Trabalhador é acusado pela Eletronuclear por remoção indevida de objeto metálico de área controlada da usina nuclear que está em parada de manutenção de 20 dias. Fato aconteceu no mesmo dia da tragédia do TEBIG
No mesmo dia em que aconteceu a tragédia que matou dois trabalhadores terceirizados da empresa Olicampos no Terminal da Baia da Ilha Grande (TEBIG), unidade da Transpetro, em Angra dos Reis-RJ, por conta da queda de uma plataforma de trabalho de concreto, em 27/11, foi registrada uma ocorrência com um trabalhador terceirizado de uma empresa não identificada que sofreu uma contaminação na Usina Angra 2, por conta da remoção não autorizada de um objeto metálico, segundo informa a Eletronuclear, empresa mista que administra a usina nuclear localizada em Angra dos Reis.
Eletronuclear responsabiliza trabalhador
Inicialmente, a empresa, em comunicado publicado na sexta-feira (29/11), informou que houve uma tentativa de remoção não autorizada de material da área controlada, informando que a ação foi realizada por um trabalhador temporário da parada de manutenção, que portava uma peça metálica da tampa de acesso à câmara primária do gerador de vapor. Segundo a nota da Eletronuclear esse objeto é tratado como rejeito radioativo, conforme as normas de proteção radiológica da companhia.
“A investigação também identificou que os alarmes foram ativados devido à presença do objeto metálico dentro de uma coletora de lixo presente na sala de descontaminação pessoal, que fica ao lado do banco de portais. Após entrevista com os técnicos de proteção radiológica, foi constatado que a peça havia sido jogada no lixo, depois do acionamento dos alarmes, pelo empregado terceirizado, na tentativa de evitar a constatação da irregularidade”, dando a entender que o trabalhador teria cometido um ilícito.
Segundo a Eletronuclear, “o profissional temporário foi prontamente advertido com um Relatório de Violação Radiológica e, devido à gravidade, foi desligado da empresa prestadora de serviços contratada para a vigésima parada de manutenção”, demitindo sumariamente o terceirizado contaminado. O objeto retirado está em situação de confinamento, tratado como rejeito radioativo.
Ao final da nota, a Eletronuclear informa que comunicou o fato à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Já nesta terça-feira (3/12), a companhia responsável por Angra 2 informou que o trabalhador se expôs a níveis baixos de radiação, pois recebeu uma dose em função do evento abaixo de 1% do limite anual permitido pela CNEN, enfatizando que o terceirizado foi contaminado por um ato irregular “não autorizado perpetrado deliberadamente pelo prestador de serviço”. A Eletronuclear divulgou que o funcionário teve uma contaminação externa, solucionada com os procedimentos básicos de descontaminação pessoal, que eliminaram qualquer risco à saúde do profissional, bem como dos demais que estavam no local.
Perguntas sem respostas
O que se pode refletir sobre essa ocorrência em Angra 2 é que muitas perguntas ainda não foram respondidas nos comunicados oficiais emitidos pela Eletronuclear, e também nas indagações enviadas por esta reportagem para a Assessoria de Comunicação da empresa, que se limitou somente a nos enviar um link de um nota publicada no site.
Dentre as perguntas enviadas destacamos as seguintes: qual é o nome da empresa contratada que opera o serviço? Se o fato é considerado acidente de trabalho, se foi emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), e sendo assim o terceirizado poderia ter sido desligado? Se o trabalhador terceirizado está sendo após contaminação? Se foi aberto algum registro policial pelo ato dito ato irregular, conforme afirmou a Eletronuclear? Qual a qualificação exigida para execução deste tipo de serviço em parada de manutenção?
Infelizmente, não se sabe até o momento o que aconteceu com este trabalhador e o seu paradeiro, sendo, pelo visto, literalmente culpabilizado pelo ocorrido e apagado das informações, tendo sido transformado em um “homem invisível”
CNEN considera episódio como grave violação radiológica
A jornalista Tânia Malheiros, em reportagem publicada também na terça em seu blog, (informa que a CNEN avalia o episódio como uma “violação radiológica” considerada “muito grave”. Segundo ela , os servidores da Comissão farão uma inspeção na central nuclear para apurar esse incidente, entre outras situações planejadas.
Ainda segundo a reportagem, a CNEN foi informada do problema no mesmo dia, mobilizando o Serviço de Segurança Radiológica (SESER) e a Divisão de Segurança Física e Normas (DISEN), que estão acompanhando a apuração do que aconteceu. Qual o prazo para a conclusão? “Com a brevidade que o caso requer. As duas divisões estão trabalhando com aproximadamente uma dezena de profissionais”, informou a CNEN
Terceirizados são as maiores vítimas das condições de trabalho
O fato é que o setor energético brasileiro a partir de suas empresas como o sistema Petrobrás e a ENBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A), holding controladora das Usinas Angra 1,2,3, Itaipu Binacional e da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), adota um modelo de terceirização que precariza condições de trabalho, mostrando que a situação se deteriora cada vez mais.
No sistema Petrobrás trabalhadores terceirizados morrem esmagados por rolos compressores e plataformas de concreto em ruínas, dentro de tanques em refinarias, entre outras situações.