Debatedoras destacaram a precarização da vida das mulheres, a violência estrutural e os desafios enfrentados nas relações de trabalho, especialmente na Petrobrás
Neste Painel, as palestrantes foram Aline Fernanda Maciel, doutora em História Social pela USP e pesquisadora do grupo de Estudos da Teoria da Reprodução Social; e Marcela Cristina Andrade de Azevedo, terapeuta ocupacional, mestre em Saúde Coletiva e integrante do Movimento Mulheres em Luta (MML).
Marcela Azevedo abriu o debate apontando a dura realidade enfrentada pelas trabalhadoras brasileiras. “Estamos numa situação bastante difícil”, afirmou, destacando dados alarmantes da violência de gênero no país: quatro mulheres são assassinadas por dia no Brasil, vítimas do feminicídio.
Ela criticou o ínfimo investimento do governo federal em políticas de combate à violência contra a mulher — apenas 0,01% do orçamento.
No setor petroleiro, segundo Marcela, as trabalhadoras ainda lutam por direitos básicos, como acesso a banheiros e vestiários adequados, além do enfrentamento cotidiano ao assédio.
Ela também ressaltou o impacto negativo das mudanças nas regras do teletrabalho, que afetam principalmente as mulheres com dupla jornada. Ao final, convocou homens e mulheres da classe trabalhadora à união na construção de uma campanha contra o feminicídio.
Aline Maciel trouxe uma abordagem histórica e teórica sobre a opressão das mulheres, articulando-a com o sistema capitalista. Ela mencionou a Campanha pelo Salário para o Trabalho Doméstico, lançada em 1970, como marco do reconhecimento do papel estrutural do trabalho reprodutivo não remunerado no capitalismo.
A pesquisadora também apresentou os principais conceitos da Teoria da Reprodução Social (TRS), desenvolvida a partir do livro “Marxismo e a Opressão às Mulheres – Rumo a uma Teoria Unitária”, de Lise Vogel.
Segundo Maciel, a TRS mostra que a exploração e a opressão são co-constitutivas da lógica capitalista e que as atividades de reprodução, como o cuidado e o trabalho doméstico, são subordinadas ao capital.
“O feminismo já vem desde os anos 1940 falando sobre raça, classe e gênero”, lembrou, citando a intelectual Lélia Gonzalez: “tratar da divisão sexual do trabalho, sem articulá-la com seu correspondente em nível racial, é recair numa espécie de racionalismo universal abstrato, típico de discurso masculinizado e branco”.
O debate foi marcado por denúncias de assédio, perseguições e outras formas de opressão vivenciadas tanto na sociedade quanto dentro da Petrobrás. Ao final, foi informado que as pautas aprovadas no Encontro de Mulheres da FNP e FUP serão incorporadas aos grupos de debate do Congresso.