Um debate sobre este tema será realizado dia 3 de abril às 18h, no auditório do Sindipetro-RJ.
O SINDIPETRO-RJ integra a FRENTE CONTRA A INTERVENÇÃO MILITAR FEDERAL NO RIO DE JANEIRO e chama petroleiros diretos e terceirizados a aprofundarmos a análise e buscarmos soluções sobre este tema crucial para toda a classe trabalhadora.
Com a crise econômica e desemprego elevado no RJ, à rejeição popular atingindo níveis recordes, isolamento político agravado pelo insucesso da contrarreforma previdenciária e ainda mantendo pretensões eleitorais, Temer e o MDB adotam este recurso pirotécnico para buscar dar respostas a anseios populares legítimos derivados do crescente problema da violência.
A intervenção, surgida literalmente de uma reunião de marqueteiros da presidência, é apenas uma falsa sensação de combate à criminalidade e, na verdade, aumento da repressão nas comunidades mais pobres, que hoje vivem a violência imposta pelo tráfico, milícias, polícia e, agora, o (no mínimo, inadequado e despreparado) exército.
Longe de ter a intenção de resolver o problema da violência do estado do Rio de Janeiro, as causas fundamentais da intervenção militar encontram explicações em motivações políticas. Entre outras razões, a máfia governante busca manter sua impunidade pós-mandato.
Faz-se urgente encararmos de frente temas sensíveis e polêmicos como a descriminalização das drogas (e o consequente fim da guerra por territórios e os rios de dinheiro sobrando para a corrupção), o fim da Polícia Militar (e a instituição de uma única, civil e investigativa polícia), o direito à participação na organização de sua segurança pelas comunidades e vários outros temas que podem, radicalmente, e não como perfumaria, mudar as estruturas que facilitam o crime dos traficantes, das milícias e de colarinho branco. Isso, sem falar, obviamente, de uma política social que permita os jovens, negros, favelados, a terem alternativas mais concretas de educação, trabalho etc. Para debater tudo isso o Sindicato convocará assembleias sobre estes temas.
A intervenção militar é uma medida de exceção, autoritária e grave, que se insere na gradativa militarização da segurança pública, mas não ataca as causas (econômico-sociais) do problema e muito menos adota soluções estratégicas e de potencial perene.
Não há qualquer esforço para combater as desigualdades sociais, a segregação, os profundos problemas de educação, saúde, transporte e falta de acesso à cultura e ao esporte. Esse barril de pólvora ao qual a população fluminense é submetida é tratado somente como caso de polícia, tendo sempre como resposta a repressão obtusa, que gera ainda mais revolta. É óbvio que a violência no Rio de Janeiro é um problema grave, que atinge principalmente os trabalhadores e a população mais pobre, mas a verdadeira solução jamais virá por meio da militarização da cidade. Essa solução foi a mais aplicada nos últimos quinze anos, sem qualquer efeito que representasse uma mudança real na vida das pessoas comuns.
Sendo fiel ao pensamento escravocrata que forjou na sociedade brasileira a visão de segmentação de pessoas em função de sua condição financeira, o governo parte do princípio que a violência nasce e, portanto, deve ser reprimida, no seio das favelas e comunidades carentes. Finge-se desconhecer que os criminosos do “colarinho branco”, muitos dos quais empresários, banqueiros, ruralistas ou que têm assento nos parlamentos. São os verdadeiros orquestradores das condições que culminam com o nascimento de um traficante ou bandido em uma das várias comunidades pobres do Rio de Janeiro, bem como do Brasil afora.
Fecham-se os olhos diante dos helicópteros carregados de drogas ou do comércio ilegal que também ocorre em condomínios de luxo de bairros nobres, onde, vez por outra, uma morte suspeita gera um escândalo rapidamente abafado. Os mesmos financiadores do império das drogas, sempre acompanhado pelo tráfico de armas e muitas vezes até de pessoas, lançam-se hipocritamente ao lado de gente de boa fé no discurso de guerra ao narcotráfico e combate à violência, mantendo ocultas as fortunas que ajuntam no processo e mascarando os resultados pífios que tal “combate” consegue obter.
Sob forte propaganda e intensa omissão quanto às causas reais dos problemas do estado, a medida encontrou terreno fértil diante da crise estabelecida como consequência de anos de gestões, não por acaso, do mesmo partido que tomou de assalto o Palácio do Planalto: chegamos a um governo estadual decorativo e decadente diante da ruína da cúpula do PMDB/RJ, desmoralizada pela Lava Jato. O saldo da farra rentista e corrupta é conhecido: os atrasos nos salários dos servidores, a crise institucional, a decadência econômica, as batalhas campais em frente à Alerj e o retrocesso sem precedentes nos já precários serviços públicos.
Mais uma vez, figura o Rio como laboratório para experiências de reformas do capital, desde o choque de grandes obras e rearranjos urbanísticos mal conduzidos, tendo como pano de fundo os megaeventos internacionais, até as iniciativas de “soluções” milagrosas e espetaculosas para “resolver” o problema crônico e crescente da segurança pública.
Aliada à tática eleitoreira, a medida converge para uma inevitável intensificação da segregação do espaço dos pobres, limitando seu direito à cidade mediante opressão e desrespeito. As elites temem uma rebelião social gerada pelo agravamento da crise capitalista e como sempre desejam se encastelar na “casa grande”. Trata-se de proteger o patrimônio dos mais ricos e neutralizar qualquer ação de protesto e ocupação de espaço dos mais atingidos pela violência urbana, isto é, as favelas e bairros mais pobres.
(Versão do impresso Boletim 61 do Sindipetro-RJ)