Aeroporto será monitorado e uma estrutura móvel irá aos terminais da Transpetro e CNCL para realização de testagens
A partir desta quarta-feira (23) até o dia 16 de outubro, o Sindipetro-RJ e o Sindipetro-LP, em parceria com a UNIRIO, realizarão testes para COVID-19 em trabalhadores que atuam em plataformas e terminais.
“A medida se justifica pela total irresponsabilidade dos gestores da Petrobrás dos setores de RH e Saúde, da forma como estão tratando a questão da pandemia. Em nenhum momento o foco tem sido a saúde dos trabalhadores, seus familiares e comunidades. Em verdade, o foco da direção da empresa é manter a produção e a lucratividade. Então o que nós vimos foi uma resposta que não ajudou no combate efetivo à COVD-19, na defesa da saúde do trabalhador e da saúde pública” – explica André Bucaresky diretor do Sindipetro-RJ.
Neste momento, nos terminais da Transpetro, não estão sendo realizadas testagens para COVID-19. Desta forma é impossível saber se o empregado está em condições seguras de trabalho, ficando a mercê a própria sorte em caso de contrair ou não a doença, que no Brasil já causou a morte de mais de 134 mil pessoas, com o registro de 4,5 milhões de casos desde o início da pandemia.
“Na Transpetro soubemos que ocorreram algumas testagens, só que a empresa não deu nenhuma satisfação ao Sindicato de qual foi o critério dos testes, de escolha das pessoas, quais foram os resultados, e quais medidas foram tomadas a partir disso. Então, a partir de toda essa situação da pandemia ficamos “cegos” na Transpetro neste período sem qualquer informação. E a solução que encontramos foi a de realizar essa campanha de testagem a partir do Sindipetro-RJ, em parceria com a UNIRIO. A ideia não é substituir a empresa na responsabilidade que ela tem perante aos trabalhadores da Transpetro. Assim teremos noção de como está a situação da COVID-19 nos terminais” – detalha Roberto Santos, diretor do Sindipetro-RJ, lotado no TABG.
Um levantamento recente feito pela FNP e sindicatos filiados aponta um número de 18 petroleiros mortos por COVID na Petrobrás até o momento. A Federação também denuncia que, desde o início da pandemia, a gestão Castello Branco vem impondo dificuldades para o afastamento de trabalhadores dos grupos de risco com menos de 60 anos de idade. Além disso, a gestão segue descumprindo recomendações da ANVISA e do MPT, como o teste no desembarque, a emissão de CAT, a liberação de trabalhadores com IgM+ (nos locais que seguem com testes rápidos), o espaçamento entre passageiros no helicóptero e o fornecimento de transporte individual da casa até o local de embarque.
De alguma forma a situação se repete nas plataformas da Petrobrás. A empresa realiza testes somente antes dos embarques, não repetindo o teste no desembarque após o trabalhador ficar entre 14 e 21 dias embarcado, tendo contato próximo com outros colegas em refeitórios,camarotes e espaços reduzidos, em exposição permanente. Ao sair este profissional volta para casa em um “voo cego”, levando o risco de contaminação para si e sua família.
“Diante disso é inevitável não desconfiar que essas instalações da Petrobrás tenham se tornado vetores de transmissão da COVID-19. Não se sabe se existe um grau de contaminação das plataformas a bordo, por exemplo. Houve relatos de pessoas que nos desembarques apresentaram sintomas” – relata Bucaresky
Testagem para trabalhadores próprios, terceirizados, de afretadas e aeroporto
Segundo o planejamento da iniciativa serão realizadas amostragens com cerca de 30% desses trabalhadores (próprios e terceirizados), também de afretadas (Modec e SBM) que estão em situação de desembarque nas plataformas, em ação de parceria com o Sindipetro-LP, é com os que trabalham nos terminais da Transpetro e no seu Centro Nacional de Controle e Logística (CNCL). A ideia é fazer um recorte da situação nestes próximos dias para tirar uma “fotografia” que vai expressar como está na realidade a bordo no momento em plataformas, na rotina de quem atua nos terminais e CNCL, para identificação de possíveis casos de contaminação.
