Quanto os petroleiros perderão de sua renda com a proposta da AMS?

O economista Eric Gil Dantas nos ajuda a ter uma noção mais exata dos efeitos da AMS para que o petroleiro tenha ideia do que ele pagará de fato. Não deixe de ler!

Por *Eric Gil Dantas

 

Caso a proposta da Petrobras se efetive, teremos um imenso aumento na cobrança mensal do plano de saúde da estatal, a AMS. Em dois anos teremos um aumento médio de 261%, um aumento médio ponderado (pela quantidade de beneficiários por faixa etária e salarial) de 259% e uma mediana de 199%. Fica ao critério do leitor a medida que prefira utilizar para descrever esta tragédia.

Este aumento ocorrerá nos dois próximos anos, como mostramos no Gráfico 1. Mas não é só o aumento via ACT que irá pesar no bolso dos petroleiros, mas também o da Variação do Custos Médico-Hospitalares (VCMH), que segundo o instituto que o calcula, o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), sobe normalmente 8 p.p. acima do IPCA[1]. Logo, como segundo o Boletim Focus, do Banco Central do Brasil (BCB), 2021 e 2022 devem ter um aumento inflacionário de 3% e 3,5%, respectivamente, teremos uma subida média na AMS de 146% em 2021 e de 65,5% em 2022.

 

O aumento ocorrerá de forma distinta para as várias classes, como mostramos na Tabela 1. Para que seja possível uma visualização mais rápida dos diferentes pesos, pintamos as células da Tabela 1 que estão iguais ou acima da mediana (de 199%) de vermelho. Podemos verificar que as maiores variações estão entre os de menor faixa salarial e de maior faixa etária.

Agora pensando em números absolutos, mostramos na Tabela 2 o quanto o ACT propõe de aumento entre hoje e janeiro de 2022. Para isto fizemos a subtração dos números de janeiro de 2022 e agosto de 2020. Utilizando-se novamente de uma média ponderada, teremos que cada beneficiário terá um gasto mensal de R$254,95 a mais no mês com a AMS.

Uma última tabela que pode nos ajudar a ter uma noção mais exata dos efeitos da AMS é a que mostramos na Tabela 3, com os valores de 2022 acrescidos com os dois aumentos do plano já previstos pelo VCHM, para que o petroleiro tenha a ideia exata do que ele pagará de fato. A todos os valores estão acrescidos a previsão de aumento pelo VCHM de 11% para 2021 e 11,5% para 2022.

 

Mas o que tudo isto se traduz na renda do trabalhador petroleiro? Vamos ver algumas simulações.

Primeiro, o caso de um trabalhador de 40 anos e que ganha R$9mil, e que tem a sua AMS com três dependentes, um cônjuge da mesma idade e dois filhos menores de idade. Em agosto de 2020 este petroleiro gastou R$ 205,62 com as mensalidades, o que se traduziria em R$2.467,44 anuais. Em março de 2022, este mesmo petroleiro pagará R$ 688,40 mensais, ou R$ 8.260,80, um aumento de 235%. Considerando que ele receba de aumento o que está combinado no ACT, o INPC no próximo ano (3%), e passe a receber um salário de R$9.270,00, ele deixará de gastar 2,7% do seu salário com as mensalidades da AMS para agora despender 7,4%, ou seja, 5,1 pontos percentuais de sua renda deixarão de poder ser gastos em outros itens da vida para passar a cobrir a sua AMS, isto é, perderá 5,1% da sua renda.

Em um segundo caso, temos um petroleiro de 60 anos que recebe R$10 mil e que tem como dependente um cônjuge com a sua mesma idade. Hoje, este petroleiro gasta R$199,78 na mensalidade de ambos na AMS, ou R$2.397,36 no ano. Em março de 2022 passará a gastar R$1.098,06 por mês, ou R$13.176,72 no ano, isto é, um aumento de R$449,6%. Se hoje este petroleiro gasta 2% de sua renda mensal para manter a AMS, em março de 2022 passará a despender 10,7% de sua renda apenas na mensalidade do plano.

Novamente, é importante deixar claro que não estamos nem simulando aqui os efeitos da mudança da coparticipação, que passará para 50%, o que encarecerá ainda mais o plano de saúde. Mesmo assim, estes dados que expusemos já mostram que a vida piorará para os petroleiros. Além da Petrobrás não reajustar os salários como deve, ainda irá diminuir – na prática – a renda dos seus empregados.

*Eric Gil Dantas é economista do Ibeps e doutor em Ciência Política.

 

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