Reajuste salarial: uma proposta indecente para amassar e jogar no lixo

Direção da Petrobrás não considera inflação do período e lucro exorbitante, apresentando uma  proposta de redução salarial, com reposição de apenas 7% aos seus trabalhadores , perante uma inflação que foi superior

Com a clara intenção de rebaixar os salários de seus empregados a direção neoliberal da Petrobrás, mesmo diante de um lucro exorbitante de mais de R$ 54,3 bilhões, como resultado do 2º trimestre de 2022,  com o anúncio da distribuição de mais de R$ 87 bilhões em dividendos para seus acionistas, e com uma inflação acumulada de 11,42% (INPC),  a gestão da empresa oferece um minguado 7% de reposição salarial para a categoria petroleira.

O que se configura em uma a transferência de renda para os setores mais ricos do Brasil e do exterior, tirando recursos que poderiam ser convertidos em reinvestimento no Brasil e na própria empresa, e na melhoria dos ganhos de seus empregados e demais trabalhadores do setor.

Cabe lembrar que em 2021, a direção da Petrobrás distribuiu aos seus acionistas o montante de R$ 101 bilhões, o equivalente a 95% do lucro de R$ 106 bilhões registrado no período, citando também que a empresa possui uma margem de lucro de 31,6%, a segunda maior do mercado, perdendo somente para a chinesa CNOOC  que registrou uma margem de lucro de 37,7 %, segundo dados do GAAP (Generally  Accepted  Accounting  Principles), um padrão contábil aceito pela SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unido.

O papo furado desmentido

O discurso da empresa usa o argumento de que a Petrobrás paga salários acima do mercado, o que é uma falácia, pois nessa relação os empregados da Petrobrás, quando comparados aos concorrentes, se apresentam exatamente o contrário, desmentindo o argumento da companhia.

Em julho de 2021, o economista do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE), Gustavo Machado , apresentou um estudo comparativo publicado pelo Observatório Social do Petróleo (OSP) com os salários das Petroleiras internacionais e a discussão das empresas estatais e privadas, desmitificando o mito de que o salário do empregado Petrobrás é maior do que das concorrentes do setor de Petróleo.

“O estudo compara a remuneração média dos trabalhadores das principais empresas de capital aberto do mundo, cujos dados salariais foram divulgados. Um limite é que as empresas estadunidenses do setor não divulgam informações salariais, como a EXXON MOBIL e a CHEVRON. Ainda assim, conseguimos uma amostragem significativa que abrange gigantes do setor como a empresa norueguesa EQUINOR, a britânica BP, a francesa TOTAL, a italiana ENI, a espanhola REPSOL e as chinesas PETROCHINA e CNOOC” – detalha ao apresentar o levantamento que fez um recorte referente à remuneração média em 2020, de todas as empresas indicadas.

 

 

Para efeito de comparação, foi calculada a média salarial como resultado da relação entre a massa salarial divulgada pela respectiva empresa e o total de trabalhadores diretos empregados. Em todos os casos, os respectivos valores foram convertidos para o dólar seguindo a cotação média anual, de modo a permitir o comparativo.

A remuneração média anual na Petrobrás é a segunda mais baixa de toda amostragem considerada. Ela é 67% menor que a remuneração média dos trabalhadores da norueguesa EQUINOR, 60% menor que a britânica BP e mesmo 14% abaixo da chinesa CNOOC. A única empresa cuja média da remuneração anual , em 2020, ficou abaixo da Petrobrás foi a gigante chinesa PETROCHINA, com 49 mil dólares de remuneração média anual. Mesmo nesse caso, a tendência na evolução da remuneração de ambas as empresas são opostas, como indicamos abaixo:

 

 

Perdas acumuladas há anos

No último período, inclusive durante os governos do PT, os reajustes dos petroleiros não superaram os reajustes do salário mínimo. No acumulado, então, nem se fala. Mesmo com uma reformulação no plano de carreira em 2006, para equiparação ao mercado e parte de reajustes reais no período – alinhados ao que ocorreu em toda a iniciativa privada no período, os reajustes se mantiveram alinhados ao mercado de trabalho e desalinhados dos crescentes resultados (desenvolvimento dos investimentos, tecnologias e produção do Pré-Sal e aprimoramento do Refino e Gás e Energia) e dos lucros operacionais e financeiros que já revelavam o novo patamar em que os trabalhadores elevaram a Petrobrás.

 

 

Então, nada justifica esse “papo furado” usado pela direção da Petrobrás em tentar justificar a migalha de um reajuste de apenas 7%, tendo oferecido inicialmente 5% na primeira proposta, nos salários base da empresa.

Por isso, é mais do que justo que a categoria petroleira, que tanto faz para manter a Petrobrás entre as empresas mais rentáveis e inovadoras do mundo , reivindique e lute por reposição de todas as perdas até aqui, e ganhos de produtividade e reais. Agora, além da defesa da Petrobrás, é exigida uma recomposição da inflação real do período, sendo: Inflação pelo maior índice 2021/2022 + IPCA 2020 (2,94%) não concedido e mais diferença referente ao IPCA 2019 (1,03%) + 5% de produtividade = Inflação do período 2021/2022 + 9,20%.

 

A hora é essa, e a luta é agora!