Empresa emite direito de resposta que não esclarece paradeiro de trabalhador terceirizado envolvido em retirada de peça em área controlada da usina, durante uma parada de manutenção
A Eletronuclear, empresa mista que administra a usina nuclear de Angra 2 publicou no site de notícias ICL um direito de resposta por conta de matérias assinadas pela jornalista Tania Malheiros que abordam o caso do trabalhador terceirizado que foi demitido por subtrair uma peça radioativa da usina, mesmo em situação de contaminação.
Por incrível que possa parecer, a Eletronuclear informa que “é incorreto afirmar que a empresa mantém silêncio sobre o assunto, como o veículo retrata logo no título da matéria. A Eletronuclear divulgou duas notas no site oficial com detalhes sobre o ocorrido. A primeira, divulgada horas após o incidente, inclusive, foi a responsável por tornar o assunto público, o que ratifica a prática de transparência da companhia”, disse em matéria publicada no site do ICL na quinta-feira (5/12).
Tania Malheiros é considerada uma referência no assunto na imprensa brasileira, na matéria ela fez as seguintes considerações diante da nota da Eletronuclear:
“A jornalista confirma todas as informações. A Eletronuclear recebeu diversas solicitações de esclarecimentos, assim como a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e não prestou nenhuma informação. Ao contrário da CNEN, a Eletronuclear não esclareceu nada à reportagem, se limitando à publicação de notas em seu site. A reportagem perguntou as funções do trabalhador e porque teve acesso ao local controlado. Perguntou também como teve tempo de ainda atirar a peça no lixo. Perguntou também como será o tratamento do trabalhador. Entre outras coisas. Nada foi respondido. Felizmente o trabalhador teve baixa contaminação. Destacamos que é obrigação divulgar a informação. E não estão fazendo favor à sociedade.
Leia a nota publicada no ICL, em que a empresa contesta as reportagens da jornalista –
Perguntas que ninguém responde
Tanto a jornalista Tania Malheiros, quanto o Sindipetro-RJ entraram em contato com a comunicação da Eletronuclear para pedir mais esclarecimentos sobre o ocorrido, encaminhando perguntas que não foram respondidas até o momento, com a empresa responsável pela administração de Angra 2 enviando links de notas oficiais que não prestam esclarecimentos completos sobre o fato.
Links das notas da Eletronuclear
O Sindicato enviou as seguintes perguntas:
Qual é o nome da empresa contratada que opera o serviço? Se o fato é considerado acidente de trabalho, se foi emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) e sendo assim, se o trabalhador poderia ser desligado? Se foi aberto algum registro policial? Qual a qualificação exigida para esse tipo de serviço”, entre outras.
Já a jornalista Tania Malheiros enviou outras 10:
1 – Como o trabalhador teve acesso à área controlada? 2 – Qual a função dele e atividades que desempenhava?3 – Há quanto tempo trabalhava para a companhia? 4 – Como teve tempo e condições e atirar a peça na lixeira? 5 – Pode ter havido tentativa de “furto”? A polícia foi comunicada? 6 – A companhia garante que outros trabalhadores não foram contaminados? 7 – Se o material era rejeito radioativo, por que estava em outro lugar fora da piscina? 8 – Qual a classificação do rejeito radioativo: de baixa ou média atividade? 9 – A empresa prestadora de serviço responsável pelo trabalhador foi advertida? Quais os critérios para a contratação de profissionais para trabalhar nas usinas nucleares? 10 – O profissional terceirizado foi afastado; qual a responsabilidade pela saúde dele, já que foi contaminado?
Eletronuclear informa que peça foi colocada debaixo de veste de proteção
Uma das poucas informações detalhadas na nota da Eletronuclear é que a contaminação ocorreu por ato irregular e não autorizado perpetrado deliberadamente pelo prestador de serviço, na tentativa de retirada não autorizada de peça de dentro da área de contenção por debaixo da veste de proteção.
Ainda segundo a nota, “apesar da contaminação superficial, o evento está dentro da normalidade dos parâmetros radiológicos das paradas de manutenção das Usinas. A diferença se dá apenas pela ação deliberada do trabalhador, que foi advertido com um Relatório de Violação Radiológica”, informa jogando todo o ônus do ocorrido no trabalhador que ninguém sabe, ninguém viu.
A reportagem tentou contato com sindicatos que representam trabalhadores de Angra 2, mas infelizmente as entidades não possuem informações sobre o caso. Não se sabe quem é o empregado terceirizado, sua empresa e sua situação de saúde. O caso até o momento não está tendo a repercussão que deveria ter devido a sua gravidade. Um verdadeiro mistério.
Uma triste coincidência
O Sindipetro-RJ teve acesso a esse caso a partir da triste coincidência ocorrida no dia 27/11, quando dois trabalhadores terceirizados da empresa Olicampos morreram e um ficou ferido após o desmoronamento de uma plataforma de concreto de trabalho na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), localizado no Terminal Baía de Ilha Grande (TEBIG), da Transpetro, em Angra dos Reis-RJ.
Imagem em destaque: Eletronuclear