13 de maio: falsa Abolição e o sangue que ainda corre

“Será… Que já raiou a liberdade ou se foi tudo ilusão?
Será… Que a Lei Áurea tão sonhada há tanto tempo assinada não foi o fim da escravidão?
Hoje dentro da realidade onde está a liberdade? Onde está que ninguém viu?
Moço, não se esqueça que o negro também construiu as riquezas do nosso Brasil
Pergunte ao criador quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala preso na miséria da favela”

Samba da Mangueira de 1988

No dia 13 de maio de 1888, a princesa regente Isabel de Bragança assinava a Lei Áurea terminando oficialmente a escravidão no Brasil. Durante mais de 350 anos a base da economia do Brasil colônia foi a mão de obra escravizada, principalmente de negros trazidos aos milhões de África. Neste tempo, a cultura e as instituições coloniais serviam ao propósito de manter a escravidão e a exploração colonial do Brasil. O combate dos escravizados contra sua condição foi implacável, assim como o foi a repressão das elites. A luta popular impôs (não sem resistência) o fim da escravidão.

A proclamação da República, no ano seguinte, manteve no poder a elite (ex) escravista. Seu ódio ao negro livre, sua incapacidade de reconhecer humanidade naqueles que eram sua propriedade até ontem, são a base ideológica da formação do Brasil republicano. Àquela época formulou-se a proposta oficial do Estado de erradicar a presença negra no Brasil. Por um lado, a imigração europeia, por outro a repressão mais brutal contra aqueles que nada possuíam, pois as posses eram proibidas aos negros “livres”. O sangue que correu durante todo o período da escravidão legalizada seguia correndo na república “livre”, como política de Estado.

Foram necessárias algumas décadas para perceber que os planos e as contas falhavam: os negros não sumiriam assim tão fácil. O que fazer então, pensavam as elites? O início da industrialização do país e a busca por uma nova localização na divisão de forças do mundo forçava a necessidade de vender a imagem de uma nação moderna e integrada. Como explicar, então, a escravidão? Como explicar a presença e o papel no negro (que teimou em não sumir) naquela sociedade? A burguesia brasileira formulou então uma mentira tão descarada como ela mesma: a colonização pacífica e o mito da democracia racial. Agora o período escravista, ainda que reprovável, passou a ser vendido como um momento harmônico de integração das raças.

Neste contexto nasce o mito da princesa libertadora e da glória do 13 de maio… Nasce dessas mentiras de uma burguesia banhada de sangue negro: a que chacinou na repressão aos levantes populares, na destruição dos quilombos, na repressão aos marinheiros negros revoltosos… O 13 de maio é um símbolo da mentira sobre o que é o Brasil e como ele veio a ser uma das nações mais desiguais do mundo.

Foi um acúmulo importante do Movimento Negro a denúncia do significado do dia 13 de maio. Em 1988, no auge da luta constituinte, negros e negras marcharam para denunciar, no seu aniversário, a falsidade da abolição de 1888. Deixados à margem da sociedade, perseguidos e reprimidos, o povo negro nunca recebeu do Estado brasileiro sua reparação pelo trabalho, pelas atrocidades e pela tentativa de extermínio que foram submetidos. Esta luta segue hoje mais atual que nunca!

Escrevemos essas linhas de luto pela Chacina do Jacarezinho. O bolsonarismo é dolorosamente coerente com a história do Estado brasileiro. Seguem fazendo sangue negro correr. Usam as mentiras da sua época: reprimir o tráfico, proteger as crianças… Na verdade, se instalaram no poder para sugar, como parasitas que são, o trabalho suado da classe trabalhadora. Seguem permitindo o roubo das nossas riquezas por potências estrangeiras, e como capitães do mato que são, defendem seus privilégios com extrema violência. Não querem e nem podem acabar com o tráfico ou com as organizações criminosas, pois eles mesmo são os milicianos que oprimem e exploram o povo pobre.

Denunciamos mais uma vez a falsidade da Abolição de 13 de maio. Convocamos mais uma vez nossa história de luta. Que Palmares, que Zumbi e Dandara sejam nossos exemplos! Que a luta contra o genocídio do povo negro, a luta contra a destruição dos nossos serviços públicos, a luta pela derrubada desse governo bandido e genocida e a luta pelo fim da desigualdade no Brasil se transformem na luta dos pobres e oprimidos pela destruição do capitalismo e pela construção de uma sociedade realmente livre.

Mobilize-se contra o racismo!

A convocação de manifestações em todo o Brasil nesta quinta, dia 13 de maio, é para exigir justiça para as vítimas do massacre no Jacarezinho e em todas as operações policiais que resultaram em mortes nas favelas brasileiras; com um sonoro Fora, Bolsonaro!

No Rio de Janeiro, está marcado ato, às 17h, na Candelária. Membros da diretoria do Sindipetro-RJ, que participam de diversos movimentos sociais e constroem, internamente, o GT de Diversidade e Combate às Opressões estarão presentes. E, em des-comemoração ao dia da não-abolição, o GT irá promover – em data a ser divulgada – uma live para discutir o racismo e suas expressões da violência e da exclusão no mundo do trabalho – temática tão cara e tão atual. Fique ligado na agenda de atividades do Sindicato. Participe, construa e lute!

#chacinajacarezinho
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#13demaionasruas

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