O projeto de privatização fatiada da Petrobrás – que vem sendo implantado e foi defendido abertamente na quinta feira (7) por Armínio Fraga em entrevista ao O Globo – já vem mostrando suas consequências sociais. O aumento dos preços do gás e da gasolina, disparados de acordo com as novas políticas de preços da Petrobras para esses insumos, já impacta diretamente na economia doméstica, especialmente em um mo-mento de crescimento do desemprego e do subemprego. Alinhados às variações dos preços dos combustíveis no mercado internacional, os valores do diesel e da gasolina têm sofrido reajustes frequentes praticados nas refinarias. Tudo em nome da estratégia de Pedro Parente para recuperar mercado, em virtude do aumento das importações de combustíveis por parte de terceiros, quando os preços no país passaram a superar os do mercado externo.
Em julho deste ano, o aumento dos preços da gasolina já era recorde: “Gasolina pode ter maior alta em 13 anos com aumento de tributação”, anunciou a Folha em 22 de julho. Na ocasião a ANP (Agência Nacional do Petróleo) informou que era a maior alta desde 2004. Até o momento a alta já chegou a 21,1%, bem mais do que a inflação oficial.
Apesar de tudo isso, no fechamento do balanço de 2016 a queda na receita da Petrobrás foi atribuída à perda de mercado para importadores independentes. E ainda hoje a fatia de mercado perdida ainda não foi recuperada, a ociosidade das refinarias é sem paralelo na história da Companhia e as exportações de óleo cru só aumentam. Ou seja, a empresa se apequena enquanto a população sofre pressionada com a alta de preços dos combustíveis. Enquanto isso, Ipiranga (Grupo Ultra) e Shell (Raizen) comemoraram o aumento nos lucros e na geração de caixa graças à “forcinha” dada pela direção da Petrobras.
No início de dezembro, a Petrobrás anunciou mais uma subida dos preços cobrados das distribuidoras do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) para uso residencial. Com isso o botijão já acumula alta de 54% este ano. O aumento anunciado na primeira semana de dezembro vai impactar diretamente na inflação do mês. O GLP tem sido submetido também a uma nova política de preços, aprovada em junho deste ano, como consequência da venda da Liquigás, a qual ainda se encontra em discussão no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). A vinculação dos preços nacionais aos internacionais concretiza uma incoerência: a dona de casa no Brasil vai sofrer com o aumento do gás devido ao aumento da demanda no inverno europeu.
Todos estes fatores que culminam com a alta dos preços são reflexos da política de desestruturação e privatização do Sistema Petrobrás. Agora o único objetivo da empresa é gerar lucro, em bases não sustentáveis, para os acionistas e enriquecer o caixa das concorrentes, independente de a empresa produzir bens essenciais para a sociedade.
Da mesma forma, a privatização da Eletrobrás, já anunciada pelo governo federal, irá aumentar os preços da energia elétrica, sacrificando ainda mais a população. O presidente da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Romeu Rufino, disse em entrevista ao
O Globo que o modelo de privatização escolhido pelo governo irá aumentar muito as tarifas, pois a energia produzida pelas usinas passará a ser vendida pelo preço mais alto (a chamada descotização). Na Argentina, por exemplo, a privatização do setor elétrico gerou aumentos de até 700% na conta de luz.
O que era uma vantagem competitiva do Brasil, ter um parque hidrelétrico já amortizado e, por isso, poder oferecer energia barata, será entregue por alguns tostões a grupos empresariais internacionais e nacionais que se apropriarão dessa vantagem a revertendo em lucro e remessas ao exterior.