Por Antony Devalle
27 de julho: Dia Nacional de Prevenção aos Acidentes de Trabalho. Uma das datas do calendário da luta por segurança e saúde da trabalhadora e do trabalhador, que se soma, entre outras, ao 28 de abril (Dia Mundial em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças de Trabalho) e ao 1º de maio (Dia Internacional das Trabalhadoras e dos Trabalhadores). Datas que muito valorizamos neste ano e ao longo dos demais, no contexto petroleiro em geral, e da Usina Termelétrica Barbosa Lima Sobrinho/Baixada Fluminense (UTE-BLS/BF), especificamente (e de maneira relacionada com a Petrobras como um todo). O fio condutor da nossa campanha permanente é a luta pelo mais básico dos direitos: o direito de ir e voltar do trabalho vivo e com saúde. Um direito básico, mas muito desrespeitado por um grande número de patrões e seus prepostos. No caso da UTE, a lógica do lucro acima da vida acarretou, há 5 anos, a morte precoce do operador Rodrigo Antônio de Oliveira, em decorrência de ter tido mais de 70% do corpo queimado num acidente numa caldeira, que poderia ter sido evitado se o direito básico de ir e vir com saúde e segurança entre casa e trabalho fosse verdadeiramente respeitado.
De 2015 para cá, a quantidade de operadores na usina, principalmente aqueles trabalhando efetivamente na operação (e, dentre esses, daqueles atuando mais diretamente na área industrial), vem diminuindo. Muitos operadores se queixam há tempos, como temos repercutido (como em https://cutt.ly/usCdLAf), de que não é incomum ficarem apenas dois ou mesmo um operador num turno numa das duas usinas que compõem a UTE-BLS/BF. Para piorar, além de diversos problemas que já abordamos em outros textos sobre esse tema, pelo menos parte dos operadores está sendo cobrada, inclusive nos seus GDs, de operar as duas usinas (BLS e BF) e/ou treinar outros operadores na operação de uma delas, o que significa mais trabalho. Qualquer trabalho a mais num cenário de redução de efetivo é, no nosso ponto de vista, um fator de risco. E treinar bem alguém para operar uma usina exige muita responsabilidade, que, por sua vez, demanda tempo. Um dificultador é que hoje, após o número de supervisores ter sido reduzido de dez para cinco, nem todos estes supervisores operam nas duas usinas. Nossa ressalva quanto à redução do número de supervisores se deve ao fato de que desconhecemos os critérios utilizados para tomar essa decisão e para definir os que se mantiveram na função.
E mesmo o número de cinco operadores por turno, apresentado pela hierarquia da empresa como o previsto no arquétipo da usina (como a hierarquia chama a quantidade supostamente necessária de empregados para cada setor), é, na avaliação do Sindicato e de muitos trabalhadores, insuficiente em termos de segurança. O problema se acentua com a saída de operadores por meio de Planos de Demissão “Voluntária” (as aspas são porque a hierarquia privatista da Petrobras, uma parte vinda da Vale privatizada, tem utilizado diversos tipos de violência psicológica contra muitos trabalhadores, que, com medo de serem demitidos e não suportando mais o ambiente tóxico na
empresa, acabam optando por saírem antes do que planejavam).
A hierarquia da empresa nunca buscou o Sindicato para participar de uma avaliação da quantidade de empregados necessários para cada atividade em cada setor. Nunca sequer consultou os trabalhadores. Nem ao menos apresentou propriamente o estudo supostamente feito para chegar aos números (na maioria dos casos, escondidos) do Planejamento da Força de Trabalho (Plafort), de onde, pelo que entendemos, deriva a definição do chamado arquétipo das áreas operacionais. A lógica que preside o Plafort está voltada pra criar uma capa supostamente técnica (dentro do mito de que a técnica é neutra) para uma gigantesca redução de pessoal no sistema Petrobrás, o que significa demissão em massa por diversas formas, inclusive demissões mais diretas, sem PDV. O objetivo de fundo é a privatização ainda mais completa do sistema Petrobrás.
E tudo isso acontece num contexto em que o governo Paulo Guedes/Bolsonaro está empenhado em destruir grande parte do arcabouço legal voltado para segurança e saúde dos trabalhadores e faz parte desse empenho a sanha para destruir as Normas Regulamentadoras ( https://cutt.ly/YsCfWGx).
O que, ao piorar os cuidados gerais com segurança e saúde no trabalho, aumenta ainda mais a
importância do efetivo não ser reduzido.