O presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, determinou que seu próprio gabinete lidere uma investigação para apurar possíveis roubos de informações confidenciais da empresa
O caso foi revelado pelo jornalista Leandro Demori e envolve o pai da juíza Gabriela Hardt, que foi substituta de Sérgio Moro na Lava Jato. Jorge Hardt Filho está envolvido em uma trama de cópias de documentos sigilosos que foram parar nas mãos de empresas privadas. Uma trama que envolve pirataria de patente.
No fim do governo Bolsonaro, a planta da Petrobrás que está no centro desta história foi vendida justamente para uma das empresas privadas apontada como receptora das informações sigilosas. No caso, quem comprou a Petrobras SIX foi o bilionário Stan Bharti indiano/canadense, fundador da Forbes & Manhattan (F&M).
O Sindipetro-RJ avisou
O Sindipetro-RJ divulgou uma reportagem (https://sindipetro.org.br/escandalo-six-banco-canadense/ ) publicada em 22/11/22, em que conta como havia uma recomendação de uma comissão interna de apuração da Petrobrás, datada de 2012, que investigou um possível vazamento de informações sigilosas para o grupo F&M e desaconselhou “futuros contratos com a empresa”.
Em 2021, o general da reserva do Exército, Joaquim Silva e Luna, era o presidente da Petrobrás e ignorou a recomendação interna da estatal, assinando o contrato de venda que favoreceu o grupo de mineradoras canadenses que atuam no Brasil com o aval do vice-presidente, general Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia. Mourão chegou a batizar a iniciativa do grupo como “estratégica” para o Brasil.
Entenda como foi a coleta de dados
Segundo a reportagem de Demori, em abril de 2007 a Petrobrás emitiu um documento que foi ignorado dentro da burocracia da empresa. Era uma liberação de acesso incomum. No papel timbrado com seu logotipo oficial, a Gerência de Engenharia da Petrobras SIX – a Unidade de Industrialização de Xisto da petroleira, situada em São Mateus do Sul, no Paraná – autorizava o engenheiro Jorge Hardt Filho a entrar com seu computador pessoal da marca Toshiba dentro das dependências da fábrica. O engenheiro químico trabalhava para a consultoria Tecnomon. Contratada pela SIX, a Tecnomon participava de um projeto de modernização da planta da Petrobras.
Pouco mais de um ano depois, Jorge Hardt foi novamente contratado por uma empresa privada, desta vez a Engevix, empreiteira que ficou famosa por ser uma das investigadas durante a operação Lava Jato – seus diretores e o próprio presidente foram presos sob ordens do então juiz Sérgio Moro. O nome de Jorge Hardt está em destaque em outro Documento Interno do Sistema Petrobrás, este emitido em fins de setembro de 2008. No documento, a Petrobrás pedia que fossem enviados a Hardt e a outras pessoas “documentos classificados como corporativos, reservados e confidenciais”.
Ainda, segundo Demori, a partir desses acessos, Jorge Hardt e três funcionários aposentados da Petrobras SIX protagonizaram uma trama que descambaria em investigações sobre pirataria industrial, uso indevido de documentos secretos, armações contra a petroleira e uma tentativa de vender um processo de transformação do xisto que seria uma cópia do Petrosix.
O pulo do gato
O acesso concedido a Jorge Hardt, João Carlos Gobbo e João Carlos Winck – dois também ex-funcionários da SIX que atuavam para a Engevix – tinha um propósito: a Petrobrás queria vender a tecnologia Petrosix mundo afora. Em junho de 2008, a estatal assinou um contrato com a Engevix para tentar negociar o Petrosix em outros países. Foi graças a esse contrato que Hardt e os demais tiveram acesso aos documentos internos da empresa que contavam todos os segredos da tecnologia.
O contrato de US$ 18,2 mi determinava que a Engevix levaria o Petrosix para ser negociado no Marrocos, nos Estados Unidos e na Jordânia. Um trecho do contrato mostra que Hardt foi escalado para o time da empreiteira.
