A gerência do CNCL (Centro Nacional de Controle Logístico) realizou durante o mês de setembro passado um ciclo de reuniões com os técnicos de operação para, supostamente, mostrar alguns incidentes de vazamentos provocados por atividade criminosa de terceiros em sua malha de oleodutos durante a atividade intrínseca de monitoramento do CNCL.

As causas dos eventos que as apresentações da gestão levantaram, apontavam basicamente para o fator humano, sem ao menos haver questionamentos da própria sobre o elemento psicológico dos técnicos de operação, por exemplo. Apenas foi enfatizada a questão da considerada aptidão técnica, sem contabilizar todas as pendências (telas, alertas, alarmes, lembretes, etc.) do sistema supervisório Oasys que poderiam servir como barreira adicional de segurança, caso fossem sanadas. Sem contar que os trabalhadores procuraram o Sindipetro-RJ denunciando que durante a rodada de reuniões, todas as propostas de mudança partidas dos operadores mirando na eficiência, eficácia ou efetividade das operações e dos processos foram peremptoriamente rechaçadas pelos gestores. A alegação principal é de que mesmo com todos os problemas e pendências apresentados pelos trabalhadores, nada precisa melhorar. Tal fato confirma a denúncia de que os “erros operacionais” estão sendo jogados na conta única e exclusiva dos técnicos de operação que tentam chancelar, incansavelmente, junto aos gestores diversas propostas de melhoria. Entretanto, esse comportamento é intencional. A gestão prefere que haja “cascas de banana” para justificarem uma presumida incompetência dos técnicos e poderem punir estes últimos, justificando uma presumida importância de sua função gratificada, porém não percebe que gerir um grupo de pressupostos incompetentes, fatalmente apontaria para uma gestão de igual qualidade.

E, por trazermos a questão das funções gratificadas na Transpetro, temos de citar que no CNCL a gerência premia ainda algozes de “segunda classe”. Ou seja, muitos dos trabalhadores, desconhecendo a consciência de classe, são seduzidos e, com a gana de se prevalecerem sobre seus pares, são elevados à conta de Gerentes Gerais, Gerentes Setoriais, Cotur (Coordenadores de Turno), CTO (Coordenadores Técnicos Operacionais), Consultores ou ao CSO (Console de Suporte Operacional) para darem continuidade a uma cultura persecutória. Sendo que a Coordenação de turno e o Console de Suporte Operacional seguem o regime de turno e também não têm dividido qualquer responsabilidade com os operadores do console. Acabam por serem reduzidas a figuras decorativas à medida que se procura retirar a responsabilidade desses agentes. A gerência chega ao cúmulo de dizer que eventos graves durante o turno podem ocorrer sem o conhecimento da coordenação de turno (Cotur) ou do CSO, justamente por não comunicação por parte do operador. Ou seja, novamente a “culpa do operador”. Mas a realidade é diferente: tanto o console do Coordenador de Turno quanto o Console de Suporte Operacional monitoram todo o sistema (gasodutos e oleodutos) e conseguem ver através de seus consoles qualquer anomalia que venha ocorrer durante o turno. Como estratagema de se tentar reduzir a responsabilidade dessas posições, são feitos procedimentos em que a responsabilidade formal do Cotur, operador de CSO, CTO, etc, é mínima ou nula. Ou seja, a responsabilidade formal do operador (oriunda dos procedimentos) e a prática (efetiva) têm sido maior do que todas as outras que devem estar hierárquica, técnica ou administrativamente “acima” dele, porém é o que tem a menor remuneração global, de uma maneira geral. Fato controverso quando analisamos a própria denominação das funções, dos cargos ou atividades específicas. Tanto a responsabilidade virtual é maior, que alguns recebem até gratificação de função, ou seja, valor que é pago pelo fato de a empresa entender que há maior responsabilidade sobre o sistema nesses casos de funções gratificadas. Mas até a remuneração das funções gratificadas são inacessíveis no Portal da Transpetro, traindo a própria bandeira do “compliance”.

