XV Congresso FNP 2025: painel Conjuntura Internacional

Palestrantes abordaram questões relativas às crises estruturais do capitalismo e a decadência do modelo imperialista dos Estados Unidos 

No segundo dia do XV Congresso da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), em 06/06, esse Painel contou como convidados o pesquisador Cacau Pereira, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS), apresentou um panorama abrangente da conjuntura internacional e seus reflexos no Brasil; o dirigente sindical Hebert Claros, metalúrgico da Embraer, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região e membro da Executiva Nacional e Relações Internacionais da CSP-Conlutas; e o dirigente sindical David Almeida, secretário-geral da Asociación Nacional de Trabajadores de las Empresas de la Energía y el Petróleo del Ecuador (ANTEP) e dirigente da Federación Internacional de Trabajadores del Sector Energético e Hidrocarburífero de Latinoamérica y el Caribe (Fitehlyc) – organização que a FNP também é membro-fundadora.

Em sua análise, Cacau Pereira apontou que o mundo vive uma “multicrise” – econômica, ambiental, geopolítica e da democracia liberal – e alertou para uma nova ofensiva imperialista, com destaque para os Estados Unidos. Segundo o pesquisador, os EUA lideraM uma estratégia colonialista com viés neofascista, marcada pela quebra do multilateralismo, o recrudescimento da política externa e a imposição de sua agenda econômica e militar.

Cacau destacou que, apesar de algumas manifestações em países como EUA, Argentina, Turquia e Sérvia, os sinais de resistência ainda são limitados e dispersos. Ele destaca que “são manifestações pequenas e globalizadas, mas muito importantes” e que “começamos a ver nos Estados Unidos movimentos iniciais de contestação, que estão obrigando o governo a negociar”, afirmou.

O pesquisador defendeu que não há possibilidade de enfrentar esse sistema sem mobilização popular: “Se não tiver mobilização, nós vamos perder. Não tem diálogo, essa é que é a verdade”.

Ao tratar da realidade brasileira, o pesquisador criticou a ausência de lutas políticas mais organizadas e afirmou que o atual governo, apesar de ter vencido Bolsonaro nas urnas, está preso a uma lógica de governabilidade, baseada em acordos com o “centrão” e setores da direita, o que limita drasticamente sua capacidade de ação.

Ele lembrou que temas centrais, como a taxação de grandes fortunas e a ampliação de investimentos públicos, seguem travados por conta do arcabouço fiscal e da correlação de forças no Congresso. “Sem mobilização, não tem possibilidade de que mude essa agenda”, reforçou.

Cacau também relacionou as questões internacionais à conjuntura da Petrobrás, alertando para o avanço da direita na disputa pelos espaços institucionais e denunciando o peso do capital financeiro sobre a empresa. Por fim, ele apontou caminhos de luta que podem gerar mobilização concreta, como a redução da jornada de trabalho frente à automação e o fortalecimento de uma agenda sindical popular. “Os desafios são muitos, mas a gente pode mudar essa situação”, concluiu.

Crises estruturais do capitalismo

O dirigente sindical Hebert Claros destacou a gravidade da conjuntura internacional marcada por crises estruturais do capitalismo.

Em sua fala, Claros apontou que a natureza do sistema é atravessada por ciclos de crise e recuperação, sendo a pandemia de Covid-19 um dos gatilhos recentes que aceleraram a precarização do trabalho.

O sindicalista relatou episódios de solidariedade internacional como, por exemplo, a atuação conjunta com os petroleiros do Rio de Janeiro em ações em frente ao consulado do Panamá em Santos, na quinta-feira (05/06), antes do início do XV Congresso da FNP.

Hebert Claros chamou atenção para o crescimento alarmante da concentração de riqueza global: desde 2020, 1% da população mundial passou a controlar dois terços da riqueza produzida, algo em torno de US$ 42 trilhões, conforme dados apresentados pela Forbes.

Ele criticou a política de privatizações e o avanço do capital financeiro sobre os serviços públicos, afirmando que a crise econômica se articula a outras duas grandes crises — a climática e a política-diplomática —, que se entrelaçam e aprofundam as desigualdades.

“A lógica do capital transforma tudo em mercadoria, inclusive os direitos sociais. A organização popular e a solidariedade internacional são caminhos para resistir a esse modelo destrutivo”, concluiu.

 O papel do imperialismo nas tensões geopolíticas

O dirigente sindical David Almeida realizou uma profunda análise da atual conjuntura internacional, destacando o papel central do imperialismo nas tensões geopolíticas e nas crises que afetam diretamente os trabalhadores.

A guerra na Ucrânia foi apresentada como um reflexo da disputa entre potências — particularmente entre a OTAN e o eixo Rússia-China — e como evidência da preparação global para um conflito de proporções ainda maiores.

O confronto, além de intensificar o gasto militar dos países europeus, escancarou a dependência energética do continente e o fracasso prático da tão propagada transição energética, ainda altamente dependente de combustíveis fósseis.

Segundo David Almeida, o imperialismo não é apenas uma política externa agressiva, mas uma fase superior do capitalismo marcada por um crescente parasitismo econômico. A exportação de capitais, a fusão entre grandes bancos e conglomerados industriais, e a busca desenfreada por áreas de influência revelam um sistema que, para manter suas taxas de lucro, paralisa o desenvolvimento de países periféricos enquanto promove guerras e pilhagens.

O dirigente também resgatou a análise de Lenin sobre o imperialismo e defendeu um projeto político com base em um governo operário e camponês, orientado pelo socialismo internacionalista, poderá romper com a lógica da guerra e da exploração.

Últimas Notícias