Também está garantida a testagem para toda força de trabalho que atua no aeroporto de Jacarepaguá, onde ficará a barraca de testagem para monitoramento, conforme entendimentos feitos com a Infraero, concessionária do aeroporto que centraliza os embarques/desembarques das plataformas que operam nas bases do Sindipetro-RJ e do Sindipetro-LP.
Parceria com UNIRIO
Com a análise dos dados os sindicatos vão cobrar à Petrobrás medidas para proteger os trabalhadores, incluindo orientações e pacotes de medidas a serem implantadas, exigindo o fim desta política da direção da empresa que finge que está tudo normal, como se não estivéssemos em meio a uma pandemia que afeta a humanidade há nove meses.
“Vamos ter uma visão mais acurada de como está a realidade, divulgar, orientar os trabalhadores e apresentar as reivindicações correspondentes a ela para a gestão da empresa” – afirma André Bucaresky.
A iniciativa vai ser capitaneada pelo Laboratório de Análises Clínicas, Ambientais e Toxicológicas – LACAT, subordinado ao Departamento de Bioquímica da UNIRIO, sendo coordenado pelo chefe de Bioquímica, Jefferson Oliveira Silva.
“O material que vamos utilizar é um teste de imunodiagnóstico que é capaz de além de detectar o COVID-19, também identificar outros tipos de coronavírus. Então, a base cientifica é em cima de todo conhecimento que temos em relação a resposta imunológica dos seres humanos a estes agentes” – explica Jefferson.
Como funciona o teste
Segundo o pesquisador quando ocorre a infecção por COVID-19 em um primeiro momento acontece uma resposta celular inespecífico. Após o primeiro contato com o agente viral, em um segundo estágio, é iniciado o desenvolvimento de uma resposta viral com maior grau de especificidade, mas ainda incapaz de produzir anticorpos que sozinhos sejam capazes de eliminar o vírus. E em um terceiro estágio é produzida uma resposta imunológica mais especifica e mais efetiva com um anticorpo que é capaz de por si só eliminar o vírus.
Jefferson explica que no teste é medida a quantidade de anticorpos nesta primeira resposta, que é chamada a imunoglobulina (proteína) do tipo “M” que demonstra que o indivíduo foi infectado, estando no processo infeccioso pelo coronavírus. O teste também mede a imunoglobulina de maior especificidade que é produzida no segundo momento, a imunoglobulina do tipo “G”. Então este teste mede se o indivíduo desenvolveu imunoglobulina tipo “M” e aí apresenta um quadro de infecção, se ele já desenvolveu a COVID-19, e, se eventualmente se curou apresentará imunoglobulina do tipo “G”.
“Não é correto dizer que é mais completo ou menos completo, são propostas diferentes. O PCR é um teste padrão ouro, mas só é capaz de observar a infecção viral ativa” – especifica Jefferson, ao explicar a diferença deste teste para o aplicado pela Petrobrás.
Esse modelo de testagem que será utilizado nesta parceria entre o SindipetroRJ/Sindipetro-LP e a UNIRIO já foi realizado em trabalhadores da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. A Petrobrás também utiliza testes de IgG e IgM em algumas de suas unidades.
A importância da participação da UNIRIO neste processo, uma universidade pública, vai possibilitar a análise dos dados a partir de uma metodologia científica, dando embasamento de reconhecimento cientifico com o formato de pesquisa, com a própria UNIRIO adquirindo um conjunto de dados e experiência para elaboração de um padrão sobre a COVID-19. Assim, os Sindicatos, por sua vez, terão elementos para defender com mais eficácia e qualidade a saúde dos trabalhadores da Petrobrás e a saúde pública, fazendo com que afinal a verdade sobre a COVID-19 na Petrobrás apareça.