Sem direitos, o futuro da classe trabalhadora é incerto

Por Rosa Maria Corrêa

Em 2019, o Brasil registrou taxa de desemprego de 11,9%. Em 2020, os números continuaram crescendo, mas com o agravamento trazido pelo coronavírus. Naquele início, uma parcela considerável da população passou ao teletrabalho e praticamente todo o comércio fechou.

No Brasil já reduzido a migalhas para o povo, vimos, somente em abril, o início do pagamento de um auxílio emergencial de R$ 600. Em setembro, foi reduzido para R$ 300. Em dezembro foi encerrado, deixando pelo menos 40 milhões em extrema vulnerabilidade! Atualmente, ainda está em discussão no Congresso a proposta da volta do benefício, desta vez no valor de apenas R$ 250. Nesta terça (02), o governo do estado do Rio de Janeiro sancionou auxílio emergencial de até R$ 300 em projeto para atingir 200 mil famílias em todo o estado. Pouquíssimo!

O domínio dos aplicativos

Mas, mesmo nesse caos, um setor econômico registrou crescimento astronômico: o de aplicativos de entregas por pedido que, aproveitando-se do isolamento de milhões, passou a recrutar uma legião de trabalhadores no Brasil. Por conta própria – a pé, de skate, bicicleta, moto ou carro… – pessoas necessitadas passaram a fazer entregas de remessas em troca de um pequeno percentual variável de acordo com o volume de produtos entregues, exigindo um enorme esforço físico e mental para alcançar uma renda mínima.

Exploração sem limites

Hoje, a situação é grave para esses trabalhadores. “Os aplicativos não estão no ramo do delivery. Se amanhã, eles tiverem que reconhecer o vínculo empregatício, os investidores vão embora e o negócio deles cai. Então, o negócio dos aplicativos é a exploração. O que atrai o investidor desse negócio é você conseguir extrair até a última gota do suco de laranja e quando o bagaço tiver que ser jogado fora você não precisa nem se preocupar”, afirma Paulo Roberto da Silva Lima, 31 anos, conhecido como Galo, e integrante do movimento dos entregadores antifascistas – espalhado em onze estados – que notabilizou-se por falar a verdade em entrevistas realistas que viralizam na internet.

Querem transformar tudo em aplicativo

“A uberização vai chegar para todo mundo, se já não chegou. Você acha que os Correios não estão loucos para virarem um aplicativo? Venham trabalhar nos Correios e ganhem 0,50 por cada remessa que você entregar…”, avalia Galo. Ao contar a história de como os aplicativos lucram absurdamente hoje dominando o mercado de entregas através da exploração dos entregadores, Galo lembra que, antes dos aplicativos, as pizzas nunca deixaram de chegar nas casas dos consumidores.

Bloqueio branco

Depois de dar entrevistas e falar abertamente sobre os problemas que afligem os entregadores, Galo sofreu bloqueio e não recebeu mais pedidos para entregar. Hoje, está mergulhado de cabeça na luta contra a dor geral dos entregadores. E ensina: “A nossa conquista hoje é que nós existimos. Na política de rua dá para fazer história. A solução para mim está na classe trabalhadora. O acúmulo de riqueza é que é o problema. Por que criar um aplicativo para acumular? Se a revolução industrial veio para suprimir empregos, a uberização veio para retirar direitos. A CLT é o Conjunto de Lutas dos Trabalhadores. Sou trabalhador e não empreendedor!”.

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Para conhecer mais, você pode acessar o vídeo mais recente com Galo, que inaugurou a série de vídeos “E eu? – O Jornalismo precisa me ouvir”, lançado no dia 26 de fevereiro passado e produzida diariamente com moradores das muitas periferias do Brasil pela Folha de São Paulo para debater a relação com a mídia e as barreiras que dificultam suas ações nas esferas pessoal e profissional.

Galo aborda temas como Direitos, Uber, Correios, SUS, entre outros. Imperdível!

Assista: https://www.youtube.com/watch?v=ttciccleoIg&list=PLEU7Upkdqe7FvJRLDfT3WbzB41HUoafw6&index=1&pbjreload=101

 

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