Em dois dias, mais de 60 trabalhadoras petroleiras debateram questões interseccionais relativas às pautas de gênero dentro do Sistema Petrobrás e deliberaram resoluções para o Acordo Coletivo de Trabalho
Nos dias 05 e 06/05, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) organizou o seu 1° Encontro Nacional de Mulheres. O evento contou com a participação de mais de 60 mulheres nos dois dias e aconteceu simultaneamente nas bases dos cinco sindicatos filiados e no formato nacional híbrido.
Na abertura, diversas lideranças políticas saudaram a grandeza e a importância do encontro no combate ao machismo na Petrobrás, bem como no dia a dia do país e do mundo.
Além das petroleiras, militantes e representantes de outras categorias também manifestaram apoio à iniciativa feminina, como a presidenta do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa, e a vereadora da cidade do Rio de Janeiro, Luciana Boiteux (PSOL-RJ).
A mesa principal da sexta-feira tratou dos desafios das mulheres na atualidade e foi conduzida por Marcela Azevedo, do Movimento Mulheres em Luta (MML) e do PSTU; e Tatiany Araújo, da Resistência Feminista e do PSOL. Ambas as debatedoras fizeram uma análise da conjuntura política brasileira atual, realçando a vitória das trabalhadoras contra o Bolsonaro nas eleições do ano passado.
Em uníssono, todas as participantes que pediram a palavra criticaram o governo Bolsonaro e a direção da Petrobrás em sua nefasta política para o desmanche da companhia, a regressão de direitos, a falta de espaço para se manifestar e o aumento da cultura da violência contra as mulheres na empresa e no cotidiano, endossadas pelo ex-chefe de Estado.
“Precisamos aproveitar esse momento. Convivemos com o assédio sexual desde sempre, se agravando nesses últimos quatro anos. Eu pessoalmente tinha muito medo do que poderia nos acontecer, caso Bolsonaro fosse reeleito. Agora, é o momento de avançar em nossas pautas, conquistamos esse espaço”, disse Cidiana Masini, vice-presidente do Sindipetro-SJC e diretora da FNP.
No encontro, demitidas políticas da Petrobrás e subsidiárias também relembraram dos seus casos e ressaltaram ao plenário como a organização de mulheres naquele espaço era acolhedor para projetar as próximas lutas – algo improvável até poucas décadas atrás, quando elas foram perseguidas e assediadas.
“As mulheres têm sido extremamente importantes em vários movimentos. A mobilização das mulheres é crescente. Que nossas dores individuais se unam às dores de nossas companheiras, gerando força de mobilização e luta”, complementou Cidiana.
Combate ao assédio
No segundo dia do Encontro Nacional de Mulheres da FNP, a pauta do assédio sexual e moral dentro da Petrobrás abriu os trabalhos pela manhã e deu a tônica nas demais atividades. Após a votação do regimento, o painel “Combatendo o assédio no ambiente de trabalho” contou com a presença da advogada do Sindipetro-RJ, Karina Mendonça; da pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Luciana Gomes; e da doutoranda em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP), Daniela Tavares.
O caso do assediador do Centro de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro, foi relembrado em muitas intervenções das petroleiras, que sempre ressaltavam se tratar de um reflexo da cultura machista vigente na empresa, e que lamentavelmente não tomou as medidas corretas, na hora certa, para proteger as trabalhadoras violentadas do dano causado. Uma dessas trabalhadoras esteve presente no 1° Encontro de Mulheres da FNP e foi homenageada pelas petroleiras.
“Infelizmente, o assédio, qualquer que seja ele, não é uma novidade na sociedade e tampouco na Petrobrás. O que faz a diferença é como a gestão da empresa lida com esse problema: de forma a autorizá-lo ou coibí-lo. E nós estamos aqui reunidas para que esse tipo de prática não seja mais naturalizada e tolerada na nossa empresa. Queremos um espaço de trabalho de respeito, seguro e saudável para todas”, disse Moara Zanetti, conselheira do Sindipetro RJ. Ela reforçou ainda que não dá pra se pensar em políticas de combate ao assédio sem priorizar as trabalhadoras terceirizadas que possuem vínculos e contratos precários com a Petrobrás.
“Essa reunião das mulheres petroleiras é uma potência. Quando nos reunimos e nos organizamos, nos fortalecemos e tornamos o nosso sofrimento, aparentemente individual, como pauta política, mobilização. Isso nos torna muito mais fortes nessa correlação de forças tão desigual e com avanços inevitáveis”, comentou Moara.
Outras atividades e próximo encontro
O segundo dia do encontro ainda contou com um debate sobre os direitos das mulheres em acordos coletivos conduzido pelas especialistas Ana Godoy, do Instituto Latino Americano de Educação (ILAESE), e Renata Belzunces, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).
À tarde, as trabalhadoras se reuniram em grupos de trabalho e depois votaram as resoluções, que serão sistematizadas nos próximos dias para serem apresentadas como pautas das mulheres da categoria petroleira no ACT.
“O encontro foi muito importante, debateu os desafios das mulheres na atualidade, preparou e organizou as mulheres pra enfrentar os desafios do próximo acordo coletivo, buscando ampliar a luta contra o assédio sexual e o assédio moral na Petrobrás, e buscando também ampliar os direitos das mulheres”, explicou Natália Russo, diretora do Sindipetro-RJ e da FNP.
“A gente sai mais fortalecida após este encontro. Nós homenageamos as bravas guerreiras do CEPES, que fizeram as denúncias de assédio sexual e levaram a todo esse desencadear desta luta contra o assédio. Foi um momento muito emocionante. É a gente se organizando, se encontrando, acolhendo umas às outras, que a gente vai conseguir fortalecer os nossos laços de solidariedade, defender os nossos direitos no ACT e lutar contra o assédio”, resumiu Natália Russo.
E vem aí: Encontro Nacional de Petroleiras Unificado, que reunirá petroleiras da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), de 23 a 25/05, em Cajamar (SP). Participe!