Denúncia de trabalhadores que atuam na Bacia de Campos é que a companhia pode entregar campos para a Perenco em troca de parte da produção de óleo, ainda liberando uso dos oleodutos e gasodutos do polo sem a cobrança de aluguel, como ocorre atualmente. Um verdadeiro mamão com açúcar!
O Polo Garoupa é localizado na Bacia de Campos, englobando as concessões de Anequim, Bagre, Cherne, Congro, Corvina, Malhado, Namorado, Parati, Garoupa, Garoupinha e Viola, campos nos quais a Petrobras detém 100% de participação. Em abril de 2020, grande parte do Polo Garoupa foi hibernado, assim como outros ativos de águas rasas pertencentes à Petrobrás, com a empresa retirando de operação oito dos 11 campos do polo.
Em agosto de 2019, a direção da Petrobrás lançou o “Cluster” de venda dos seus ativos no Polo de Garoupa. Conforme consta no documento a produção média do polo era de 19,6 mil barris de óleo equivalente ao dia (mil boed/d), mas que segundo dados extraoficiais opera atualmente com uma produção que não chega a 4 mil (mil boed/d). O detalhe que no cluster não há valor fixado de venda do ativo, mostrando que esses processos de desinvestimentos não possuem qualquer tipo de transparência.
Só gringos na jogada
Segundo dados do mais recente boletim de produção da ANP, de junho, a Perenco, uma empresa anglo-francesa, ocupa a 18ª posição no ranking de produção de petróleo com uma produção de 9.941 mil barris de óleo equivalente ao dia (mil boed/d).
Para tocar o negócio, a direção da Petrobrás contratou o Bank of America Merrill Lynch (“BofAML”) como seu assessor financeiro exclusivo (ou “Assessor”) no contexto da Potencial Transação.
“As consultas das partes interessadas que atendam aos “Critérios para Elegibilidade de Potenciais Cessionários” acima mencionados devem ser endereçadas exclusivamente ao BofAML. As partes interessadas não devem contratar nenhum funcionário da Petrobrás” – observa um trecho do cluster.
Em maio último, a Petrobrás adiou pela quarta vez a entrega das ofertas vinculantes pelo Polo Garoupa. Já em fevereiro, a ANP negou o pedido de prorrogação do prazo de venda do ativo. Por lei, as reservas de petróleo e gás pertencem à União. Caso alguma concessionária não cumpra o plano de ação para determinadas áreas de Exploração e Produção (E&P), como no caso do Polo de Garoupa, a agência pode retomar o empreendimento.
Pressão para a venda de campos maduros
A Associação Brasileira de Produtores independentes de Petróleo e Gás (Abpip) está pedindo à Petrobrás que avance com a venda de seus campos terrestres remanescentes para atrair novos investimentos e prolongar a vida útil dos ativos de produção, papo esse que em realidade é pura falácia. O exemplo disso é que em abril, a ANP informou que a produção dos campos onshore e offshore vendidos pela Petrobras chegará a 125.600 b/d até 2025, um aumento de 122% em relação ao valor antes dos desinvestimentos.
O fato é que os chamados campos maduros entram na lista de desinvestimentos, sendo subvalorizados e quando são adquiridos por outras empresas acontece o chamado “milagre da produtividade”, que poços e áreas apresentam uma revitalização impressionante. Um exemplo é a 3R Petroleum, empresa criada para absorver desinvestimentos da Petrobrás. Além disso, o que se percebe é que tubarões do mercado financeiro compram pequenas empresas do mercado de petróleo para abocanhar o espólio da Petrobrás que está sendo pulverizado.
O modelo de negócio de empresas criadas para comprar ativos, em tese, em declínio, é investir e recuperar essas concessões. Em entrevista ao Valor Econômico, publicada em fevereiro de 2021, o atual executivo da empresa, Ricardo Savini, diz que a empresa foi criada com base na “crença” de que, no futuro, a Petrobrás colocaria seus ativos à venda — o que começou a acontecer a partir de 2016. Premonição ou acesso a informação privilegiada, e no caso do Polo de Garoupa, a direção da Petrobrás vai mais uma vez jogar a conversa mole de que o ativo não é rentável e que por isso quer se livrar dele?