O debate trouxe à tona reflexões importantes sobre os desafios políticos e sociais do Brasil, com foco na luta contra o avanço do bolsonarismo e na crítica à política de conciliação promovida pelo governo Lula
Para falar sobre a conjuntura nacional, foram convidados Atnágoras Lopes, dirigente da Executiva Nacional da CSP-Conlutas e Valério Arcary, historiador e professor.
Enquanto Arcary apresentou uma análise histórica sobre as raízes da crise política, Atnágoras reforçou a necessidade de uma organização combativa e independente dos trabalhadores como única saída possível diante do atual cenário.
Valério Arcary lançou uma provocação à plenária: “Que horas são no relógio da história do Brasil?” Para ele, compreender a conjuntura exige mais do que observar os fatos imediatos: é preciso adotar uma perspectiva histórica. “A vida de um país não segue a mesma escala de tempo da vida de uma geração”, afirmou.
Arcary defendeu que o Brasil se encontra numa encruzilhada histórica, marcada tanto por perigos quanto por oportunidades. Segundo ele, vivemos não apenas uma fase de retrocesso conjuntural, mas um processo de decadência histórica, algo inédito em nossa trajetória.
Apresentando dez elementos centrais para análise da situação política, o historiador destacou, entre outros pontos, o poder da burguesia brasileira, “a mais poderosa do Hemisfério Sul”, e a força ainda latente da classe trabalhadora, que, mesmo após derrotas recentes, segue como um ator social estratégico.
Arcary relembrou o período da ditadura militar e argumentou que, no Brasil, ela “não foi derrubada, apenas acabou”, diferente de países como Argentina e Chile.
“É ilusório tratar com normalidade a existência de 30% da população sob influência ideológica fascista”, alertou. Segundo ele, o retorno de Bolsonaro ou de um projeto ainda mais radical traria consequências devastadoras: milícias armadas, repressão à organização popular e ataque direto às universidades públicas.
Arcary também alertou para três caminhos que se colocam à esquerda brasileira, dois dos quais são armadilhas históricas. O primeiro erro seria a subordinação ao governo Lula, renunciando à crítica em nome de uma suposta unidade antifascista. Segundo Arcary, isso enfraquece a mobilização popular ao transferir para as instituições do Estado burguês a tarefa de promover mudanças.
“O governo Lula é um governo de conciliação. Negocia com o Centrão, sustenta o teto de gastos e entrega os lucros da Petrobrás ao mercado”, disse.
O segundo erro seria adotar uma postura sectária, ignorando a correlação de forças e agindo como se o País estivesse às vésperas de uma revolução. Para ele, isso só isola a vanguarda e fortalece a extrema direita.
A única alternativa viável, concluiu, é a construção paciente, mas firme, de um projeto socialista enraizado na classe trabalhadora. Isso exige presença nos locais de trabalho, nas periferias e nos movimentos sociais, com pautas concretas como a redução da jornada de trabalho, a estatização da Petrobrás e a revogação das reformas neoliberais. “A revolução exige organização, estratégia e coragem”, destacou.
Independência de classe e organização dos trabalhadores
Atnágoras Lopes criticou a conciliação de interesses e defendeu a retomada da autonomia da classe trabalhadora.
Logo no início, destacou que muitos setores da esquerda abriram mão de princípios históricos ao longo dos anos. Apesar de legítimas, essas opções tiveram como consequência o enfraquecimento da consciência política entre os trabalhadores.“Um dos maiores crimes dos governos de conciliação, como os do PT, foi sepultar a ideia de que a classe trabalhadora pode tomar o poder e construir uma sociedade socialista”, pontuou.
Atnágoras explicou que o atual governo Lula-Alckmin não representa os interesses da classe trabalhadora: “Está comprometido com o agronegócio, com os bancos, com o imperialismo. Por isso, não serve aos trabalhadores!”
Ele também criticou a visão simplista de que quem não apoia o governo estaria automaticamente aliado a Bolsonaro. Para ele, a esquerda deve combater tanto o fascismo da extrema direita quanto as concessões feitas pelo governo ao capital. Só assim será possível construir uma saída verdadeiramente popular para a crise.
Concluindo sua fala, Atnágoras fez um chamado à coragem: “Precisamos de uma saída dos trabalhadores para a crise. Isso exige romper com a lógica da conciliação e confiar na força da nossa classe.”
Ao abrir a palavra para a plenária, cerca de 30 congressistas disputaram as 10 intervenções possíveis, revelando o anseio da categoria petroleira em discutir saídas coletivas para a política brasileira. O debate ocorreu em altíssimo nível e foi louvado pelos palestrantes.