“É com satisfação que posso dizer a vocês que estamos conduzindo o barco com segurança por mares nunca dantes navegados”, disse Castello Branco ao divulgar na noite de quinta (30) os resultados com prejuízos do segundo trimestre da Petrobrás, enquanto a live promovida pelo Sindipetro-RJ estava no ar debatendo, por exemplo, a privatização da lucrativa Petrobrás Biocombustível.
Um dos convidados da live, o cientista político e economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (IBEPS), Eric Gil Dantas comentou o prejuízo da Petrobrás neste trimestre. “O que ajudou a Petrobrás a ter um prejuízo menor foi a questão da venda, por exemplo, de produtos das refinarias. De fato não podemos confiar no que dizem Paulo Guedes e toda a equipe econômica do governo Bolsonaro. Eles não estão nem um pouco preocupados com o futuro da Petrobrás”, afirmou Dantas.
A diversificação da Petrobrás é fundamental
No cenário em que vivemos desde meados de março, com uma das maiores crises econômicas da história da indústria do petróleo, Dantas explicou que “o que deve existir na Petrobrás para diminuir os efeitos da queda do valor do petróleo é justamente a diversificação da empresa e não vender tudo e ficar somente com o Pré-Sal, porque quando o preço do petróleo cai drasticamente, e isso não é novidade e ocorre a todo momento na indústria do petróleo, o futuro da maior empresa do Brasil torna-se incerto”. O especialista ainda estimou que “daqui a algumas décadas a Petrobrás acabará se depender de estratégias de pessoas como o Paulo Guedes, Castello Branco e Bolsonaro e nós não podemos deixar que isto aconteça. A Petrobrás precisa ser uma empresa verticalizada, diversificada e forte”.
“Tremenda contradição”
O economista da Petrobrás aposentado, Cláudio da Costa Oliveira criticou até mesmo o título do “Fatos e Dados” publicado pela atual administração da empresa: e com Ebitda e fluxo de caixa livre positivos”. Segundo Claudio, na história da Petrobrás jamais foi registrado um Ebitda negativo e com investimentos praticamente zerados, porque não tem como o fluxo de caixa livre deixar de ser positivo. E há contradição ao afirmarem que o Ebitda é importante “facilitando a comparação de resultado entre companhias”, porque definiram Ebitda no glossário do release como “esta métrica não está prevista nas normas internacionais de contabilidade – IFRS , e é possível que não seja comparável com índices similares reportados por outras companhias”.
Apuração obrigatória
Para o petroleiro aposentado, diferente do Ebitda, a Geração Operacional de Caixa (GOC) é prevista nas normas internacionais de contabilidade e de apuração obrigatória e seu cálculo é padronizado, podendo seus resultados serem comparados ao de outras empresas. “No 2º semestre de 2020, a GOC da Petrobrás foi de R$ 29 bi, representando uma forte queda de 17% em relação ao 1º trimestre (R$ 35 bi), mas como esse resultado precisa ser avaliado de forma comparativa ao de outras grandes petrolíferas precisamos aguardar esta divulgação que deverá ser feita no início do mês de agosto”, informou o economista.
Segundo Cláudio da Costa Oliveira querem nos enganar começando pelos títulos dos resultados. Para ele, o título deste último release deveria ser “no 2º trimestre de 2020 tivemos um prejuízo de apenas R$ 2,7 bi devido ao efeito positivo no resultado de um ganho judicial (no processo PIS/Cofins) no valor de R$ 7,7 bi”. E com relação ao resultado de 2019, quando a empresa informou ter obtido lucro recorde de R$ 40 bi, deveriam ter noticiado que “registramos um lucro de R$ 40 bi em 2019 devido ao lançamento do lucro contábil de R$ 38 bi obtido na venda da BR Distribuidora e da TAG”.
E quando à frase de Castello Branco, “eu posso dizer sem medo de errar, que eles poderão facilmente ir muito além da Taprobana, já que, como sabemos, acreditam (menos mal) que a terra é plana”, concluiu o petroleiro aposentado.