E cessaram as práticas assediadoras cometidas contra trabalhadoras em Angola… Como?
Em 08/05/2019, o Boletim 120 do Sindipetro-RJ trouxe um artigo intitulado “Dia internacional de combate ao assédio moral, um olhar sobre o Sistema Petrobrás”, disponível no link https://www.sindipetro.org.br/boletim-120/ . Neste artigo, Igor Mendes (Coordenador do Departamento Jurídico do Sindipetro-RJ) e Karina de Mendonça Lima (Advogada que integra a Assessoria Jurídica do sindicato) abordaram questões relevantes acerca do assédio moral sofrido por trabalhadores do Sistema Petrobrás, identificando suas principais formas de ocorrência, as consequências destas práticas para a saúde mental das pessoas (ansiedade, baixa estima, depressão, distúrbios psicossomáticos, entre outros) e, sobretudo, orientaram os trabalhadores quanto às primeiras medidas a serem adotadas como forma de combate ao assédio moral.
O artigo mencionado viajou para além do Brasil e aportou em Angola. Suas orientações viraram ações e fizeram com que palavras duras, antes levadas pelo vento da indiferença e impunidade, fossem agora conduzidas por um vento raro, e de força ainda relativamente desconhecida, denominado “mobilização consciente de trabalhadores”. Um grupo de trabalhadores de Angola, que distribuiu o referido artigo a outros colegas, incluindo mulheres vítimas de assédio moral pelo mesmo gerente, seguiram as orientações e durante cinco dias gravaram as humilhações impostas pelo malfadado gerente, conversaram com colegas de trabalho que presenciavam estas humilhações e também gravaram tais conversas, imprimiram os e-mails em que as condutas assediadoras eram perceptíveis, orientaram outras trabalhadoras do mesmo setor a fazerem o mesmo e, conjuntamente, levaram todas as evidências à ouvidoria da empresa e ao gerente geral. Resultado: o assédio moral por elas sofrido durante anos se encerrou e o gerente foi transferido de setor.
Lamentamos que o mesmo não tenha sido demitido, tampouco avaliamos que exista razão para acreditar que a hierarquia tenha agi – do por outro motivo senão pelas consequências que poderiam advir da correlação de forças gera – da pela ação consciente das trabalhadoras, provavelmente mensuradas pela ouvidoria. Porém, não podemos desconsiderar que dentro das limitações existentes, a punição de um gerente assediador com a perda da gerência e a transferência de setor é algo positivo e menos frustrante que a impunidade acobertada pelo corporativismo, algo que conhecemos bem no Sistema Petrobrás. Este fato chegou ao nosso conhecimento através do relato das próprias trabalhadoras, o qual tinha por finalidade nos agradecer pelas orientações prestadas. Contudo, recebemos como bem mais que um agradecimento, mas como a confirmação de que estamos no caminho certo: a informação é a melhor forma de se combater o assédio e a ação, sobretudo coletiva, é a única forma de erradicá-lo, ainda que setorialmente.
Neste Janeiro Branco resgatamos o artigo aludido e relatamos o ocorrido para reafirmamos que o assédio moral é, atualmente, a principal causa de adoecimento mental da classe trabalhadora. E, como a experiência demonstra, em se tratando de assédio moral, é bom que o vento leve estas palavras e que sejamos todos nós um sopro contínuo de conscientização e ação.
Versão do impresso Boletim 182