Além disso, o badalado fundo soberano de Abu Dhabi, um emirado dos Emirados Árabes Unidos, opera no Brasil sob as sombras, abocanhando ativos estatais e operando ex-empresas de Eike Batista. Recentemente, no Rio de Janeiro assumiu o Metrô Rio e a concessão da Linha Amarela
Refinarias, portos e concessões de rodovias. No Brasil, o fundo soberano de Abu Dhabi, Mubadala, possui um arco de negócios oriundos de processos de privatizações e outros empreendimentos (mineradoras, portos e imóveis) herdados de Eike Batista, como espólio de dívidas.
O mais recente negócio do fundo soberano foi a aquisição do Metrô do Rio de Janeiro e da concessão da Linha Amarela, ao assumir em setembro último uma dívida de R$ 2,5 bilhões da Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A (Invepar).
O fundo adquiriu na Bahia a refinaria Landulpho Alves (RLAM) por US$ 1,65 bilhões, aproveitando pechincha promovida pelo programa de desmonte e privatização da Petrobrás. Mas por detrás dessas operações no Brasil pairam dúvidas e falta de transparência sobre muitos desses negócios. E logo este, da refinaria mais antiga do Brasil, apresenta uma informação importante sobre essa operação de compra refinaria.
Em 24 de março deste ano de 2021, a Petrobrás, em comunicado oficial, informou que MC Brazil Downstream Participações, empresa do grupo Mubadala Capital, havia assinado o contrato de compra da RLAM.
Já no último 25 de agosto, o site LexLatin, meio de comunicação especializado no setor jurídico latino-americano, publicou um informe dando conta de que a A MC Brazil Downstream Trading S.À.R.L., realizou uma oferta de notas seniores por US$ 1,8 bilhão (R$ 9,4 bilhões em 25 de agosto) garantida pela MC Brazil Downstream Participações S.A., do grupo Mubadala Capital. As notas têm cupom de 7,250% e vencimento em 2031.
Notas seniores são títulos de dívidas emitidos que têm precedência sobre outras notas não garantidas em caso de falência. As notas sênior devem ser pagas primeiro se os ativos estiverem disponíveis no caso de uma liquidação da empresa.
É de se estranhar que um fundo soberano como o Mubadala, que diz possuir US$ 243 bilhões para investir em negócios, recorra à emissão de títulos para financiar operações no Brasil.
Segundo o relatório que trata dos resultados do 3º trimestre de 2021 da Petrobrás, na parte de Gestão de portfólio, até o dia 27 de outubro o dinheiro da venda da RLAM ao Mubadala não tinha entrado no caixa da Petrobrás.
Segundo o informe do site, a transação foi realizada em 13 de julho, contando com o assessoramento jurídico do escritório brasileiro Pinheiro Neto Advogados. O escritório estadunidense Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom também atuou como conselheiro internacional para as emissoras.
Os escritórios Milbank LLP (estadunidense) e o Machado Meyer Advogados assessoraram o J.P. Morgan Securities LLC, Banco Bradesco BBI S.A., HSBC Securities (USA) Inc., SG Americas Securities, LLC, Standard Chartered Bank, UBS Securities LLC e Deutsche Bank Securities Inc, como compradores iniciais da oferta. Essas atuam no mercado de securitização de títulos.
A reportagem informa ainda que o Milbank explicou que a Mubadala Capital está adquirindo a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) da Petrobrás. Os recursos da oferta serão utilizados para financiar uma linha de pré-pagamento de exportação.
“A ‘éminence grise’ no governo Bolosonaro e as visitas constantes”
Por detrás dos negócios do fundo Mubadala no Brasil opera um cidadão sueco chamado Oscar Fahlgren, executivo-chefe do fundo no país, trabalhando para o fundo desde 2010. O executivo, que trabalhava para o banco JP Morgan em Londres, atua como uma verdadeira eminência parda nos bastidores, sempre com acesso às autoridades das esferas públicas do Brasil. Fahlgrem, oficialmente, já teve diversos encontros com autoridades federais.
Com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em 12 de junho de 2019, em Brasília, no Ministério, cuja pauta tratava dos investimentos da Mubadala no Brasil, conforme consta a agenda oficial disponibilizada no site do Ministério da Economia (https://www.gov.br/economia/pt-br/acesso-a-informacao/agendas-de-autoridades/gabinete-do-ministro/ministro-da-economia/paulo-guedes/2019-06-12 ) .
Também no dia 12 de junho de 2019, Oscar Fahlgrem e sua equipe de executivos cumpriu uma agenda oficial com o então Ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo.(foto Reunião do ministro Ernesto Araújo com Representantes do Fundo Mubadala Capital, Oscar Fahlgren, Leonardo Yamamoto e Ricardo Paes. foto: Arthur Max/MRE)
O presidente Jair Bolsonaro em 29 outubro de 2019, em viagem oficial aos Emirados Árabes Unidos, disse que Mubadala Investment Co., aumentará o investimento no Brasil, citando portos, rodovias, mineração, imóveis e entretenimento como alvos específicos.
“Mubadala é um dos dois principais fundos soberanos dos Emirados Árabes Unidos. O objetivo é investir em portos, estradas, mineração, imóveis e entretenimento” – disse.
No final do ano de 2019, em 20 de dezembro, o Ministro Paulo Guedes participava de mais um encontro com Oscar Fahlgren, desta vez na embaixada dos Emirados Árabes Unidos, sendo acompanhado de Erivaldo Alfredo Gomes, Secretário de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Economia. (print Detalhamento Viagem)
No dia 4 de setembro de 2020, o investidor Hamad Al Marzooqi, sócio e um dos executivos no Brasil da Mubadala Capital, braço de investimentos da Mubadala Investment Company¸ esteve em audiência oficial no Ministério de Infraestrutura, com o Ministro Tarcísio Freitas. (https://www.gov.br/infraestrutura/pt-br/assuntos/noticias/investidores-arabes-demonstram-interesse-por-projetos-de-concessoes-do-governo-federal )
Em 30 de setembro de 2020, um grupo de executivos do Mubadala esteve novamente no Ministério da Economia para “cobrar agilidade” do governo para os projetos de infraestrutura, conforme um noticiou a revista Veja (https://veja.abril.com.br/blog/radar-economico/fundo-de-abu-dhabi-cobra-projetos-do-governo-federal/ )
O terceiro encontro do executivo-chefe da Mubadala com Paulo Guedes ocorreu em ambiente virtual em 26 de julho último.
E fica aquela pergunta: por que tantas visitas dos representantes do Mubadala às autoridades econômicas do governo federal, podemos adivinhar, Petrobrás?
Para encerrar, cabe lembrar que o governo Bolsonaro neste mês de novembro realiza sua terceira visita oficial à Dubai, participando de um fórum de investimentos entre os dias 13 e 16. Bolsonaro e Paulo Guedes estiveram no início do mês de outubro em visita oficial à Expo Dubai 2020, com uma comitiva de 69 pessoas.