Medidas de prevenção devem acontecer de forma permanente
“Setembro Amarelo” é uma campanha internacional de prevenção ao suicídio iniciada no Brasil em 2014 por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria. O mês foi escolhido devido ao 10 de setembro – Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
O fenômeno é complexo e pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
Entre os petroleiros, é fato que a categoria enfrenta riscos psicossociais relacionados ao Trabalho e ocorrem afastamentos em decorrência de adoecimento por causas psicossociais que comprometem a saúde dos trabalhadores. Na mesma linha da maioria das outras empresas, a Petrobrás não compartilha dados específicos sobre a saúde do trabalhador.
Não raro, chegam ao Sindipetro-RJ notícias de casos de suicídio que envolvem petroleiros. O mais recente foi com um petroleiro que vinha passando por sofrimento profundo principalmente após transferência compulsória que o afastou do Rio Grande do Norte para a Bacia de Campos. Ainda neste mês, um ex-BR Distribuidora que foi demitido pela Vibra também entrou para as estatíscias de óbitos por suicídio. Há ainda registros de casos entre os aposentados, massacrados economicamente por descontos astronômicos em seus contracheques por causa de déficits na Petros, apelidados inclusive como “PEDs assassinos”.
Entre os Grupos de Trabalho criados para o debate entre a FNP e o RH da Petrobrás, no de SMS e Saúde Mental houve falta de respostas para a quantidade de questões apresentadas e principalmente a não entrega de uma série de dados solicitados pelos sindicalistas.
Entre os vários exemplos de sofrimento psicológico, estão os causados pela venda de ativos. Os empregados da PBIO foram colocados à venda junto com a empresa! Apesar do processo ter sido suspenso, os empregados continuam apreensivos, porque ainda não houve a revogação definitiva do processo de privatização mesmo diante de várias declarações de representantes da Petrobrás controladora sobre a importância dos biocombustíveis, que está inclusive em destaque no Plano Estratégico que está em elaboração para ser avaliado pela Direção e Conselho Administrativo em novembro.
A TBG, que também continua à venda, é um caso muito delicado, pois é uma privatização condicionada em Termo de Cessação de Conduta (TCC) assinado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a Petrobrás durante o governo Bolsonaro onde o Cade exigiu da estatal a apresentação de um novo cronograma de venda. Essa situação tem abalado a saúde mental de muitos empregados da TBG.
A Comunicação da Petrobrás controladora sofreu uma reestruturação de cartas marcadas ainda no governo do Temer, com viés privatista e, como piloto do Planejamento da Força de Trabalho (Plafort), causando profundo sofrimento psicológico em muitos trabalhadores, parte dos quais com sequelas ainda hoje. Esse é um dos temas que foi levado pros GTs sobre o qual a empresa ainda não deu resposta.
As transferências resultantes do fechamento de ativos em regiões como o Nordeste gerou adoecimentos. Muitos trabalhadores foram levados a longos afastamentos de suas famílias devido à realocação em unidades que ficam a longas distâncias dos seus locais de origem.
As vítimas de assédio moral também precisam de atenção especial por parte da Petrobrás. Não é mais possível a manutenção de vítima e agressor no mesmo ambiente, assim como é preciso que haja o afastamento de gestores bolsonaristas que continuam praticando o assédio.
Importante citarmos ainda os anistiandos e sem anistia que não se cansam de cobram soluções para os diversos casos pendentes na empresa.
A nova gestão criou o programa Sentinela que recebe indicações das representações sindicais sobre casos que necessitam de soluções imediatas, mas ainda caminha devagar.
Ações permanentes
Apesar de apenas 38 países terem uma estratégia nacional de prevenção a do suicídio, a Campanha tornou-se a maior ação mundial anti estigma na luta pelo combate contra o desconhecimento e a discriminação das doenças mentais.
Merecem destaque medidas permanentes de prevenção como o Programa Retorno ao Trabalho do Japão que possui variedade de intervenções de reabilitação e a Aliança para a Saúde Mental, iniciada em 2001 na Alemanha, que agrega pelo menos 110 organizações para promover ações anti estigma de forma permanente.
Nenhuma pessoa é “mediana”; o importante é descobrir a partir dos próprios indivíduos o que os faz sentir estigmatizados.
No Congresso Mundial de Psiquiatria de 2019, especialistas anti estigma compartilharam e discutiram extensas experiências e conhecimentos sobre programas anti estigma e definiram paradigmas de combate como o aprimoramento do conhecimento sobre doenças mentais, pois “a Educação deve se concentrar em medidas para manejar as doenças mentais e seus sintomas”.
Dados impactantes
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios! Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa e morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal.
As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres.
No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio.
No Brasil, dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, mostram que entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
Apesar de conter dados defasados, a cartilha “Suicídio: informando para Prevenir”, editada pela Associação Brasileira de Psiquiatria em 2014 ainda é uma referência sobre o assunto. Conheça: https://www.flip3d.com.br/web/pub/cfm/index9/?numero=14#page/1