“Direção da empresa propõe revisão somente dos indicadores da PLR. Não importa o que a gente produza, importa que os banqueiros ponham muitos bilhões no bolso”, afirmam diretores da FNP
A Petrobrás quer revisar “só” os indicadores que compõem a metodologia do pagamento da PLR e visando implementá-los para o exercício de 2018 com vistas ao potencial pagamento em 2019. Sabemos que por trás dessa iniciativa tem muita coisa em jogo. E a categoria precisa compreender bem o seu papel e impedir que sejamos manipulados.
Querem um “alinhamento” ou subserviência ao projeto de desmonte da companhia, sustentado com as seguintes políticas: 1) Venda de ativos e desmonte do modelo de empresa integrada do poço ao posto; 2) Precarização das conquistas históricas do Acordo Coletivo de Trabalho, seja na AMS, no Benefício-Farmácia, com o Equacionamento bilionário da Petros, que significa um calote nas dívidas da Petrobrás com os trabalhadores (visam desacreditar para privatizar a gestão de reservas bilionárias); 3) Políticas de desinvestimentos, de parcerias e de preços que entregam mercados aos concorrentes; 4) Miopia financista, que reduz a estratégia da Petrobrás a se submeter sem crítica a critérios alheios às suas capacidades e competências, podando suas potencialidades.
Nunca a FNP defendeu o modelo atual, pois suas metas não são controláveis e/ou auditáveis pelos trabalhadores e não há quaisquer condicionalidades mínimas quanto ao desempenho da direção/gestão, como: não roubar, não utilizar ardis que transformem lucros em prejuízos, manter uma boa ambiência, não precarizar a condição salarial e, por consequência, a técnica dos trabalhadores terceirizados, por exemplo.
Ainda, mesmo que as premissas do planejamento da direção não se concretizem na realidade ou se mude a política de produção no meio do caminho, não há qualquer tipo de ajuste proporcional das metas para que as mesmas deixem de ser impossíveis na realidade – vide o que ocorreu com o índice de carga processada ou custo unitário de produção nos últimos anos, devido à mudança na política de produção e preços e às variações do câmbio e preço do barril de petróleo.
Além de, mesmo bem respondendo contra os danos que os cartéis de empreiteiras e a coalizão dos Governos empreenderam contra a Petrobrás, o modelo proporcionou o calote ao nosso direito por resultados, mesmo alcançando resultados invejáveis, ao batermos recordes de produção, reduzindo os custos de extração e o tempo para a complementação e operação de poços, ao gerenciar e abater a dívida ao pagar juros e amortizações – como nunca se pagou na história da Petrobrás, ao manter o pagamento aos governos em impostos, contribuições, royalties e participações em patamares superiores aos 100 Bilhões de reais por ano e ao honrar os pagamentos aos nossos fornecedores. Isto é, só o trabalhador perdeu… seja em direitos, seja no seu salário anual com o calote na remuneração “variável” (PLR) ou até no seu direito ao emprego, conforme se deu com as demissões em massa dos terceirizados do Sistema Petrobrás.
A FNP sempre foi crítica à política de remuneração variável / flexibilização salarial da Petrobrás, pois se sabia que sua variação em favor dos trabalhadores seria muito limitada, mas do contrário não – visto o que se passava com os aposentados e visto o que a ativa agora sofre. Nossa bandeira, limitada ao que permitia a lei, sempre foi: “PLR máxima e linear (25% dos dividendos)”.
Sobre os indicadores/metas, o modelo atual tem metas que são em sua maioria operacionais. Resumidamente: 1) Volume total de petróleo e derivados vazados, 2) Custo unitário de extração, 3) Produção de óleo e LGN, 4) Carga Fresca Processada, 5) Eficiência das operações com navios e 6) Atendimento da programação de entrega de Gás Natural.
Agora, na revisão proposta pelo Governo e Diretoria da Petrobrás, as metas passam, majoritariamente, a ter um cunho financista. Estão, mais ainda, longe da realidade e do controle dos trabalhadores. O dito alinhamento ao PNG, que se revelou na proposta de equacionamento da Petros, na desconfiguração do Benefício Farmácia, precarização do ACT, redução do efetivo, agora chegou à proposta de metas da PLR. São os seguintes indicadores e pesos propostos: Margem Ebitda (25%), Fluxo de Caixa Livre – FCL (20%), Gastos Operacionais Gerenciáveis – GOG (15%), Custo de Extração (Brasil + Exterior) (15%), Volume de Petróleo e Derivados Vazados – VAZO (15%) e Custo Operacional do Refino – COR (10%).
De pronto, constatamos que o foco da empresa está sobre custos e rentabilidade, mas considerando indicadores que incorporam: impairment e a venda de ativos em seu bojo (Margem EBTIDA ajustado) – naturalizando essas práticas; o pagamento de juros e amortizações em detrimento da contenção de investimentos (Fluxo de caixa livre); a mera contenção de custos de pessoal, manutenção e segurança, sem a contrapartida de performance (GOG, COR e custos de extração).
Os trabalhadores consideram e trabalham pela contenção de custos, mas vemos que as políticas implementadas com essa justificativa somente ocorriam sobre o conjunto dos trabalhadores, enquanto que, no mundo dos contratos com as empreiteiras, era muito diferente – os impairments são o indicador disso.
Agora, vemos que a pressão de redução se deu com precarização de direitos, não reposição da inflação e calote na PLR, mas mais, expressivamente, sobre os custos com salários de pessoal terceirizado, enquanto se vendiam ativos sem licitação e, ao que parece, a preços vis. E essa política permanece, mesmo quando os preços do barril e do dólar já contemplam uma relação entre a geração de caixa e dívida, mais do que sustentável e sem qualquer necessidade de venda de ativos. Talvez, até o contrário: investimentos e aquisições.
