Livro sobre a participação da Petrobrás na ditadura imposta em 1964 é lançado no IFCS

Obra “Petrobras e petroleiros na ditadura: trabalho, repressão e resistência” é derivada de uma pesquisa apoiada pelo Sindipetro-RJ

Na quarta-feira (21/08) aconteceu no auditório Evaristo de Morais Filho, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Centro do Rio, o lançamento de “Petrobras e petroleiros na ditadura: trabalho, repressão e resistência”, editado pela Editora Boitempo, com autoria dos pesquisadores Lucia Praun, Alex de Souza Ivo, Carlos Freitas, Claudia Costa, Júlio Cesar Pereira de Carvalho, Marcia Costa Misi e Marcos de Almeida Matos.

Uma pesquisa para os trabalhadores da Petrobrás

O lançamento, além dos autores pesquisadores, contou com a presença de representantes de entidades ligadas à defesa dos direitos humanos, sindicatos, movimentos sociais e petroleiros, além de uma representação de povos indígenas,  acabou por se transformar em um ato em defesa da memória, denunciando os tempos de opressão na Petrobrás, que para a atual geração, da empresa, ainda existe. Na Petrobrás, as pessoas viveram os anos de chumbo, mas nem todas sofreram perseguição. Exigimos,  sobretudo, a reparação não “apenas” para quem trabalhava na empresa e foi perseguido, mas também para outros públicos vítimas da atuação da Petrobrás durante a ditadura de 1964, como moradores da Vila Socó e indígenas do Vale do Javari, além dos sindicatos petroleiros.

“Nós entramos na pesquisa porque tínhamos um compromisso com os trabalhadores da Petrobrás. Todos nós de alguma forma já tínhamos pesquisado essa relação da empresa com os trabalhadores, petroleiros e petroleiras, estávamos engajados em desvendar tudo que aconteceu e subsidiar às ações do Sindicato. É uma pesquisa para ação, não é uma pesquisa para guardar na academia e preencher somente o currículo Lattes. É um trabalho que tem por objetivo se desdobrar em uma política de reparação”, afirmou Luci Praun, uma das pesquisadoras e autoras da obra.

Sindipetro-RJ na luta por reparação

O diretor do Sindipetro-RJ, Antony Devalle destacou que a ditadura não foi só militar, mas também, e sobretudo, empresarial, que embora os militares também tenham se dado bem, eles serviram muito a interesses do imperialismo e empresariais, muitas vezes entrelaçados. Antony ressaltou também que o Sindicato apoia a luta por reparação igualmente pro pessoal da Vila Socó, assim como para o pessoal do Vale do Javari. “Se a Petrobrás fez o que fez, nós petroleiros que queremos uma outra Petrobrás, temos que participar desta luta, e é fundamental isso”, enfatizou o diretor do Sindicato.

Após a fala de Antony, foi a vez da diretora Fabíola Mônica do Sindipetro-RJ, uma das vítimas de perseguição na Petrobrás nos governos da ditadura, e militante na luta dos anistiandos da empresa que ainda lutam pelo reconhecimento e reparação da perseguição que sofreram no período.

“É realmente uma questão de honra para nós acolhermos a todos que a Petrobrás prejudicou. Eu tenho um amigo, Oscar Dias Lacerda, que ainda está vivo, aos 96 anos, que não pode estar aqui presente. Ele quase perdeu as mãos por conta das torturas que sofreu dentro da FRONAPE. Estou muito emocionada, não posso falar mais, me desculpem”, encerrando sua fala sob muita emoção e aplausos dos presentes.

Que a Petrobrás abra seus arquivos e repare o que fez com seus trabalhadores durante a ditadura!

A Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), teve a palavra no evento através de seu diretor Bruno Terribas, também dirigente do Sindipetro- PA/AM/MA/AP.

“Isso aqui não é somente o lançamento de um livro, isso é também um ato político de exigência ao governo Lula, que a direção da Petrobrás promova reparações a todos os vitimados. A categoria petroleira está irmanada a todos os povos indígenas que também foram afetados nesse período, como aconteceu com os povos do Vale do Javari. Essas pesquisas precisam ir se aprofundando. Entre as medidas de reparação que colocamos, é que a Petrobrás além de abrir seus arquivos, que coloque também centros de memória em suas sedes e unidades, que nomeie unidades de produção e pesquisa com os nomes de companheiros perseguidos. Há também a necessidade de que seja fomentada a pesquisa nos arquivos dos Sindicatos, que inclusive têm muita coisa, como descobrimos no Sindipetro- PA/AM/MA/AP. Esperamos que a partir desse movimento, que estamos fazendo, que começou lá trás, quando a FNP e os sindicatos assinaram, referendando, esse tipo de pesquisa, que precisa ser apoiado e respaldado com o nosso apoio. O recado da FNP é dizer que contem conosco”, finalizou Terribas.

O livro “Petrobras e petroleiros na ditadura: trabalho, repressão e resistência” pode ser comprado no site da editora Boitempo, acesse o link

 

 

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