Petrobrás: desempenho operacional incomparável não esconde manipulação no balanço

Direção da Petrobrás apresenta no 4º trimestre um lucro líquido recorde de R$ 59,9 bilhões e reverte as expectativas, de um prejuízo em 2020, para um lucro líquido de R$ 7,1 bilhões

Apesar da empresa ter surpreendido o mercado, superando as expectativas dos analistas, um olhar mais atento ao balanço revela que o lucro líquido foi proveniente de entreguismo, de erro de planejamento frente à pandemia e de ataques aos seus trabalhadores ativos e aposentados com omissões de suas responsabilidades/compromissos perante os mesmos.

O que fica claro é que se não fossem as vendas de ativos e desinvestimentos, os reajustes abusivos das contribuições dos trabalhadores no custeio da AMS, o não reconhecimento de passivos do déficit da Petros, que são de exclusiva responsabilidade da Petrobrás e a reversão de parte do impairment que foi executado contra o balanço do 1º trimestre/2020 (aprofundando o prejuízo líquido do período de R$ 4 bilhões para R$ 48 bilhões), o resultado global de 2020 seria totalmente diferente. Agora, para justificar o pagamento de dividendos ao mercado, garantir os ganhos de seus acionistas estrangeiros, vale passar a tinta sobre a realidade e apresentar abusos como ganhos. Não é de hoje que as sucessivas direções da Petrobrás fazem malabarismos contábeis para mostrar que a empresa está “quase falindo” ou “totalmente recuperada dos erros do passado”, ao sabor dos interesses do governo de ocasião.

Decorrente de tudo isto, do impairment do início do ano que impôs uma perspectiva de caos, vemos uma política adotada para amedrontar boa parte dos trabalhadores e fortalecer o assédio para adesão ao PIDV, para justificar o absurdo e ilegal “ Plano de Resiliência”, combinado com o verdadeiro ataque contra os direitos dos trabalhadores, se apoiando na ameaça de morte na pandemia e na incerteza e riscos a que todos os empregados foram submetidos. Seja pela mudança abrupta e desconhecida para o teletrabalho, seja na exposição concreta aos surtos de COVID-19 que foram constatados nas plataformas, refinarias e terminais com adoecimentos e mortes. Assim como, neste momento, os trabalhadores da P-74 e P-75 vivenciam adoecimentos e testemunham a morte de uma colega de 35 anos.

Os desinvestimentos e privatizações

O informe distribuído pela direção da Petrobrás dá conta que durante o ano de 2020 foram realizadas 13 fechamentos de operações, totalizando um valor de US$ 4,17 bilhões (R$ 22,76 bilhões), com uma entrada no caixa de US$ 2,2 bilhões (R$ 12 bilhões). O relatório ainda diz que outros 11 contratos aguardam o fechamento, somando outros US$ 900 milhões (R$ 4,90 bilhões) que estão na fila para entrar no caixa. Ainda na previsão de entrada constam a bagatela dos US$ 1,65 bilhões (R$ 9 bilhões) da venda (quase simbólica) da RLAM.

Assim, a direção da empresa dilapida o patrimônio do Brasil, para encher os bolsos de seus acionistas e também de seus executivos com bônus a serem pagos com o programa de desinvestimentos, um dos indicadores do PPP (Programa de Prêmio por Performance), que aliás está sendo denunciado pela mídia liberal como uma farra dos chefões da Petrobrás, pelo desmonte da empresa, que em realidade ganhou a alcunha de “Pagamento de Propina pela Privatização”.

Tira dinheiro da AMS para dar ao mercado financeiro

Os aumentos abusivos nas contribuições do plano de saúde, que têm por objetivo, excluir participantes e os colocar num beco sem saída, de forma a fazê-los clamar para que se crie uma “alternativa” de um plano de saúde muito pior e pouco mais barato, apresentou mais explicitamente seus danosos resultados: retirou o equivalente a R$ 13,1billhões, em compromissos da Petrobrás com os trabalhadores e os repassou para os acionistas. Sim, sua saúde, car@ petroleir@ da ativa e aposentad@, está indo parar nos bolsos dos acionistas, enquanto vocês sofrem com descontos abusivos cobrados a título de saldo devedor.

Concretamente, ativos e aposentados, que deveriam ser premiados pelos resultados da empresa em plena pandemia, já sofreram, até mais do que o imposto pela derrota na negociação do ACT, que foram os descontos abusivos e ilegais em janeiro/2021, que, posteriormente, a direção da Petrobrás reverteu parte dos descontos, mas não dos danos.

Depois dos PEDs, dos reajustes abusivos das contribuições da AMS, da não reposição da inflação nos ACTs, dos descontos abusivos de janeiro/2021, o balanço da Petrobrás revela a escala bilionária de retirada de direitos de saúde (AMS) dos trabalhadores.

Todas as imposições do ACT, sob a grave ameaça de morte pela COVID-19, encaminham ativos e aposentados à legítima defesa de suas próprias vidas e de suas famílias perante as direções tanto da Petrobrás quanto do governo Bolsonaro.

Cabe a todos os petroleiros abraçar a luta pela redução dos preços dos combustíveis, para acabar com este abuso contra toda a população e derrotar a hierarquia que se beneficia com o PPP, o roubo contra a Petros, a desobrigação da Petrobrás perante os investimentos na AMS, o dilapidar do patrimônio da empresa nas vendas de ativos e com a demissão, incentivada ou não, de milhares de trabalhadores próprios e contratados.

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