Na Petrobrás, o menu também é esconder dados e ignorar riscos. FNP exige suspensão do plano de retomada, medidas emergenciais e transparência de dados sobre a COVID-19
Na busca de solucionar o entrave e garantir a segurança dos trabalhadores, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) enviou um ofício na terça-feira (9) para a Petrobrás com diversas denúncias e exigindo atendimento imediato às demandas dos trabalhadores em risco.
No documento, a FNP também questiona a insistência da empresa em descumprir liminares e gastar milhares de reais em advogados e administradores para esconder números e não adotar protocolos mais seguros.
Como resposta negativa ao ofício, o cancelamento de uma reunião
E já adiantando que não pretende fazer nada a direção da empresa enviou uma “não resposta” a este ofício, que foi a desmarcação da reunião semanal desta quarta (10).
“Prezados, em atenção a Carta FNP 32/2020 e a impossibilidade de a empresa de atender as solicitações feitas pelos sindicatos na reunião marcada, estamos cancelando o evento de hoje a tarde”. Será que isto quer dizer que ela vai remarcar a reunião pra hoje (11), com todas as respostas e medidas demandadas atendidas? Certamente não!
Protocolos da OMS que são relegados
Após a direção restringir a divulgação de dados sobre a COVID-19 no Sistema Petrobrás para a imprensa e para os trabalhadores, Castello Branco e os gestores de Estrutura Organizacional de Resposta (EOR) e do RH adotam protocolos que confrontam especialistas e cientistas, além de insistirem no relaxamento do isolamento social.
A nostalgia do governo Bolsonaro pela ditadura civil militar nunca foi escondida, ao contrário do que faz com os números da pandemia no Brasil. E a direção da Petrobrás, da mesma forma que o ministério da Saúde, através de seus generais que mal entendem de geografia, sonega informações de interesse público.
Monólogo semanal
A FNP também criticou a forma como as reuniões semanais são conduzidas pelos gestores do EOR e do RH e destacou que não passam de um monólogo teatral que mais desinformam do que agregam, um desrespeito aos trabalhadores.
Reuniões com informes “lacônicos e preguiçosos, dedicados a ‘cumprir tabela’ para transparecer para a categoria e para a Justiça a ilusão de que existe algum diálogo com os sindicatos”, destacou a FNP no documento.
A FNP ainda deixou bem claro que não concorda com o protocolo adotado pela companhia e muito menos negociou qualquer plano de retorno ao trabalho.
“Acreditamos ser despropositado e prematuro o desvio de foco de gestores, que deveriam estar preocupados em combater a pandemia e não ansiosos e exultantes em implantar novas formas de exploração, ‘que vieram para ficar’ no ‘novo normal’, seja lá o significado do termo para estes prepostos”, afirmou FNP no texto.
Situações de risco
Enquanto faz planos para aumentar o contingente e o grau de exposição ao risco, os gestores fazem ouvidos moucos para a situação do pessoal que está no front de produção nas plataformas, refinarias, terminais, usinas e turno dos prédios administrativos.
Como é o caso dos trabalhadores das plataformas:
. arriscam-se no transporte terrestre, no próprio helicóptero, nos camarotes e nos aeroportos (veja detalhes no documento);
. expõem suas famílias e a sociedade ao contágio, já que testes não são realizados no desembarque.
.Trabalhadores já estão sendo convocados para o retorno imediato no COMPERJ fora da escala.
.Empregados do administrativo estão orientados a recolherem seus objetos pessoais na segunda quinzena de junho. O que, além do despropósito já mencionado, obrigará centenas de trabalhadores a romperem o isolamento e gerar aglomeração.
Escondidinho à Castello, um prato cheio para a COVID-19
A FNP enviou um levantamento realizado pelos seus sindicatos sobre o número de mortos no Sistema Petrobrás. “Mas temos certeza que muitos mais colegas foram mortos e poderíamos trabalhar com números reais, não fosse o esforço de subnotificação por parte da direção da empresa”, afirma o ofício.
A FNP também exigiu esclarecimentos e medidas emergenciais sobre outros pontos, entre eles:
. demissão de terceirizados, especialmente os de grupo de risco;
. planos sobre horário reduzido, teletrabalho e acordos individuais;
. transferência dos cedidos à Transpetro;
. revisão da NT-28 (veja também a matéria anterior “Petrobrás obriga petroleiros com COVID-19 a trabalhar”);
. criação de uma gerência de recrutamento e seleção.
Leia aqui o documento na íntegra, com as considerações e medidas exigidas pela FNP.
Sindipetro-RJ fazendo a sua parte
O Sindipetro-RJ como um dos fundadores da FNP apoia integralmente esta cobrança em relação a direção da Petrobrás, para que se acabe a sensação entre os trabalhadores de estarem sendo submetidos a uma verdadeira “roleta russa”, com cada dia trabalhado sendo encarado como um desafio pela vida.
Hoje, o Brasil está próximo do topo mundial da contaminação e mortes por COVID-19, é um absurdo que os gestores da Petrobrás estejam planejando a normalização das atividades, quando ainda não realiza a testagem em todas as unidades com trabalho presencial.
Castello Branco e a diretoria da empresa se mantêm isolados e protegidos e brincam de roleta russa com a saúde dos trabalhadores. O Sindipetro-RJ , assim como a FNP, vai continuar em luta pela vida dos petroleiros, providenciando medidas judiciais e institucionais cabíveis para denunciar a empresa, já que esta continua com sua postura de impedir qualquer forma de diálogo, como é evidenciado pelo ofício 122 que foi enviado para a Petrobrás, sendo que até o momento não obteve resposta.
Viemos para trabalhar e não para morrer! Fora Castello Branco!