Transpetro cuida dos gestores irresponsáveis: mas quem paga o pato é o outro

Transpetro pune dirigente sindical após investigação de acidente de trabalho com terceirizado

Durante manutenção preventiva de um dado transformador no TEBIG (Terminal de Ilha Grande – Angra dos Reis), um petroleiro contratado sofreu lesões e queimaduras na mão esquerda e abdômen, aparentemente após ter sido atingido por um arco voltaico, enquanto verificava anomalias neste equipamento. O acidente foi consequência das históricas irresponsabilidades dos gestores do terminal, mas quem pagou o pato foi a vítima e um técnico de manutenção; e por coincidência (?), o diretor sindical, Nilson Miranda, também membro da CIPA. Nilson, que participou da liberação do serviço, sofre represália e clara perseguição política, pois o Sindipetro-RJ participou da investigação do acidente em que foram apontadas falhas de gestão. Nosso diretor foi punido com dois dias de suspensão.

Entenda o caso…

Após a investigação do acidente, constataram-se as seguintes causas principais:

1- Mudança do projeto original do sistema.

1.1 – Não foi realizada a devida “Gestão de Mudança” onde deveria ser registrada e autorizada a alteração na configuração do sistema. Essa ausência de atenção às mudanças deveria ser item de alerta no relatório da Comissão.

2 – O transformador representava uma condição de risco, seja pela forma de acesso ao ponto, seja pela condição de aterramento.

2.1 – O LIBRA foi concebido para se trabalhar em um transformador com “caixa de ligações” que permitiria o acesso às conexões sem possibilidade de se trabalhar próximo às partes energizadas. O transformador é um dos exemplos da obsolescência do terminal, onde o acesso às suas conexões, por parte da equipe de manutenção, é dificultado.

3 – A redução do efetivo compromete a segurança das pessoas e operações. No caso dos terceirizados, ainda mais se os trabalhadores são remunerados por entregáveis. A pressão por serviço é forte e condiciona a remuneração.

3.1 – Destaca-se uma redução ou pelo menos um desvio claro das atividades dos técnicos de elétrica, próprios, da TRANSPETRO. Em uma equipe de quatro Técnicos de Elétrica, dois estão com suas atividades voltadas para a programação de serviços, que é basicamente programar as Ordens de Manutenção no SAP. Um técnico de elétrica faz a programação de serviços para ELÉTRICA, INSTRUMENTAÇÃO e AUTOMAÇÃO, o outro técnico de elétrica programa serviços (SAP) para MECÂNICA, CALDEIRARIA, PINTURA e MANUTENÇÃO COMPLEMENTAR. Com estes técnicos fazendo atividades que não são na área de eletricidade, um profissional acumula as funções de Elaborar as Análises de Risco, Elaborar Matriz LIBRA, Emitir a PT na área e ser o RI, ou seja, quem confere se o LIBRA foi aplicado e ainda ser o “FISCAL” da elétrica.

A informação de que um técnico executou várias etapas do processo, sem a devida alternância de responsabilidades, não consta no relatório da Comissão, mesmo tendo sido citada por ele em sua entrevista. Isto caracteriza uma falha no processo e por consequência no sistema de gestão.

4 – As condições estruturais da Unidade, envelhecimento dos recursos e manutenção preventiva/corretiva insuficientes.

4.1 – O sistema elétrico do TEBIG se encontra em estágio avançado de obsolescência. Esse estágio de obsolescência já é de conhecimento dos níveis gerenciais mais elevados da TRANSPETRO e estão registrados em vários relatórios e pedidos de modernização do sistema elétrico, tanto é que se encontra em andamento um projeto de “REVAMP ELÉTRICA” que tem por finalidade justamente a “modernização” do sistema e principalmente a adequação das instalações elétricas do terminal às normas de segurança, sobretudo este projeto busca a adequação à NR-10.

4.2 – Necessidade de revisão da periodicidade dos planos de manutenção do sistema elétrico industrial do terminal, devido ao seu grau elevado de degradação.

5 – Ausência de treinamento/reciclagem com base em modificações recentes no padrão LIBRA Ficou evidenciado que não houve treinamento contemplando as mudanças ocorridas em 03/01/2019, no padrão de Bloqueio LIBRA (PE —0TP-00125-C). O fato de não ter ocorrido treinamento no novo padrão LIBRA pode ser comprovado na ata de reunião ordinária da CIPA do Terminal Aquaviário de Angra dos Reis (CIPA-TEBIG) realizada em 21/05/2019, onde consta o pedido para que a CIPA seja informada e acompanhe a evolução dos treinamentos realizados para todos os empregados da área operacional. Vale ressaltar que as referidas mudanças ocorridas no padrão tratam de pontos sensíveis e que dão margens para múltiplas interpretações no que se refere à aplicação ou não de bloqueio LIBRA em equipamentos elétricos dentro de subestações. Além desta ausência do treinamento no padrão do LIBRA, a gestão do TEBIG parece desconhecer ou não cumpre o padrão PE-0TP- -00227-B, com o título de VERIFICAÇÃO DE CONFORMIDADES COM PADRÕES (VCP), que tem como objetivo verificar se o padrão no qual o usuário foi treinado está sendo aplicado corretamente. A sistemática da VCP se aplica, ou deveria ser aplicada em padrões críticos como o do LIBRA. Se no relatório da comissão de investigação do acidente consta a informação de que o padrão LIBRA foi “descumprido” pelo usuário, por outro lado, não consta a informação de que o referido padrão não foi considerado pela gestão como um padrão crítico no qual deveria ser aplicada a VCP.

O Sindipetro-RJ participou ativamente da Comissão de Investigação instituída para analisar o ocorrido, no entanto, a forma superficial, embora “técnica”, adotada na condução dos trabalhos da Comissão não é legitimada por nossa direção. Acidentes e incidentes devem nos mostrar o que precisa ser corrigido e gerar condições de aprendizado corporativo para que ninguém precise pagar com a saúde ou a própria vida por causa do abandono ao qual nossas unidades operacionais, o centro de pesquisas e os prédios administrativos há muito foram desprezados. Porém, não é este o entendimento de muitos gestores e de seus “prepostos”; assim foi no TEBIG. O diretor Nilson Miranda, técnico do terminal, foi punido pelos erros das sucessivas gestões, e recebeu suspensão do trabalho por dois dias!

Chega de perseguição!

Por estas e outras destacamos: a direção da Petrobras está muito interessada em “cuidar do outro”, mas só quando esse outro é um CEO da concorrência, precisando de uma forcinha para conquistar mercado no Brasil.

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