COVID-19: sindicatos e sociedade desconhecem o número de petroleiros mortos na Petrobrás

A direção da empresa omite total de óbitos, dados sobre casos confirmados e suspeitos, além de relegar petroleiros terceirizados, criando uma subnotificação vultuosa.

O adoecimento e a morte seguem na Petrobrás pela incapacidade da alta direção em lidar com o problema e devido à falta de transparência e controle da pandemia, obrigando os sindicatos a moverem processos judiciais que sequer têm suas sentenças respeitadas. Certamente, o motivo do escamoteamento dos óbitos pela direção da Petrobrás se dá por números alarmantes.

A direção da Petrobrás não preparou a empresa para enfrentar a pandemia, tampouco estabeleceu reservas contábeis para responder a este tipo de evento, que cientistas e pesquisadores já alertavam os governos desde os surtos do Ebola e do H1N1. Tardiamente, iniciou esforços para aquisição de kits de testes e contratação de serviços especializados e, por isso, enfrentou e enfrenta gargalos no fornecimento de insumos e serviços para testagem.

Como principal empresa do país, e considerando seu acesso privilegiado às informações do presidente da República e de seu Ministério da Saúde e órgãos especializados de controle epidemiológico, a atuação de sua direção na contenção da COVID-19 é pior que sofrível, senão uma feia caricatura da política de Bolsonaro: a Petrobrás não pode parar… o lucro é prioridade em detrimento da saúde e vida dos trabalhadores próprios e nem se fala dos terceirizados.

O teste RT-PCR, que detecta os genomas do vírus, sendo o mais confiável para diagnóstico de pessoas com sintomas, só começou a ser aplicado pela Petrobras, muito limitadamente, e sem a devida efetividade, em 30/03. Já os testes rápidos, só passaram a ser usados a partir de 20/04, sem sequer abranger toda a sua atividade operacional e tampouco os trabalhadores que convivem no mesmo ambiente. Isto é, não promoveram e não promovem testes nos petroleiros terceirizados desperdiçando até mesmo os esforços e recursos financeiros da testagem parcial e mantêm outras medidas insuficientes de proteção, como a mera oferta de máscaras e álcool em gel, o transporte individual, a testagem no desembarque, ou oferta de hospedagem para quarentena àqueles testados positivos no desembarque, a fim de não contaminarem suas famílias e comunidades.
Para se ter ideia da lentidão, apenas no dia 8 de junho começaram os testes nas unidades do estado de Alagoas e na REGAP, no estado de Minas Gerais. Ou seja, após praticamente três meses de muito trabalho e convívio, chegaram os testes.
Já a REPAR, segundo o Sindipetro-PR/SC, estampa o boletim diário da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) de Araucária (PR), como o maior foco de COVID do município: dos 109 casos positivos, 48 são da refinaria. O Sindicato exige a imediata interdição e higienização dos ambientes.
A situação se torna ainda mais nebulosa quando a empresa informa que não vai anunciar o número de óbitos, como disse algumas vezes nas reuniões virtuais promovidas pela Estrutura Organizacional de Resposta (EOR), em que a FNP e seus sindicatos filiados participaram.

É um pandemônio em plena pandemia! A COVID-19 se alastra na Petrobrás

Em Cubatão, no último dia 31 de maio, morreu Carcavalli. Segundo informações do Sindicato : “ (…) ele é um dos 15 petroleiros do chamado grupo cinco que apresentaram sintomas de COVID-19 logo após a Petrobrás interromper o período de isolamento de um trabalhador que aguardava o resultado do teste. Quando chegou o resultado positivo, ele já se encontrava no CCI (Centro de Controle Integrado) setor sem ventilação e que concentra 30 trabalhadores. Uma semana depois, 15 técnicos de operação do grupo cinco apresentaram sintomas como dor de cabeça, tosse e febre alta.” Mas a empresa seguiu ignorando o sindicato e manteve álcool gel em quantidade insuficiente. Além disso, os petroleiros retornaram do período de isolamento sem qualquer procedimento como análise clínica e testes rápidos. Ao minimizar a doença, a Petrobrás gerou um cenário caótico na RPBC. Já são 53 petroleiros próprios com a contaminação confirmada e três óbitos. O Sindicato luta pela abertura da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), já que a contaminação aconteceu no ambiente de trabalho.

Em Manaus, foram contabilizadas duas mortes: uma de petroleiro próprio com diagnóstico confirmado e outra, de um trabalhador terceirizado que morreu após apresentar diversos sintomas de COVID, mas que não teve seu diagnóstico confirmado. Ainda assim, a testagem pré-embarque teve início apenas após o desembarque de dezenas de pessoas com suspeita de COVID e do caso emblemático de um petroleiro que ficou 30 dias na UTI, depois passou ao quarto para recuperação, ainda com traqueostomia, mas sem ventilação artificial.
Não bastassem as mortes e o caos instalado, foi preciso ainda muita pressão do Sindicato para que a direção da Petrobrás providenciasse a testagem no pré embarque em Manaus. Ainda assim, a testagem em Carauari, por onde embarcam a maior parte dos petroleiros terceirizados que trabalham, ombro a ombro com os petroleiros próprios, só teve início em 27/05. Isso, além de ser um absurdo, tornava inócua a testagem que estava sendo feita em Manaus que, em tese, poderia garantir algum controle.

