De acordo com o apresentado nas demonstrações financeiras da Petrobrás no 3º trimestre do ano (3T-2017), a empresa obteve um lucro líquido de R$ 5,031 bilhões nestes 9 meses de 2017 (9M-2017), ante um “prejuízo” de R$ 17,334 bilhões no mesmo período. As justificativas para estes números, pelo lado positivo, seriam devidas às maiores exportações líquidas de petróleo e derivados a preços mais elevados; menores gastos com pessoal e com baixas de poços secos e/ou subcomerciais; ganho com a venda da NTS no 2T-2017 e redução do impairment dos ativos. Pelo lado negativo, teríamos as menores margens e volume de vendas de derivados no Brasil e os maiores gastos com adesão a programas de regularização de débitos federais. O lucro líquido do 3º trimestre (3T-2017) atingiu R$ 266 milhões, no mesmo patamar do 2T-2017. O EBITDA Ajustado nos 9M-2017 ficou estável em R$ 63,571 bilhões (margem de 31%) e o Fluxo de Caixa Livre atingiu R$ 37,456 bilhões, 26% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
Tudo isso tem feito com que os porta-vozes do mercado pontuem que a Petrobras pode fechar 2017 com o primeiro lucro anual desde 2013, antes da Operação Lava Jato, evidenciando a “competência inequívoca” da gestão atual, comprometida com o retorno ao acionista e “blindada” contra a corrupção e as interferências do governo (será?).
Ainda assim, estas mesmas vozes assumem que o resultado do 3T ficou abaixo dos valores esperados por seus analistas, que aguardavam um lucro na casa dos bilhões. A Petrobras justifica que a diferença reflete fatores não recorrentes, como a adesão a programas de regularização tributária e provisão para contingências judiciais. Afirma também que apesar disso existe uma sobra de R$ 37,5 bilhões que está sendo usada para rever o perfil da dívida da empresa, mas insiste no cumprimento cego ao programa de desinvestimentos, mesmo quando o próprio mercado alega não ser necessário (vide boletim Sindipetro nºXXVIII).
Sabemos, porém, que as margens menores da operação de refino refletem a estratégia atual de criar deliberadamente espaço para a concorrência (vide boletim Sindipetro-RJ nºX) e que o aumento das despesas de vendas da Companhia foi causado pelo pagamento do uso da malha de gasodutos que já foi nossa (vide boletim Sindipetro-RJ nºXIV); ambos os fatores contribuíram fortemente para que as expectativas do mercado não fossem atendidas desde o 2T-2017. E continuarão pesando progressivamente, somando a outros ainda por vir à medida que o plano de desmonte de Pedro Parente for se concretizando. No entanto, cria-se a imagem de uma recuperação brutal da Petrobrás em função da comparação dos números com os falsos prejuízos criados anteriormente, como fruto de exercícios de impairment desproporcionais que tiveram dupla função: fortalecer o mito da Petrobrás quebrada e criar um clima favorável ao desmonte da Companhia. Hoje, e cada vez mais, as vendas de ativos estratégicos cobram seu preço e a mediocridade na qual a Petrobras mergulha será indisfarçável em pouco tempo.
Independente disso, os devotos do Deus Mercado continuarão a argumentar sobre factoides, usando os balanços da Petrobrás para fins políticos e fortalecendo uma política que em seu conjunto apenas transforma a empresa e o país em presa fácil de interesses que não são do povo brasileiro.