Veja o que significa cada novo indicador/meta:
Margem do EBITDA Ajustado – EBITDA Ajustado dividido pela receita de vendas. EBITDA Ajustado – Somatório do EBITDA (Lucro antes dos juros, impostos, depreciações e amortizações(LAJIDA)), com participações em investimentos, impairment, ajustes acumulados de conversão – CTA, o resultado com alienação e baixa de ativos e remensuração nas participações societárias. Esta métrica não está prevista nas normas internacionais de contabilidade – IFRS e é possível que não seja comparável com índices similares reportados por outras companhias, contudo a Administração acredita que é uma informação suplementar para avaliar a rentabilidade. O EBITDA Ajustado deve ser considerado em conjunto com outras métricas para um melhor entendimento da performance da Companhia.
Fluxo de caixa livre – Recursos gerados pelas atividades operacionais subtraídos dos investimentos em áreas de negócio. A medida fluxo de caixa livre não está prevista nas normas internacionais de contabilidade, não devendo ser considerada isoladamente ou em substituição ao caixa e equivalentes de caixa apurados em IFRS. Além disso, não deve ser base de comparação com o de outras empresas, contudo a Administração acredita que é uma informação suplementar para avaliar a liquidez e auxilia a gestão da alavancagem.
Gastos Operacionais Gerenciáveis (GOG) – Custos de extração, refino, logística, distribuição, overhead e outros, excluindo-se a aquisição de matéria-prima e derivados, participações governamentais e despesas de depreciação, depleção e amortização.
Lifting Cost (US$ / barril de óleo equivalente)– Indicador de custo de extração de petróleo e gás natural, que considera os gastos realizados no período
Volume de Petróleo e Derivados Vazados (VAZO)
Custo Operacional do Refino (COR) – US$ / Unidade equivalente de capacidade de destilação
Em 2016, a Petrobrás previa que o Brent estaria hoje US$ 56 por barril; e o dólar a R$ 3,71. O cenário geopolítico do petróleo, no entanto, é outro: o dólar está abaixo dos R$ 3,25 e o Brent esse ano esteve acima dos US$ 67 por barril.
Sobre endividamento da Petrobrás, essa relação do preço do BRENT é importante pois, como dito por Queipo, com o BRENT no patamar atual desmonta a tese de que a Petrobrás está à beira da falência por endividamento.
Programa de desinvestimentos da Petrobrás atingiu a marca de US$ 4,5 bi e a meta é se desfazer, somente em 2018, de ativos cujo valor atinja 16,5 bilhões de dólares!]
O Cenário da Petrobrás é outro: graças à sua força de trabalho!
Enquanto a tríade Governo – Grande Mídia – Mercado Financeiro atacaram a Petrobrás, o povo brasileiro (segundo o Datafolha, em dezembro de 2017, 67% da população era contra a privatização das estatais) e os petroleiros seguiram na resistência.
A campanha de desmoralização da Petrobrás feita pela grande mídia e políticos, confundia os inúmeros dirigentes corruptos com os petroleiros do chão de fábrica. No entanto, os petroleiros não se abateram e pelo quarto ano consecutivo batemos o recorde de produção da Petrobrás. Em 2017, somente no Brasil, nossa produção média foi: 2,15 milhões de barris por dia (bpd); a produção de gás natural foi de 79,6 milhões de metros cúbicos, o que somados, nos fez chegar a 2,65 milhões de barris óleo equivalente (boed). Somente no pré-sal, em 2017, chegamos a incrível marca 1,29 milhão de bpd, um aumento fabuloso de 26% em relação ao ano anterior.
“Parcerias” pra gringo ver…
A Petrobrás possui, comprovadamente, um potencial invejável aos olhos do mundo todo. No entanto, uma das metas é entregar a produção nos campos de Lapa, Iara e Roncador, a exploração de 8 blocos na bacia de Campos e pré-sal, a infraestrutura de exportação de gás, o parque petroquímico, termelétricas, transporte e comercialização de gás, GNL, lubrificantes, QAV, geração e distribuição de energia e ainda um longo etc. Os felizardos dessa farra contra nossa soberania energética são: Total, Statoil, ExxonMobil, BP e CNPC.
Para onde vai o PNG 2018-2022?
A Diretoria da Petrobrás quer claramente entregar de bandeja o patrimônio da companhia para os capitalistas estrangeiros. Como se não bastasse as ditas “parcerias”, o Governo Temer e a Diretoria da empresa querem estrangular o potencial econômico da Petrobrás. Enquanto prevê que nos próximos 5 anos serão investidos US$ 74,5 bi em todo sistema produtivo integrado, que movimenta uma cadeia e uma força de trabalho de meio milhão de trabalhadores; aos banqueiros, meia dúzia de capitalistas, só a título de pagamento de juros e amortizações serão destinados US$ 79,9 bilhões no mesmo período(1). O acordo bilionário com os especuladores norte-americanos no fim do ano passado é apenas a cereja do bolo!
(1) No PNG 2017-2021, a relação foi ainda pior: US$ 74 bilhões destinados a investimentos versus US$ 105 bilhões para pagamento de juros e amortizações. Demonstrando a existência de uma política consciente de estrangulamento do potencial econômico e social da Petrobrás.
Por isso, fique atento!
* Bruno Dantas é diretor da FNP e do Sindipetro-ALSE. Vinícius Camargo é diretor da FNP e do Sindipetro-RJ)
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