No TABG também morreu um trabalhador da cozinha, por negligência da empresa contratada e da Petrobrás. Ele apresentou sintomas de COVID no dia 23/04, mas recebeu alta médica e retornou ao trabalho no dia 26/04. Trabalhou dias 26 e 27 em contato com outros trabalhadores, voltando a apresentar sintomas nesse dia e vindo a falecer no dia 29. Ou seja, não foi cumprido o protocolo de aguardar 14 dias de quarentena após a apresentação de sintomas. E assim seguem subindo os números de infectados e óbitos no Sistema Petrobrás, especialmente de terceirizados, sobre o qual a atual gestão da Petrobrás de desresponsabiliza completamente. Com essa política, a direção da Petrobrás a torna foco e vetor de disseminação do vírus pela sociedade, em oposição às orientações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, com o sacrifício de seus trabalhadores. Concomitante a isso, seguem as demissões de trabalhadores terceirizados do grupo de risco. Afastam, colocam de férias e, no retorno, demitem. O nosso Sindicato segue brigando pela abertura de CAT e contra o assédio e demissões em relação aos trabalhadores.

No Centro Nacional de Controle Logístico Operacional (CNCL), 10 trabalhadores foram afastados por suspeita de infecção por COVID-19, sendo 4 da Logística de Gás Natural e 6 da Logística do óleo. Todos estão trabalhando em um mezanino, espaço com pouquíssima circulação de ar.

No EDISEN houve o informe da morte de um profissional que recebeu homenagem de seus colegas de trabalho, que publicaram uma carta emocionante em rede social. Na Transpetro Sede mais um óbito. Nestes dois casos, a empresa ressalta que os trabalhadores encontravam-se em teletrabalho.

No CENPES há trabalhadores afastados por sintomas de COVID-19 e houve pressão de gerência para trabalhador com sintomas comparecer ao trabalho no turno. Na quarta (27/05), a gestão do Compartilhado CENPES inovou na aplicação de testes rápidos, pois não esperou os resultados para liberar a entrada, não utilizou os resultados no controle da COVID-19 como barreira; resultado: após o café da manhã, veio o resultado de que um dos trabalhadores havia testado positivo e nem deveria ter entrado com o grupo. Haverá teste para os contactantes? Os testes só serão feitos de 14 em 14 dias. É muito tempo para um efetivo controle. Após esse episódio, foi convocada uma reunião de urgência da CIPA, do qual o Sindipetro-RJ participou. A empresa parecia ter voltado atrás nessa medida irresponsável, mas no dia 03 voltou a fazer o procedimento da mesma forma. Na nossa avaliação, isso vem se dando como forma de economizar com horas extra de trabalho.

No COMPERJ a informação atualizada é de que dos 18 motoristas de carros de passeio e vans, 13 confirmaram COVID-19 e 2 vieram a óbito (nenhum deles tinha comorbidades). Ao todo, o número de trabalhadores terceirizados mortos por COVID desde a retomada parcial das atividades em maio chega a sete. Também temos informações advindas dos trabalhadores de que existem, pelo menos, 150 casos de infecção confirmados no site entre os trabalhadores terceirizados. Os casos crescem também entre os trabalhadores próprios: só no dia 10/06 foram três casos confirmados. A situação ganha contornos absurdos quando a direção da Petrobrás permite a retomada total das obras que mobilizará e colocará em exposição ao vírus cerca de 6.000 trabalhadores, suas famílias e demais contactantes. É muita irresponsabilidade e uma brutal temeridade contra os trabalhadores e a Petrobrás !

Na REDUC, até o dia 01/06, eram 200 casos de COVID-19 confirmados e 4 mortes. Destas, duas foram de motoristas da cooperativa que faz transporte dos funcionários em carros de passeio, um vigilante terceirizado e um trabalhador da capina. Um desses motoristas transportou trabalhadores com sintomas da COVID-19, inclusive confirmados. O Sindipetro-Caxias exige da Petrobrás que os trabalhadores infectados realizem novo exame após 14 dias de quarentena e antes de retornar ao trabalho ou, caso contrário, que permaneçam mais 7 dias afastados.

Plataformas do Nordeste

A falta de transparência já se torna oficial como no informe de que Petrobrás desembarcou todos os empregados das plataformas PXA1 e PXA2, dos campos de Xaréu, no Ceará, após confirmação de casos suspeitos de COVID-19. Quando questionada pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado de São Paulo, a direção da empresa disse que não comentava sobre empregados possivelmente contaminados, alegando ser invasão de privacidade.
O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleo no Ceará/Piauí (Sindipetro-CE/PI) informou, em 12 de maio, que 42 dos 45 trabalhadores do campo de exploração marítima de Xaréu, no litoral cearense, testaram positivo para a COVID-19, ou seja, 93% dos trabalhadores. O MPT foi notificado e converteu a denúncia em procedimento preparatório para inquérito civil, dada a gravidade da situação.

