obrigatoriamente liberado, já que qualquer funcionário que exerça suas funções com empenho e responsabilidade terá acesso a informações diversas confidenciais de sua área de atuação profissional. Então pode ser diretor de sindicato, mas não pode trabalhar? A Companhia inclusive sugere isso em seu oficio resposta, que a outra alternativa é a dirigente pegar uma liberação sindical, mesmo a profissional querendo trabalhar. O encaminhamento dado pela direção da Petrobrás acaba por impedir que empregados de qualquer setor tenham atuação sindical. Todos têm informações criticas, a exemplo: Jurídico, Conformidade, Ouvidoria, Comunicação, SBS, etc, etc, etc.

O real ‘Conflito de Interesse’

Total ‘Conflito de Interesse’, claro e nítido, ocorre quando a Petrobrás tinha e tem em seu Conselho de Administração ou em sua diretoria pessoas indicadas pelo atual governo que foram ou são ligadas publicamente à empresas concorrentes da própria Petrobrás.

Como empregada do RH, e assistente social, Moara assessora gerentes, realiza trabalhos de desenvolvimento gerencial e de equipes. Afirma que “acredita numa gestão mais saudável e na transparência”, valores estes que também aparecem como preocupação para a empresa. Essa sua crença a move tanto no Sindicato como no trabalho, com a clareza, no entanto, das características diferentes de cada atividade e instituição e do seu papel como profissional em um e como  militante no outro, dentre eles a questão  do sigilo no exercício profissional.

“Milito em diversos movimentos sociais há cerca de 20 anos. A militância tem um lugar importante na minha vida.  Meu trabalho também. Sei separar bem e esses papéis  e cresço profissionalmente e pessoalmente a cada dia. Sempre achei que era possível conciliar minha atuação no sindicato, buscando sempre separar bem esses dois âmbitos. Entendo que foi uma oportunidade de crescimento essa busca de maturidade para separar os dois âmbitos. Mas é preciso maturidade dos dois lados. De minha parte sim. Mas é preciso da gestão da empresa também. Estar no RH não é, de forma alguma, com a militância sindical” – esclarece Moara.

O conflito e a contradição acabam ocorrendo por parte da empresa quando a própria Petrobrás não respeita seu Código de Ética, nos itens 2.5 “reconhecer o direito de livre associação de seus empregados, respeitar e valorizar sua participação em sindicatos e não praticar qualquer tipo de discriminação negativa com relação a seus empregados sindicalizados” e 2.8 ” respeitar e promover a diversidade e combater todas as formas de preconceito e discriminação, por meio de política transparente de admissão, treinamento, promoção na carreira, ascensão a cargos e demissão. Nenhum empregado ou potencial empregado receberá tratamento discriminatório em consequência de sua raça, cor de pele, origem étnica, nacionalidade, posição social, idade, religião, gênero, orientação sexual, estética pessoal, condição física, mental ou psíquica, estado civil, opinião, convicção política, ou qualquer outro fator de diferenciação individual ” – versa.

Ao invés de criar problemas que não existem, a direção da empresa deveria se opor firmemente à privatização fatiada da companhia, à degradação das relações no ambiente de trabalho e garantir o Cumprimento do Código de Ética e valorizar e estimular os processos democráticos na Companhia e com seus interlocutores.

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