Ameaça de Fechamento da Cogeração

Existe uma vontade política para o desmonte. Vontade irresponsável e temerosa

Depoimento dado por um operador, sobre a ameaça de fechamento da cogeração.

Foto de Eduardo HenriqueNa maioria das vezes, acordo cedo para ir trabalhar, em outras, saio à noite. Já saí no meio do almoço de domingo dos dias das mães, já deixei de passar o natal com a família. Tudo para trabalhar. Minha função me afasta de uma vida social ativa. Enquanto as pessoas estão indo, eu estou voltando, enquanto elas dormem eu estou trabalhando. Só damos valor ao sono quando descobrimos que 8h de sono noturno, em nada se assemelhama 8h de sono diurno. Dormir durante o dia é um desafio, pois não posso reclamar com o vizinho que faz obra na casa dele, tampouco que o “carro da pamonha” esteja passando na sua rua. Outro dia acordei desesperado porque o prédio da frente colocou um alarme na garagem cujo som muito se assemelha aos alarmes dos equipamentos com que trabalho. Foi um martírio fazer um isolamento acústico no meu quarto.

Como venho de uma vida muito difícil, encaro esses e outros desafios do trabalho com muita responsabilidade e dedicação. As quase duas décadas de Petrobrás passei integralmente no CENPES, sinto muito orgulho disso, pois fiz dele minha segunda casa (ou talvez a primeira). Lembro-me, na época da construção da ampliação do CENPES, de uma frase que estampava o tapume externo da obra: “O CENPES está expandindo e o Brasil cresce com ele.” Aquilo fazia muito sentido para mim, pois eu também estava crescendo junto e isso me motivava a me empenhar mais.

É tão bom ajudar o seu país, justamente no desenvolvimento de novas tecnologias, setor que o Brasil ainda precisa avançar bastante. E cá estou eu, fornecendo energia para toda essa galera superar novos desafios científicos. O que me deixa feliz é que a energia que geramos no meu setor não é qualquer coisa não.  Usamos uma tecnologia que tem a capacidade de dobrar a eficiência energética de nossas máquinas. Temos uma planta industrial inovadora, à frente do tempo, com conceitos de aproveitamento de energia, que a partir   de uma única fonte gera várias outras, que utiliza água da chuva para resfriar as máquinas, que pega a água fervente do gerador e transforma em água gelada para ar condicionado. Parece mágica,mas o que temos é tecnologia industrial que faz inveja a muitas empresas estrangeiras. É um orgulho trabalhar assim.

Quando acordo cedo, tomo meu café, beijo minha família, que ainda dorme, e venho para o CENPES. Sinto que não tenho um trabalho qualquer. Sinto-me afortunado por um trabalho que faz diferença para mim e para o país. Não vou negar que existem dias ruins. Dias em que as cobranças são maiores do que as recompensas. Dias em que incomodam muito, as frustrações, as indignações com o que andaram fazendo com nossa empresa e o modo com que ainda insistem em nos tratar como “tag” de equipamento e não como pessoas. Mas a essência do meu trabalho e a importância que eu sei que ele tem, me motiva a passar por tudo isso.

Hoje existe uma pressão grande do gerente executivo do CENPES para o fechamento da cogeração, com data marcada, inclusive: 01/08/2017. Ocorre que um estudo de viabilidade econômica da nossa planta foi solicitado e,  para a surpresa dos que queriam nosso fim, o estudo provou que nossa Cogeração é economicamente viável e rentável também. Com isso, percebemos que, na verdade, existe uma vontade política para o desmonte. Vontade irresponsável e temerosa. Com isso meus colegas e eu estamos recebendo “propostas” trabalhar embarcados, nas plataformas do Pré-Sal. Esse “convite” vem carregado de terror psicológico, com ameças cotidianas de que haverá cortes, que não sobrarão vagas em outras unidades, além de outras maldades. Uma vida não pode ser mudada assim. Como se já não bastassem os problemas técnicos, agora estamos sendo tragados por esse jogo politico. Quando se joga desse jeito, quem perde é sempre o trabalhador.

 

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