Quando o Brasil se aproxima de 500 mil mortes por COVID-19, Petrobrás divulga cronograma para volta ao trabalho presencial

Se qualquer consulta aos sindicatos petroleiros a medida ocorre sem nenhuma negociação com os sindicatos e, pior, na iminência de uma terceira onda da pandemia. Fase inicial começa no EDISEN com gerentes executivos e gerais, demais empregados tem previsão de retorno em 1º de outubro

Segundo a empresa, o retorno gradual ao trabalho presencial em atividades administrativas está sendo planejado de forma a ocorrer em ondas, tendo início agora no próximo mês de julho. O “Onda Zero” terá início no Edifício Senado (EDISEN) com o retorno inicial dos gerentes executivos e gerais no mês de agosto, aplicando um modelo híbrido com dias trabalho presenciais e remotos.

“A direção da empresa infelizmente toma novamente uma medida que afetará a saúde de milhares de trabalhadores sem negociar ou apresentar qualquer critério aos sindicatos ou mesmo às CIPAs” – afirma Tiago Amaro, diretor do Sindipetro-RJ.

Em outubro está programada a “Onda 1” que terá o retorno ao trabalho presencial nos prédios administrativos, após avaliação de cenário no final de agosto, em que será observado a situação do Plano Nacional de Imunização (PNI). Segundo o informe da Petrobrás as ondas vão respeitar os critérios de riscos individuais e coletivos, com áreas comuns e espaços físicos sendo adaptados e adequados.

Enquanto isso, os trabalhadores se contaminam. Denúncias que chegaram ao sindicato apontam que em uma gerência no térreo da torre A que se manteve trabalhando presencialmente no Senado, das 11 pessoas que trabalham 9 pegaram COVID ao mesmo tempo, mostrando a condição alarmante de contágio que o prédio representa.

CIPA e Sindicato cobram em reunião com EOR

Depois de muitas cobranças, após uma convocação da CIPA do EDISEN, foi realizada uma reunião no dia 08/06 com o EOR e a administração do prédio, que contou também com a presença do Sindicato. No encontro a representação da Petrobrás deu o informe sobre o retorno às atividades no prédio que todos já sabemos, mas não apresentando qualquer tipo de protocolo de retorno para avaliação dos trabalhadores. O que fica claro é que a decisão de retorno é uma prioridade da presidência da empresa.

Quando medidas não farmacológicas, como isolamento social, são indicadas por especialistas, mesmo com a campanha de vacinação, para evitar contaminações, a hierarquia da Petrobrás não releva o grande risco de contágio justamente pelo o aumento da população circulante nas torres do EDISEN por conta do sistema sistema de ar-condicionado, que é um grande vetor de propagação da COVID-19, não havendo sistema de ventilação natural no prédio. O fato foi questionado pelos integrantes da CIPA e Sindicato na reunião, já que a unidade não possui janelas que possam ser abertas, bem como o risco de contaminação em copa e elevadores. Boa parte das perguntas apresentadas pela CIPA e o Sindipetro-RJ não foram respondidas, tendo os representantes do EOR e gestão predial pedido o encaminhamento das mesmas por escrito para posterior resposta.

Já em julho a população do prédio terá um acréscimo aproximado de mais de 150 primeirizados, que será acrescida pelo trabalhadores terceirizados, fora os que já trabalham presencialmente.

Retorno quando mortes se aproximam de 500 mil

Números atualizados do Ministério da Saúde dão conta de que o Brasil já soma mais de 488 mil mortes por COVID-19. Na Petrobrás, segundo o 61º Boletim de Monitoramento do Ministério de Minas Energia, publicado em 14 de junho, último, já são registrados 7.250 casos; com 6.949 recuperados; 216 pessoas confirmadas e em situação de quarentena; 40 hospitalizados; 30 mortes em trabalho remoto; 14 mortes em trabalho presencial, e uma morte em situação de férias.

Sindipetro-RJ alerta para risco de contaminação

Moara Zanetti, diretora da FNP e do Sindipetro-RJ, alerta de que não há nenhuma evidência de que a direção da empresa adotará medidas básicas como a separação de estações de trabalho com telas de acrílico, aumento na frequência de limpeza, entre outros. “Um retorno forçará os trabalhadores a adotarem condições inseguras de trabalho. Eles disseram que fizeram alterações, porém não especificaram para os sindicatos essas mudanças” – critica.

Ainda segundo Tiago os prédios da empresa não têm condições adequadas de ventilação. “Onde houve reforma de smart office, os espaços de estações de trabalho estão reduzidos e toda a lógica é compartilhar estações de trabalho, que é uma medida de risco em relação ao vírus” – denuncia.

Outro problema é que a empresa editou, recentemente, uma norma que acaba com os testes rápidos sorológicos de IgG e IgM na entrada dos prédios. Ou seja, os trabalhadores entrarão nos prédios apenas com a exigência de se verificar a temperatura, que não é garantia de nada, já que nem todos os contaminados apresentam febre. Por mais que os testes tenham uma margem de erro, as avaliações permanentes de quem acessar às torres em um momento de aumento de contingente seria uma informação importante. Ao invés disso, a direção da empresa se apega no teste rápido não ter função diagnóstica para não fazer nada e na prática reduzir a proteção, ao mesmo tempo em que força os trabalhadores a romper o isolamento social, medida que de fato seria a mais efetiva.

Por tudo isso e diante da lentidão na imunização e do surgimento de novas cepas do coronavírus, o momento deveria ser de aumentar as medidas de proteção na empresa, e não de retorno ao trabalho presencial.

A comunidade científica tem divulgado sistematicamente de que os efeitos coletivos da vacinação só poderão ser considerados quando o índice chegar a 70% da população

Vale destacar que o Programa Nacional de Imunização caminha a passos lentos, com menos de 20% da população imunizada com as duas doses da vacina. Especialistas apontam que, se continuar nesse ritmo, a imunização da população, que ainda não atingiu nem mesmo a totalidade dos grupos prioritários, não será concluída até o final do ano.

Especialista critica medida

“Estamos em um momento muito difícil. Teremos muitas mortes ainda, infelizmente. Teremos muitas pessoas adoecidas.” O alerta foi feito pela médica Maria Maeno, doutora em saúde pública e pesquisadora concursada da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho, durante aula aberta transmitida no dia 31/05, no canal do Youtube da FNP.

Na aula, a doutora apontou ainda os trabalhadores presenciais como alvos do vírus e considera a COVID-19 uma doença relacionada ao mundo do trabalho. “O trabalho presencial é privilegiado para o vírus se disseminar bastante com aglomerações e ambientes de uso comum” – afirma a doutora.

Assim, a antecipação do fim do tetrabalho vem sendo encarada como uma das metas do novo presidente da Petrobrás, o general Silva e Luna, que chegou com a missão de acabar com o trabalho remoto, para agradar ao presidente Jair Bolsonaro e a sua turma da necropolítica.

Fonte FNP

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