Por André Lobão
Atualizado em 25 de agosto – 16h16
Após privatização, um dos ativos mais valiosos da Petrobrás mostra como a privatização só é boa para especuladores
Em um cenário em que os preços de derivados de combustíveis, como diesel e gasolina disparam, ultrapassando a barreira dos R$ 7, no caso deste último item, em capitais importantes como Rio de Janeiro, as ações da BR Distribuidora, agora batizada de “Vibra Energia”, vivem uma estabilização, sendo cotados atualmente o lote a R$ 26,41, valor aproximado de 30/06, quando o lote valia R$ 26,98. No dia 1º de julho, o lote atingiu o valor de R$ 29,07, tendo um pico de R$ 29,44 no dia 05/07.
No início do mês de agosto, a BR Distribuidora anunciou um lucro líquido de R$ 382 milhões no segundo trimestre de 2021, uma alta de 103,2% em relação ao mesmo período do ano passado, um lucro mais do que duplicado em plena pandemia de COVID-19.
Após a demissão em massa, a retirada de direitos dos trabalhadores, enquanto aumentavam as remunerações da Diretoria, bem como a adesão ao pacote de incentivos do governo às empresas devido a pandemia, centralmente, a alta dos combustíveis gerou ganhos para os acionistas da empresa que teve sua privatização complementada em junho quando a Petrobrás pulverizou os 37,5% das ações que ainda lhe restavam, rendendo mais de R$ 11 bilhões que vão engordar o PPP (Prêmio de Privatização por Propina) dos chefões militares que comandam a estatal.
O processo de privatização da empresa passou por três etapas: A primeira em dezembro de 2017 quando foi realizada uma IPO (abertura de capital em bolsa de valores) quando foram vendidas 29% de suas ações pela Petrobrás, mas com a empresa mãe mantendo controle sobre a subsidiária, devido a uma greve nacional do setor que o Sindipetro-RJ apoiou a organização e sua concretização no Rio de Janeiro.
Já a segunda etapa, em julho de 2019, a direção da Petrobrás vendeu outros 30% de suas ações, o que configurou o processo de privatização. Foi vendido o controle, sem típico ágio.
Por fim, no último mês de julho foi pulverizado na bolsa de valores o restante das ações em poder da Petrobrás, 37,5%, estabelecendo assim a saída completa da Petrobrás na BR Distribuidora.
A festa dos especuladores
Atualmente, 87% das ações da Vibra Energia estão pulverizados no mercado, o restante está na mão dos maiores acionistas da companhia, que são os fundos Samambaia (de propriedade do especulador Ronaldo César Coelho), e o BlackRock (fundo estadunidense representado no Brasil pela XP Investimentos), com 7,95% e 5,01%, respectivamente.
A Petrobrás licencia a marca “BR” para a Vibra, cujo contrato ninguém sabe, ninguém viu…
No mercado automotivo, que abrange os postos de combustíveis, a Vibra continuará com a atual identidade visual e o símbolo “BR”, por ser licenciada da marca Petrobras. A empresa forma uma rede com cerca de 8,3 mil postos de combustíveis em todo o País.
“Nós não temos nenhum interesse em mudar a marca Petrobras BR nos postos, pois entendemos que essa é uma marca conhecida pelos consumidores, é ‘top of mind’, com atributos que são reconhecidos pela qualidade do produto e do atendimento, é uma rede que de alguma forma acolhe as pessoas” – explicou o presidente da companhia, Wilson Ferreira Júnior, segundo reportagem do Valor Econômico.
O que fica de lição desta história é que a fábula , tantas vezes repetida pela mídia neoliberal, de que “a privatização é boa para o povo”, não passa de um grande engodo. A realidade é o desemprego, perda de direitos, como aconteceu com os trabalhadores da BR Distribuidora; a alta dos preços dos combustíveis, que já afeta trabalhadores precarizados como motoristas de aplicativos e de caminhões e a alta da inflação.
Uma história que mostra um final feliz somente para a grande burguesia especuladora, que sentada à beira de uma piscina, bebendo seu champanhe e degustando caviar, confere em seu aplicativo o quanto engorda sua conta bancária com as ações de ativos privatizados como da BR.