Plataformas do Sudeste

Em 13 de maio, o telejornal regional, RJ-TV, apresentou uma reportagem em que mostra o avanço da COVID-19 entre os trabalhadores de plataformas. A matéria apresenta a situação dos profissionais do navio Amaralina Star, de bandeira do Panamá, de propriedade da empresa Constellation, que atua a serviço da Petrobrás na bacia de Campos. A embarcação contava naquele momento com 120 pessoas que já haviam sido testadas em exames, sendo que cerca de 67 pessoas foram identificadas como positivo para COVID-19. Esse é o último dado divulgado dessa embarcação sobre COVID, mas, podemos supor que – se mais de 50% dos trabalhadores embarcados estavam contaminados, convivendo e compartilhando espaços e equipamentos com os demais – esse número já altíssimo, tenha aumentado exponencialmente.

Na sexta (29/05), na P-77, um teste foi confirmado como positivo, com o contaminado não embarcando. Contactantes retornaram à quarentena, houve reteste e foram embarcados. Depois, já a bordo, houve a contraprova de um dos trabalhadores que deu positivo. Quatro profissionais tiveram que deixar a embarcação, sendo um diagnosticado como positivo e mais três contactantes. Diante do caso, os trabalhadores solicitaram ampla testagem, com prioridade para os trabalhadores que já desembarcariam a fim de não contaminarem suas famílias e comunidades. A direção da Petrobrás negou os testes, até de quem desembarcaria para voltar as suas casas. Mostrando assim seu desleixo para com seus empregados. Em todos esses casos de afastamento por COVID-19, que se deram com os trabalhadores em atividade operacional, não houve a devida emissão das CATs (Comunicações de Acidente de Trabalho) em desrespeito à legislação vigente.
Entre os dias 27/05 e 10/06, a Petrobrás informou que existem três casos suspeitos e um confirmado de COVID entre os trabalhadores próprios das plataformas da base do Sindipetro-RJ (P-75, P-75, P-76 e P-77). Há que se ressaltar que a Petrobrás passou a fornecer números oficiais sobre o COVID por força de liminar e apenas para a base do Sindipetro-RJ. Ainda assim, buscam obscurecer as informações, dificultando ao máximo o trabalho dos Sindicatos na defesa dos trabalhadores e das trabalhadoras.
Segundo dados oficiais do Ministério das Minas e Energia, atualizados em 08/06, nacionalmente a Petrobrás apresenta atualmente 149 casos de COVID confirmados e 940 casos confirmados, mas já recuperados. Esses dados referem-se apenas aos petroleiros próprios. Assim como está acontecendo no país como um todo, certamente esses números contam com uma grande subnotificação, além de não contabilizar os petroleiros terceirizados que encontram-se em situação muito pior.

COVID-19 se espalha nos campos de petróleo offshore do Brasil

Situação já ganha repercussão internacional

A partir de conteúdo de Tsvetana Paraskova* :

Pelo menos cinco produtores de petróleo do Brasil, incluindo empresas e a estatal Petrobrás, comunicaram infecções por COVID-19 entre trabalhadores offshore nas últimas semanas, disseram fontes da indústria e do governo à Reuters na terça-feira (26/05).

A Petrobrás e a Enauta Participações, assim como a Shell, Equinor e Perenco, registraram casos de infecções por coronavírus entre trabalhadores ou contratados que compartilham áreas confinadas em plataformas de petróleo offshore.

Ao mesmo tempo, o Brasil superou a Rússia na semana passada para se tornar o país com o segundo maior número de infecções por COVID-19, atrás dos Estados Unidos. Hipocritamente, para desviar sua responsabilidade pelas mortes nos EUA, Trump proibiu a partir de terça, a viagem de estrangeiros do Brasil para os Estados Unidos em um movimento temporário para impedir a propagação do COVID-19.

De acordo com fontes e dados de órgãos reguladores compilados pela Reuters, a norueguesa Equinor teve cerca de 60 casos de coronavírus na semana passada, a maioria no campo petrolífero de Peregrino; Perenco teve 40 casos, enquanto a Petrobrás tinha mais de 300 trabalhadores entre funcionários e contratados com COVID -19.

Shell e Enauta tiveram um caso de coronavírus cada, disseram as duas empresas à Reuters.

O descontrole da pandemia de coronavírus no Brasil, combinado com os baixos preços do petróleo e a desaceleração econômica no país e no mundo, pode esmagar sua indústria de petróleo, dizem analistas. De fato, a política desastrosa de Bolsonaro, isola o país econômica e politicamente, prejudicando sobremaneira a avaliação internacional de crédito para todas as empresas do Brasil e, especialmente, a Petrobrás por sua condição de player de classe mundial. Pior ainda, ficará, quando os desdobramentos da política de Bolsonaro, executada por Castello na Petrobrás, se tornarem transparentes ao mercado financeiro.

*Original: https://oilprice.com/Latest-Energy-News/World-News/COVID-19-Spreads-To-Brazils-Offshore-Oilfields.html

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