Dois anos depois, ao fim do contrato, os projetos do Marrocos e dos EUA foram abandonados. Mas na Jordânia a coisa andou: a Petrobrás recebeu autorização do governo jordaniano para estudar a exploração de reservas de xisto na área de Wadi Maghara, a 2ª melhor do país.
Porém, a Petrobrás precisava de um parceiro para dividir os custos e os riscos da operação. Em fevereiro de 2011, com os estudos da Engevix na mão, a petroleira firmou acordo com o Forbes & Manhattan, um banco canadense, do indiano Stan Bharti que possui participações e/ou operando empresas mineradoras pelo mundo.
Em setembro de 2012, um ano e meio depois da assinatura de parceria com a Forbes & Manhattan, surge a denúncia de que a Irati Energia, empresa controlada pelo F&M, e formada por ex-funcionários da SIX, estava divulgando no mercado global ser detentora de uma tecnologia semelhante da Petrobras SIX.
Petrobrás acordou
Diante disso, as conversas com a F&M foram interrompidas. Aprofundando a investigação, os funcionários da Petrobrás descobriram mais um movimento dos canadenses: por meio de outra de suas controladas, a Forbes estava tentando explorar xisto na Jordânia, justamente o país onde Petrobrás e Forbes mantinham parceria para exploração conjunta.
Em novembro daquele 2012, a Petrobrás criou um grupo para investigar o caso. Em um Relatório de Comissão Interna de Apuração, publicado 42 dias depois, a empresa foi taxativa: “as evidências apontadas permitiram identificar que as empresas IRATI ENERGIA, FORBES ENERGY e GOSH, todas vinculadas ao grupo FORBES & MANHATTAN, utilizaram-se de informações privilegiadas”.
No relatório, a Petrobrás salientou que os contratados da Engevix João Carlos Gobbo, Jorge Hardt Filho e João Carlos Winck foram as pessoas que tiveram acesso às informações usadas ilegalmente pela Forbes & Manhattan.
A investigação interna apontava ainda, com base em registros, que os três ex-funcionários da Petrobras fizeram “visitas à SIX que não se limitaram ao período e às exigências do contrato com a Engevix”. E destacou: “no contrato firmado com a Engevix existe previsão impondo à Contratada o dever de sigilo das informações disponibilizadas pela Petrobrás, o que se estende para suas subcontratadas, de maneira que qualquer utilização indevida de informações por funcionários da Engevix ou suas subcontratadas ensejaria a obrigação de indenização dos prejuízos causados”.
Ainda no relatório de investigação da Petrobrás, dois personagens que foram destaque anos depois aparecem como responsáveis por assinar documentos com a Forbes & Manhattan em nome da Petrobrás: Demarco Jorge Epifânio e Jorge Luiz Zelada. Ambos seriam presos e condenados pela Lava Jato. Demarco e Zelada tiveram suas vidas reviradas – seus crimes, no entanto, não passaram pelo caso da Petrosix, que jamais foi investigado por Deltan Dallagnol e sua turma de procuradores. Será que a juíza Gabriela Hardt saberia responder essa pergunta?
Ao colocar uma pedra sobre esse passado escabroso, Bolsonaro e Paulo Guedes, os entreguistas de plantão, passaram para a F&M a SIX por um valor aproximado de R$ 200 mi, o equivalente a apenas um ano de lucro da unidade.
Destruição da Amazônia
Por fim, vale lembrar que a F&M opera as mineradoras Belo Sun e Potássio do Brasil – ambas citadas no relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e da ONG Amazon Watch como cúmplices da destruição da Amazônia. As entidades denunciam que a Potássio do Brasil, que atua em Altazes, no Amazonas, e ganhou todo o apoio do presidente Jair Bolsonaro para operar em território do povo indígena Mura, descumpriu decisão judicial. Sobre o projeto da Belo Sun, o relatório afirma que é o de “maior exploração de ouro da América Latina – golpe final à região da Volta Grande do Xingu”.
Fonte Leandro Demori – site “A Grande Guerra”