Durante uma reunião interna realizada na semana passada, Jairo dos Santos Júnior, gerente geral do Compartilhado, resolveu abrir o jogo sobre os novos critérios de pagamento da PRVE, antiga PLR. Em áudios obtidos por nossa reportagem e que já circulam no Whatsapp, o gerente fala absurdos que listamos na sequência. Note-se que a tática aplicada é do total diversionismo entre os empregados, insuflando o individualismo e caracterizando problemas de saúde como uma forma desonesta de obter vantagens na Petrobrás.
No momento em que se negocia um novo ACT, isso representa mais um gesto da direção da empresa que implanta um desmonte descomunal na companhia, fazendo com que seus empregados paguem o preço por trabalharem na Petrobrás, como se isso fosse um castigo a ser aplicado.
“Precisamos mudar o modelo mental”
“Precisamos mudar o nosso ‘modelo mental’. Nós estamos saindo de um modelo de uma PLR que era praticamente igual para todo, muito menos “elástico”, para agora um modelo de desempenho que é atrelado a partir do nível de entrega de cada um, a quantos dias você trabalhou por ano. Para que você pense sim, duas vezes, se aquela dor de cabeça que você está sentido é motivo para não comparecer ao trabalho” – disse Jairo ao abrir a conversa.
O processo é transparente, mas a planilha oculta
Presente no encontro uma gerente não identificada disse o seguinte: “É inviável, pois nenhuma empresa do mundo abre planilha de cálculo para nenhum acesso e nenhuma contabilização, (… trecho inaudível). A PLR não tem tabela aberta para ninguém. Então você trabalha em uma empresa que está expondo abertamente a regra do jogo, está disponibilizando simulador para acesso, e de forma alguma vai abrir para conferência individual para (… trecho inaudível) de que a companhia está pondo é limpo é justo. ” Resumindo: a empresa esconde o jogo.
Problema no cálculo- corrige no próximo ano
Complementando, o gerente do Compartilhado diz: “A planilha do sistema tem que refletir o isso (desempenho). Mas aí alguém vai dizer: ‘Ah Jairo, mas não está refletindo na sua plenitude’. Ok, paciência. Tem que melhorar que a companhia melhora para o próximo ano” – sem admitir qualquer questionamento do empregado.
Todo mundo tem um amigo “Bombril”
Prossegue Jairo: “Tem colega que vive apresentando atestado, que se sabe que o cara arma, com o famoso atestado “Bombril”. E você fica com cara de … caramba. Se sentindo injustiçado porque chega no final do ano que aquele cara que é o armador, que vive faltando, que pega a PLR de você. Então, isso tem que nos levar de fato a uma reflexão.Nós agora, parte da nossa remuneração advém, efetivamente, da parte que nós entregamos para a companhia. Então precisamos estar atentos a isso” – falou o gerente como se o tal atestado “Bombril” fosse regra para os empregados da Petrobrás, uma tremenda falta de respeito.
Problema no cálculo, culpa do GD
“Eu repito que antes de qualquer questionamento que cada um revisite o seu GD (…trecho inaudível). O problema às vezes não é o RVE. Às vezes o problema é de avaliação de GD, e aí eu vou ter que resolver com o meu gerente, com meu supervisor, com quem fez a minha avaliação. Quer dizer que as minhas metas e competências foram avaliadas adequadamente? Meu gerente foi bem avaliado? Pois, o meu gerente é avaliado a partir do resultado da Gerência , e eu contribuo para o resultado da Gerência. ” – disse, jogando o peso das avaliações para os subordinados, tensionando a relação com os gerentes.
Empenho x desempenho
“Precisamos entender que o driver da empresa daqui para frente, o driver da meritocracia que pressupõe desempenho e não empenho. ‘Poxa, eu trabalhei para caramba’, mas o resultado não foi alcançado” – não relevando o esforço o empregado.
Precarizar para compensar
A gente trabalha , sim , por produtividade. Então imagine um mecânico que recebe ordens de manutenção do SAP para executar. Ele tem no GD que executar duas ordens de manutenção por dia, digamos que seja isso. Então, ele se afasta por 30 dias e não vai executar aquelas ordens de manutenção que estavam indicadas para ele, tendo isso a ser repassado para outra pessoa. Quando ele volta perde esse prazo? Não. Porque quando ele voltar, se ao invés executar duas ordens de manutenção por dia, e for tão eficaz e tão eficiente, executando três ordens por dia, durante os próximos dois meses, quando chegar ao final do ano, que o gerente for avaliar o GD, será observado quantas ordens de manutenção ‘fulano’ executou ao longo do ano. Então se são duas por dia, 240 dias do ano, eu esperava que fulano executasse 480 ordens por ano. Se o fulano se afasta por 30 dias, e voltando executou 520 ordens de manutenção. Eu garanto que no cálculo esse mesmo fulano, que ficou afastado, será compensado pelo resultado a mais pelo que entregou ” – afirmou Jairo, dizendo que a empresa vai vampirizar quem tiver necessidade de afastamento por doença, entre outras situações.
Vale destacar, que o Sindipetro-RJ apura denúncias sobre injustas revisões de notas de GD de petroleiros de gerências inteiras, por pura conveniência gerencial, as quais, mais uma vez, jogam o discurso da meritocracia pelo ralo. Exatamente como aconteceu com as profissionais Moara Zanetti, Patricia Laier e Carla Marinho, destacadas pelo mérito e punidas por serem dirigentes sindicais.
Por isso, nenhum direito a menos. Por um ACT justo e digno para os petroleiros e petroleiras!