“Um dos objetivos da instalação do software em qualquer dispositivo é o controle total e máximo do dispositivo, do seu uso e do seu usuário. Não pode haver ilusões quanto aos limites pretendidos: TUDO é para ser controlado, inclusive as intenções.” A afirmação é do engenheiro de computação pelo centro tecnológico de Uppsala, Suécia, Pedro Alves, que atualmente é conselheiro do CREA-RJ.
Para ele, é fundamental que a discussão seja sobre a privacidade de cada indivíduo, a propriedade dos dispositivos e a separação entre o que é da empresa e o que não é.
“Com os controles realizados por aplicativos seja ‘Intune’ ou muitos outros que existem no mercado e sendo usados, a força de trabalho que era tradicionalmente objeto da empresa e do investimento do capital, passa a abranger também a exploração dos objetos e instrumentos de trabalho de propriedade privada do assalariado e se passa a controlar também seu potencial cognitivo e de expansão além dos limites e para fora da empresa”, afirma o especialista.
Alves lembra que, historicamente, o artesão abandonou seus instrumentos de trabalho no final do século XIX com a industrialização e tornou-se assalariado. Hoje, as redes sociais são, sem exceção, grandes espaços em que se tem controle dos seus participantes, desde seus desejos, preferências, opções de consumo, relações familiares, religiosas, politicas, etc.
Intune X Redes sociais
“Curiosamente, o uso do ‘Intune’ como de outros aplicativos sociais é de alguma forma ‘apropriado’ pela empresa ou pela ‘rede social’ que transforma e visa com esta apropriação ‘monetizar’ mais ainda o produto e a empresa aumentando o seu chamado ‘capital’ e ‘valor de estoque’. No ‘estoque’ também está incluída a força de trabalho e a extensão da jornada de trabalho além dos limites tradicionais”, analisa Pedro Alves.
Via internet, empresas agem sem limites
O engenheiro ainda esclarece que “as empresas buscam ampliar suas ‘propriedades’ e ‘pertences’ para além dos seus limites, sem discutir a propriedade e a pertinência do controle da jornada de trabalho, que pode se estender para as 24 horas do dia e os 7 dias da semana. A extensão também é geográfica, isto é, o trabalhador não precisa comparecer a um local especifico para trabalhar: o trabalho está onde a força de trabalho está”.
Apesar do significado de “dispositivos” ter evoluído no ambiente de trabalho, Alves avalia que no caso da Petrobrás, em sendo um empresa pública, por enquanto, cabe também questionar os objetivos da implantação de tais aplicativos de controle. Vai aumentar a eficiência da empresa ou é simplesmente uma forma de drenar recursos da empresa pública para objetivos particulares?
Banco detalhado de dados
Segundo Pedro Alves, “os riscos para os funcionários no caso da instalação do software em aparelhos celulares particulares é de ser totalmente controlado, sequer necessitando ‘bater’ o ponto. É bom observar que estes aplicativos de controle já estão sendo usados há algum tempo por muitas empresas. Temos casos inclusive de implante de chips para controle de funcionários.
A incorporação dos dados pessoais no banco de dados da empresa, em que estarão incorporadas também preferências de consumo, lugares onde visita, relações sociais, de organizações religiosas, sindicais e politicas permitirá que a empresa mantenha os funcionários que julgar encontrar o máximo de ‘lealdade’ possível numa forma de pontuação estabelecida pelo próprio aplicativo.
A própria empresa precisa dizer que não dá garantias sobre o que vai estar ou não sob seu monitoramento para não aumentar resistências à implantação do sistema. Além do que, os controles atuais previstos poderão ser aumentados. A empresa não se compromete com as suas pretensões futuras”.
Para concluir, o engenheiro traçou pontos de negociação que estão em aberto:
– Jornada de trabalho e sua extensão;
– Abrangência geográfica do local de trabalho;
– Não se pode aceitar instalar aplicativos em dispositivos individuais ou privados. A empresa que entregue os dispositivos que quer controlar; e
– Os controles realizados pela empresa, qualquer método que utilize, não pode invadir a privacidade de cada individuo em seus relacionamentos sociais, ideológicos, religiosos, sindicais, políticos, emocionais, etc.
O Sindipetro-RJ orienta a não instalação do Intune! Proteja seus dados pessoais!