A Avaliação de Petróleos é uma das mais antigas atividades de pesquisa da Petrobrás, iniciada nos laboratórios do CENAP, ainda na Praia Vermelha, no início da década de 60. Seu principal objetivo é o fornecimento de informações sobre o rendimento e a qualidade dos derivados dos petróleos recém-descobertos e importados. Essas informações são utilizadas pela exploração e produção, na comercialização dos campos, e, pelo refino, para a alocação e previsão do comportamento dos petróleos nas refinarias.
Na década de 70, esta atividade foi transferida para os laboratórios do CENPES, com uma estrutura que viabilizou a obtenção de maiores volumes de derivados para estudos mais detalhados de composição química e desempenho dos petróleos para o refino. Nesta mesma década, a descoberta de grandes volumes de petróleos na Bacia de Campos trouxe um grande desafio para essa atividade: utilizar o petróleo nacional, com características físico-químicas diferentes dos petróleos utilizados pelo refino, em misturas com volumes de petróleos importados. Esses trabalhos foram conduzidos pela área de refino e permitiram alocar os petróleos da Bacia de Campos nas refinarias nacionais, substituindo grandes volumes dos importados.
As informações disponibilizadas nos relatórios gerados pela Avaliação de Petróleos são utilizadas desde a etapa exploratória: nos estudos de viabilidade técnica e econômica dos campos; na etapa de explotação, informações que auxiliam a elevação, escoamento; e no tratamento dos petróleos. As informações das curvas de destilação e das características dos petróleos são essenciais para o ajuste das unidades de refino para a obtenção de derivados de qualidade. As informações sobre qualidade e características dos petróleos também são utilizadas na elaboração de folders para apresentação dos produtos ao mercado internacional e para o cálculo dos royalties pagos pela Petrobrás para a União.
Todas essas informações compõem uma base de dados estratégica e de elevado valor técnico e econômico. O banco de dados criado por essa gerência possui atualizações periódicas das propriedades de todos os petróleos produzidos no Brasil. Essas informações ficam disponibilizadas para consulta por todo o Sistema Petrobrás, sendo necessário autorização prévia para consulta.
O trabalho do CENPES/AP durante a pandemia e frente às denúncias de importação de GAV adulterada
A importância desta atividade foi muito evidente durante a pandemia da COVID-19, quando solicitações vindas de grandes e lucrativos projetos fizeram a equipe se mobilizar e voltar a atuar nos laboratórios do CENPES, para entregar relatórios de avaliação de petróleos em regime de urgência e, também, poder atender às solicitações de análises das gasolinas de aviação, assunto que repercutiu bastante na mídia (veja links abaixo), através da determinação dos hidrocarbonetos por adsorção com indicador fluorescente (método FIA).
No Brasil e no exterior não existem laboratórios particulares que reúnam, em um só lugar, a infraestrutura e a capacitação para o fornecimento de todas as informações geradas pela Avaliação de Petróleos, o que torna inviável a realização das atividades por laboratórios particulares, sendo a destilação a etapa mais importante do processo, com a geração de destilados e da curva de Ponto de Ebulição Verdadeiro.
Gestão ameaça continuidade operacional e segurança dos trabalhadores
Essa atividade é realizada em regime de turno ininterrupto por dois técnicos, que também realizam os ensaios nos petróleos e derivados. Essas destilações necessitam de continuidade operacional, devido aos tempos necessários para o início e conclusão dos processos em cada petróleo.
Porém, uma gerência tão atuante e reconhecida fora do CENPES tem sobrevivido pelos esforços do seu corpo técnico. Quase todos os projetos foram cortados e já visam economizar na redução de mão de obra, onde coloca-se em risco a continuidade das atividades. Cogita-se a criação de um turno de revezamento de somente um técnico por turno, o que coloca em risco a segurança dos técnicos na operação de fluídos Classe A (petróleos em temperaturas elevadas). Ressalta-se que os laboratórios da AP contam com vasos/reatores pressurizados cuja operação e gestão de integridade são regidas pela CLT e pela NR-13.
A reestruturação organizacional do Centro de Pesquisas, em plena pandemia, com a ampla maioria dos seus empregados em teletrabalho, sem nenhuma conversa com os trabalhadores ou seu Sindicato, mexerá também com a gerência em questão e configura-se como mais uma medida que ameaça a segurança e os direitos dos trabalhadores, além de prejudicar a própria Petrobrás.
O Sindicato tem acompanhado as atividades no CENPES durante o período de pandemia, e a reestruturação, que se desenrola sob segredo, nos chamou atenção. Levaremos o caso a todas as instâncias, inclusive à CIPA CENPES, para que o GE da Unidade e o gerente de SMS se responsabilizem pelo processo de destilação de um fluído Classe A, em elevados volumes e sob pressão, ser conduzido por somente um técnico de turno. Descumprimentos da NR-13 são passíveis de responsabilização civil e criminal ao responsável pela Unidade.
Importação de Gasolina de Aviação adulterada é mais um reflexo do desmonte da Petrobrás por seus próprios gestores. Confira alguns links recentes sobre o caso em questão:
Petrobrás importa combustível adulterado para avião e coloca vida e negócios em risco
“De acordo com avaliações do Centro de Pesquisa da empresa (CENPES), foi detectado “um teor de compostos aromáticos diferente dos lotes até então importados, mesmo estando de acordo com os requisitos de qualidade exigidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).”