Ex-presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco assume direção de empresa que comprou campos maduros da Petrobrás que ele mesmo vendeu. As negociações envolveram seis ativos: Polo Peroá, Polo Macau, Fazenda Belém, Polo Ventura, campos na Bacia Potiguar e Polo Recôncavo. Os negócios totalizaram um valor de US$ 626,9 milhões, cerca de R$ 2,9 bilhões
Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobrás, nos últimos dias, tem disparado vários pitacos sobre a situação da Petrobrás e dos preços dos combustíveis no Brasil. Parecia aposentado, mas pelo jeito , nunca havia se afastado. Castello, segundo informes da mídia especializada, vai assumir a direção da 3R Petroleum, empresa que comprou campos maduros da Petrobrás quando ele era ainda o presidente da estatal.
No limite da atual e frouxa lei, o ex-presidente da Petrobrás não pode ser enquadrado como criminoso nos termos da Lei n.º 12.813, de 2013, que determina que pessoas que ocuparam cargos na administração pública e estatais não exerçam determinadas atividades privadas no período de 6 (seis) meses após deixarem seus cargos públicos. Esse período é conhecido como “quarentena”. Mas é óbvio que esta situação, envolvendo Castello Branco, mostra nitidamente a existência de um conflito de interesse e que a legislação vigente não protege ou mitiga o risco moral nas empresas. Será que depois de um ano fora da Petrobrás o ex-presidente esqueceu ou apagou de sua memória todos as informações estratégicas sobre as atividades da Petrobrás? Será que Bolsonaro e Paulo Guedes deram alguma pílula azul para Castello apagar de sua memória e HDs informações privilegiadas? Será que a atuação de Castello, lá trás, no momento das vendas e privatizações de cada campo que compõe a nova empresa, já não estava contratada?
O que Castello vendeu para a 3R Petroleum
A partir de informes publicados pela própria Petrobrás em seu site, mapeamos os negócios realizados durante a gestão de Castello Branco, entre 2019 e março de 2021, enquanto presidente da Petrobrás, com a 3R Petroleum.
Polo Peroá
Em fevereiro de 2019, com recém-empossado na presidência da Petrobrás, Roberto Castello Branco, foi anunciada a venda do Polo Peroá, localizado na Bacia do Espírito Santo por US$ 55 milhões. Os compradores foram a OP Energia, uma empresa da 3R Petroleum, e a DBO Energia que formaram um consórcio para a aquisição.
Polo de Macau
Ainda em 2019, a Petrobras assinou com a SPE 3R Petroleum S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum e Participações S.A., contrato para a venda, por US$ 191 milhões, da totalidade de sua participação em um conjunto de campos de produção, terrestres e marítimos, denominado Polo Macau, na Bacia Potiguar, localizados no Estado do Rio Grande do Norte.
O Polo Macau engloba os campos de Aratum, Macau, Serra, Salina Cristal, Lagoa Aroeira, Porto Carão e Sanhaçu. Na época do negócio, a produção total atual de óleo e gás desses campos é de cerca de 5,8 mil barris de óleo equivalente por dia.
Fazenda Belém
Em 2020, a Petrobrás sob a gestão de Castello Branco vendeu para a SPE Fazenda Belém S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum e Participações S.A., contrato para a venda, por US$ 35,2 milhões da totalidade de sua participação nos campos terrestres de Fazenda Belém e Icapuí, denominado Polo Fazenda Belém, localizados na Bacia Potiguar, no estado do Ceará.
Polo Ventura
A Petrobrás em agosto de 2020 anunciou a venda do Polo Ventura na Bahia por US$ 94,2 milhões, para a a SPE Rio Ventura, subsidiária integral da 3R Petroleum. O polo é formado por oito campos terrestres localizados nos municípios de Catu, Mata de São João, Pojuca e São Sebastião do Passé.
Campos na Bacia Potiguar (Polo Pescada)
No mês de setembro de 2020, a Petrobrás vendeu por US$ 1,5 milhão a totalidade de sua participação nos campos de Pescada, Arabaiana e Dentão localizados em águas rasas da Bacia Potiguar (Polo Pescada), no estado do Rio Grande do Norte. O contrato foi assinado com a OP Pescada Óleo e Gás Ltda., subsidiária integral da Ouro Preto Óleo e Gás S.A, que é de propriedade da 3R Petroleum.
Polo Recôncavo
Em dezembro de 2020, a Petrobrás anunciou contrato com a Ouro Preto Energia Onshore S.A., subsidiária integral da 3R Petroleum Óleo e Gás S.A., para a venda da totalidade de sua participação em quatorze campos terrestres de exploração e produção, denominados Polo Recôncavo, localizados no estado da Bahia. O valor do negócio foi de US$ 250 milhões.
A porta giratória
Enquanto presidiu a Petrobrás, Roberto Castello Branco negociou com o seu novo patrão ativos que somaram o montante de US$ 626,9 milhões, cerca de R$ 2,9 bilhões. Isso mostra que o mercado do petróleo no Brasil não existe qualquer tipo de ética e moral, e que pessoas ocupam a direção da Petrobrás não para defender os interesses da empresa e do Brasil. Hoje, com a política entreguista neoliberal, o que interessa é uma Petrobrás que sirva de trampolim e escada para novos tubarões do mercado. E Roberto Castello Branco é mais um que passa pela porta giratória, junto com o “caminhão” de informações privilegiadas, levando tudo da Petrobrás.
A luta dos trabalhadores
A contrapressão da sociedade, sentindo os efeitos do avanço da privatização, é que impede a roubalheira definitiva.
As privatizações e o PPI ganham defesa à base de muito PPP (pagamento de propina pela privatização), seja o pago institucionalmente para a alta administração da Petrobrás, seja o que o mercado assegura a seu pessoal: dinheiro mesmo ou cargos nas estruturas dos governos , nos institutos privados, ou nas próprias concorrentes da Petrobrás e das novas empresas formadas a partir do espólio entregue pelas direções da Petrobrás.
Landim saiu da Petrobrás e afiançou e serviu aos negócios de Eike Batista que logo naufragaram e fraudaram o mercado. Do naufrágio alheio fundou sua Ouro Preto Petróleo e Gás, que foi comprada pela 3R Petroleum. Pires, que sempre serviu ao mercado, é alçado à presidente. Vai servir aos interesses do país e da Petrobrás ou a seu patrão de toda hora, “o mercado”?