Por Monique Moreira Pegado*
Nos últimos meses, além do ataque da diretoria da empresa ao teletrabalho, com a imposição de pelo menos 3 dias presenciais por semana, em vez de 2, que fez explodir a correta luta dos trabalhadores, temos acompanhado uma outra decisão da mesma diretoria da empresa que ameaça os direitos fundamentais dos trabalhadores com deficiência: a imposição de um período de 18 meses para que esses trabalhadores tenham acesso ao teletrabalho integral. Essa medida não só ignora as dificuldades enfrentadas no dia a dia por quem vive com deficiência, como também representa um retrocesso nas políticas de inclusão e acessibilidade no ambiente de trabalho. Nosso sindicato não aceita esse retrocesso. Estamos aqui para reafirmar: nada sobre nós sem nós!
O Desafio Diário que a Empresa Não Vê
Para muitos, sair de casa para ir ao trabalho está envolto em inconvenientes, como passar horas num trânsito muitas vezes caótico, num contexto de violência urbana banalizada, e dificultando significativamente os cuidados com os filhos, especialmente pequenos. Para uma pessoa com deficiência, além dessas e de muitas outras dificuldades, essa rotina pode ser um desafio especialmente desgastante. Vamos falar sobre o que realmente acontece:
- Transporte Público Inacessível: Elevadores quebrados, ônibus sem rampas, trens lotados que não oferecem espaço ou segurança para quem precisa de adaptações. O trabalhador com deficiência não tem a mesma liberdade de locomoção e, muitas vezes, precisa gastar mais com transporte particular especializado, elevando significativamente seus custos diários.
- Barreiras Arquitetônicas: Mesmo que consiga chegar ao trabalho, o desafio não termina na porta da empresa. Calçadas irregulares, falta de sinalização tátil, ausência de intérpretes de Libras, ausência de banheiros adaptados… O ambiente urbano e corporativo muitas vezes não está preparado para receber esses profissionais com dignidade.
- Desgaste Físico e Mental: O acúmulo desses obstáculos não é apenas físico. O estresse diário de lidar com um mundo que não foi pensado para pessoas com deficiência impacta diretamente na saúde mental. E a alta hierarquia a empresa ainda quer exigir que esses trabalhadores enfrentem isso por 18 meses depois do curso de formação (também presencial) antes de terem direito ao teletrabalho?
Teletrabalho: Uma Questão de Justiça, Não de Privilégio
O teletrabalho não é um benefício especial para trabalhadores com deficiência. É uma medida justa e necessária que garante a esses profissionais a oportunidade de trabalhar em condições dignas, sem que precisem enfrentar diariamente barreiras que não afetam seus colegas sem deficiência.
Trabalhar de casa permite que esses colaboradores tenham:
- Ambiente Adaptado: Em casa, eles podem utilizar as tecnologias assistivas que melhor atendem suas necessidades, promovendo um desempenho mais eficiente e saudável.
- Redução de Custos e Estresse: O teletrabalho elimina o custo extra de transporte e o estresse de um trajeto que, para muitos, é exaustivo e desumano.
- Qualidade de Vida: Com menos desgaste físico e emocional, o profissional tem mais energia e foco para desempenhar suas funções, o que beneficia não apenas o trabalhador, mas a própria empresa.
Essa Luta É de Todos Nós
Ao impor um período de adaptação de 18 meses, a empresa não só desconsidera as barreiras que os trabalhadores com deficiência enfrentam, como também perpetua o capacitismo, tratando essas pessoas como incapazes de determinar o que é melhor para sua própria produtividade e bem-estar.
O lema “nada sobre nós sem nós” não é apenas uma frase! É um chamado para que as decisões que afetam a vida das pessoas com deficiência sejam tomadas com a participação ativa delas. Qualquer medida que imponha obstáculos desnecessários ou desrespeite esse princípio é, sim, uma forma de discriminação. Essa decisão não teve ampla participação de funcionários com deficiência e, provavelmente, de literalmente nenhuma pessoa com deficiência. Ao que tudo indica, foi uma imposição de quem não vivencia essas barreiras.
Nosso sindicato está mobilizado para garantir que nenhum trabalhador com deficiência seja forçado a enfrentar 18 meses (além do tempo no curso de formação) de desgaste físico e emocional desnecessário. A luta por um ambiente de trabalho justo e acessível é uma luta por dignidade, respeito e igualdade.
Conclusão: Chega de Retrocessos!
Não podemos aceitar a imposição de um período de 18 meses (além do tempo no curso de formação), pois é um instrumento de exclusão. A empresa deve se comprometer com a inclusão verdadeira, garantindo acesso imediato ao teletrabalho integral para os trabalhadores com deficiência. Estamos falando de justiça, não de concessões. Estamos falando de respeito aos direitos, não de favores. É importante ressaltar que o teletrabalho integral é um direito. Ou seja, se algumas pessoas com deficiência quiser, por livre e espontânea vontade, ir parte dos dias ou mesmo todos os dias de forma presencial, ela pode e a empresa tem que estar adaptada pra isso. O que é totalmente contra a equidade é a empresa obrigar pessoas com deficiência ao presencial integral por 18 meses (além do tempo no curso de formação).
Nosso Sindicato continuará lutando incansavelmente para que os direitos dos trabalhadores com deficiência sejam preservados e ampliados. A inclusão só é verdadeira quando todos têm as mesmas oportunidades de exercer seu trabalho com segurança, dignidade e igualdade.
Vamos juntos, porque a luta por inclusão é a luta de todos nós!
*Monique Moreira Pegado é petroleira com deficiência, participante de lutas por direitos pra pessoas com deficiência, integrante da diretoria do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro