As ações de investigação iniciadas a partir da Operação Greenfield em setembro de 2016 revelam o verdadeiro saque que os fundos de pensão no Brasil sofreram. Fundos dos petroleiros (Petros), Correios (Postalis), e de trabalhadores do SERPRO ( Serpos), entre outros, foram ao longo dos anos drenados por apostas no mercado especulativo financeiro.
Recursos pertencentes a essas categorias foram desviados com a justificativa de ganhos imediatos com investimento em empresas iniciantes. Isso explica, por exemplo, como é constituído parte do déficit da Petros que agora petroleiros ativos e inativos têm que pagar com a implementação do Equacionamento de R$ 27,7 bi.
São histórias dignas de filmes que abordaram as tramoias especulativas como ‘O Lobo de Wall Street’ e ‘Margin Call’, os quais mostram como os picaretas do mercado financeiro enganavam e obtinham ganhos com o dinheiro dos outros. Nesta reportagem vamos citar o caso da empresa Gradiente, de propriedade do falido empresário paulista Eugênio Staub.
Segundo a força tarefa da Operação Greenfield a Petros “enterrou” mais de R$ 17 mi no FIP (Fundo de Investimentos e Participações) Enseada, sob consultoria do Bradesco Asset Management , sem observar os deveres de diligência e princípio de rentabilidade, segurança e liquidez, não obedecendo pareceres técnicos.
O FIP Enseada foi criado em março de 2010 para direcionar seus investimentos para a CBTD (Companhia Brasileira de Tecnologia Digital) esta, por sua vez, com os recursos obtidos do fundo Enseada comprou a IGB Eletrônica, antiga marca Gradiente, e assumiu todos os seus passivos trabalhistas e tributários. Para garantir liquidez no primeiro período da operação a IGB precisaria de R$ 50 mi. Esse dinheiro apareceu oriundo dos investimentos do FIP Enseada financiados além da Petros, pelo FUNCEF, o fundo de pensão dos trabalhadores da Caixa Econômica Federal que fez um aporte de R$ 17,4 mi.
O ex-diretor da Petros, Humberto Pires Grault Viana de Lima foi preso na 1ª fase da Operação Greenfield em setembro de 2016. Ele também foi gestor do FUNCEF, além de ter sido nomeado em 2013 o principal executivo do Fundo dos Servidores Públicos Federais, o Funpresp. Daí pode ser explicado o direcionamento dos investimentos da Petros e FUNCEF no FIP Enseada. Anteriormente, a esse negócio, a CBTD já apresentava uma situação crítica, registrando prejuízos de R$ 4 mi (2010) e R$ 31 mi (2011). Na denúncia, os procuradores da força tarefa deixaram claro que o negócio envolvendo recursos da Petros e FUNCEF não poderia apresentar taxas de retorno apontada pelo Enseada sobre a CBTD.
“A única explicação lógica para a realização deste investimento é a de que este foi aprovado em decorrência da vontade de beneficiar indevidamente, com o capital dos participantes dos fundos de pensão, os então controladores e credores da falida Gradiente” – diz trecho do documento da denúncia.
Nessa história toda, fica claro o conflito de interesses, senão vejamos: a CBTD ainda tem um passivo de R$ 683,6 milhões. Na esfera judicial, um recurso da Gradiente tenta reverter a decisão que extinguiu o seu plano de recuperação. Mas o impasse abriu uma janela para os credores tentarem executar os débitos antigos. A lista dos processos é liderada pelo Bradesco, com um saldo em aberto de R$ 228 milhões. Ora, a Bradesco Asset Management faz parte da holding do grupo Bradesco, o que configura um claro conflito de interesse que envolve o maior banco privado do país.
O integrante do conselho deliberativo da Petros, Ronaldo Tedesco, há tempos denuncia os investimentos sem análise de riscos feitos pelas direções da Petros.
“Esse ativo (Gradiente) está entre os 70 investimentos que a gente denunciou à Previc e ao Ministério Público que levaram a uma perda e R$2 bi. Todos as mesmas características de investimentos feitos sem análise de risco e cujas garantias eram insuficientes ou não poderiam ser exercidas” – disse.
Versão do impresso Boletim 67
