Por Rosa Maria Corrêa
A morte por suicídio pode e deve ser evitada e o primeiro passo é desmistificar o tema
O suicídio está associado a vários fatores de risco incluindo socioculturais, genéticos, filosófico existenciais e ambientais. A campanha “Setembro Amarelo” deste ano traz como tema “Agir salva vidas”. A iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) está completando oito anos e acontece em parceria com o Conselho Federal de Medicina com o objetivo principal de diminuir índices de suicídio. Durante todo o mês acontecem várias atividades tendo como data principal o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio em 10 de setembro.
Verdadeiro cenário é desconhecido
Os números são incertos por causa das subnotificações e da ausência de pesquisas recentes sobre o tema. A Organização Mundial de Saúde divulga dados de 2012 quando estimou-se que “a cada 40 segundos uma pessoa morria por suicídio no mundo e 75% dos suicídios ocorridos foram em países de baixa e média renda”.
Quantos enlutados temos entre nós hoje que perderam entes queridos que deram fim à própria vida num momento de desamparo, de vulnerabilidade? Estudos da ABP mostram que é possível haver reversão deste quadro através da prevenção.
Na época da pesquisa da OMS, constatou-se que em 2012 foram 11.821 suicídios oficialmente registrados na base de informações do Ministério da Saúde no Brasil, o que representa média de 32 mortes por dia. Segundo os organizadores da Campanha, os casos hoje no país já passam de 13 mil por ano.
Estresse entre trabalhadores
Iluminação de espaços públicos e monumentos com a cor da Campanha e ações nas redes sociais estão programadas para todo o mês de setembro para chamar a atenção da importância da saúde mental para a saúde pública.
Com a chegada da pandemia, situações que foram impostas como prevenção à COVID-19, como o isolamento social, aprofundaram doenças pré-existentes e serviram para aflorar novos casos. E infelizmente, entre os petroleiros houve registros.
O estresse envolvendo inúmeras pressões no trabalho, como o fechamento de unidades devido às privatizações, PDVs e cortes drásticos no orçamento de aposentados com descontos abusivos Petros e AMS podem ser considerados fatores precipitantes.
Tristemente noticiamos no ano passado, por exemplo, a morte de um técnico de operações dentro da Refinaria Landulpho Alves (RLAM). No plano de desinvestimento da hierarquia privatista na Petrobrás, a refinaria foi vendida em junho passado, mas na época o processo ainda estava sendo questionado no Supremo Tribunal Federal. Os técnicos do Centro Estadual de Referência em Saúde do Trabalhador (Cesat) e da Auditoria Fiscal do Trabalho analisaram o caso e afirmaram que “faz-se necessário a implantação de medidas de melhorias da organização do trabalho, das condições de saúde e segurança no trabalho e de adequação do quadro profissional com inclusão de profissional da área de saúde mental, a fim de evitar a ocorrência de novos casos de suicídio no trabalho nas dependências da Refinaria”. Colegas relataram que “a redução do efetivo mínimo nas áreas operacionais ao longo dos anos, implicou na intensificação do trabalho em várias unidades e no acúmulo de responsabilidades para as equipes que permaneceram”. Familiares contaram que ele vivia estressado, inquieto e que “a conversa dele era Petrobras, venda, transferência”. Os técnicos concluíram a investigação afirmando que “as mudanças no contexto laboral da RLAM tiveram contribuição decisiva para o sofrimento psíquico do trabalhador, seguido de ideação suicida com desfecho fatal”. Logo após esta ocorrência, outro petroleiro da Unidade U13, subordinado ao falecido, foi afastado e internado em uma clínica para tratamento, devido à suspeita de transtornos mentais”.
É ainda importante citarmos o julgamento histórico, em 2019, de executivos na França que foram condenados por assédio moral após onda de suicídio de 35 funcionários em 2009. A promotoria pública acusou sete gerentes da France Telecom-Orange, empresa de telecomunicações que foi privatizada, de assédio moral ao pressionarem funcionários a pedir demissão. As vítimas culparam a empresa claramente em cartas que deixaram relatando desespero e opção pelo suicídio.
Mas, atenção, a ABP alerta que a causa de um suicídio é invariavelmente mais complexa do que um acontecimento recente e por isso é preciso conhecer e saber como lidar com eles.
De acordo com o World Psychiatry Journal de 2002, pelo menos 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001 foram revisados e houve a constatação de que de 15.629 suicídios na população geral, mais de 96,8% dos casos caberia em diagnósticos de transtorno mental. Para o presidente da ABP, Antônio Geraldo da Silva, “a morte causada pelo suicídio é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base”, lembrando que há um grupo de risco formado por pacientes que tentaram o suicídio antes e que precisam de atenção contínua.
Para auxiliar na ampla divulgação do tema, a ABP informa que “os transtornos mentais mais comumente associados ao suicídio são depressão, transtorno de humor bipolar, dependência de álcool e de outras drogas psicoativas. O risco é ainda maior quando há coexistência de fatores como por exemplo depressão, ansiedade e agitação”.
Precisamos orientar e conscientizar a sociedade sobre a prevenção do suicídio! O setor de Saúde do Sindicato está à disposição: sindipetro-rj@sindipetro.org.br
Conheça a Cartilha “Suicídio – Informando para prevenir” do Conselho Federal de Medicina: http://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14#page/1
O assunto foi debatido no programa Giro Semanal – 73. Ouça: http://sindipetro.org.br/giro-semanal-73-10-09-2021/