Toda essa robusta estrutura deveria ser para facilitar o trabalho dos técnicos de operação, certo? Errado! Toda ela foi feita para justificar os eventos operacionais indesejados como sendo problema único e exclusivo do operador. É o que denunciam nossos companheiros do CNCL. Expondo o viés punitivo de que são vítimas, em detrimento do viés educativo (com novos treinamentos e aprimoramento de suas habilidades). Essas posições são as que montam “petit comitês”, que são verdadeiros tribunais de exceção, pois a sentença já chega pronta antes mesmo do julgamento: culpa do operador. Assim vão editando as situações aqui e acolá para adaptarem a sentença pronta ao processo. Levantam histórico de alarmes, ligações telefônicas, gráficos, montam dossiês, etc, para apontar a falha humana do operador (real ou forjada) sempre como fator principal, mesmo havendo ciência de que um incidente é composto por diversos fatores e não necessariamente o fator humano é sempre o principal. É assim que são construídos os RTA (Relatórios de Tratamento de Anomalia). Tanto que, num apanhado de relatórios desse tipo pegos aleatoriamente, observamos que a responsabilidade sempre recai unicamente no operador. Tanto é verdade que nunca alguém com função gratificada foi punido no CNCL por questão de algo considerado como “anomalia” e na média do último triênio tivemos por volta de quatro punições a operadores: duas transferências (mudança de lotação) e duas suspensões. Isso demonstra todo o quadro desenhado acima.

Os trabalhadores do CNCL deveriam receber um apoio melhor, pois além de sempre trabalharem sob pressão devido ao risco de vazamentos inesperados nos dutos, causados pela atividade criminosa de terceiros a partir do furto de combustíveis através das chamadas DC (Derivações Clandestinas, que são furos feitos nos dutos de maneira improvisada e que podem provocar vazamentos de grandes proporções), têm de lidar com problemas administrativos em meio à pandemia da COVID-19.

Do ano de 2019 até o presente momento, o CNCL sofreu com a ameaça de imposição unilateral do turno de 8h na tabela 3×2, passou por um intenso processo de votação de tabela de turno, tiveram redução de valor nas diárias de alimentação, posteriores descontos no contracheque por valores de diárias que teriam sido pagas a maior, corte do café da manhã por alegada medida sanitária, votação do vale refeição tensionada pela gerência num momento de pandemia, mudança de operação para o backup (Caxias) devido à demorada obra civil na sede, PIDV, devolução de cedidos, redução de consoles, criação forçada de excedente de pessoal, impedimento de treinamentos em outros consoles direcionados a alguns operadores, dentre outros diversos fatores administrativos que se somam à necessidade de atenção concentrada durante todo o turno. É nesse ambiente que o estresse se instala.

De tantos ataques sofridos por falta de uma gestão que busque melhoria contínua e por não conseguir melhorar seu ambiente de trabalho técnica e administrativamente, o operador vai desanimando e considerando cada dia de trabalho, que poderia ser prazeroso, como um fardo. Qual o tipo de ataque iremos sofrer hoje, amanhã, nesse mês ou no ano? É a pergunta com o que os trabalhadores começam sua jornada. Fica configurado aí o adoecimento característico oriundo de uma atmosfera nociva de assédio moral, no mínimo. Tudo isso por culpa da gestão, que suga os recursos do Sistema Petrobras através de “prêmios” por desempenho depois pula para o setor privado levando todo o conhecimento construído pela classe trabalhadora em troco de algumas moedas, alinhando- se à lógica privatista e entreguista.

Apontamentos:

– Responsabilização dos coordenadores de turno nos eventos. Não há histórico de punição a nenhum coordenador de turno ou qualquer outra função gratificada, mas apenas sanções disciplinares aos técnicos de operação;
– Acompanhamento psicológico contínuo dos técnicos de operação;
– Melhorias de telas e automatização de manobras;
– Avaliação qualitativa e quantitativa das manobras com maiores riscos por console. Ou seja, avaliar impactos de possíveis erros das manobras mais importantes ou que venha acarretar prejuízos à empresa ou a terceiros;
– Discriminação de alarmes críticos através de diferenciação por cor na própria descrição do alarme;
– Alerta de alarmes “bad actors” nos consoles dos técnicos de operação e coordenadores de turno.

Ofício enviado: Ofício – Temas específicos do CNCL

Leia também: A Culpa é da gestão! – Parte I https://sindipetro.org.br/cncl-a-culpa-e-da-gestao/

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