Diretor e ex-diretora do Sindipetro RJ são laureados no Prêmio Inventor

Prêmio foi lançado no ano de 2001, com o objetivo de homenagear aqueles que contribuíram com inovações que geraram depósitos de patentes

Nesta segunda-feira (20/12), em cerimônia conjunta realizada no auditório do CENPES, a Petrobrás fez a entrega do Prêmio Inventor 2021, e também dos premiados da edição 2020, que por conta da pandemia da COVID-19 tiveram sua cerimônia realizada neste ano de 2021. A premiação anual consiste na entrega do certificado sobre o pedido de depósito de patente assinado pelo Gerente Executivo do CENPES e de troféu especialmente confeccionado para a cerimônia.

Premiados cobram mais apoio

O petroleiro Ney Robinson, diretor do Sindipetro-RJ, pesquisador, lotado no CENPES, foi um dos premiados na edição 2021. Vestido com um colete do Sindipetro-RJ ao receber o troféu e certificado, Robinson lembra dos companheiros de luta da categoria petroleira.

“Diuturnamente, eu e milhares de outros trabalhadores ajudamos a construir a Petrobrás que chegou ao Pré-Sal e que tanto nos orgulhava! Como disse num dos comerciais em que fui escolhido como um dos representantes desses milhares de trabalhadores: ‘Não estou aqui apenas fazendo robôs para resolver problemas’, estou aqui construindo nosso País!” – disse o diretor do Sindicato que, mais uma vez foi premiado por 2 patentes (depositadas em 2019 e 2020) desenvolvidas em conjunto com outros trabalhadores e que visam facilitar o cotidiano dos trabalhadores e a segurança operacional.

Já Carla Marinho, pesquisadora da Petrobrás, também lotada no CENPES, e ex-diretora do Sindipetro-RJ, recebeu sua premiação referente a edição de 2020. A pesquisadora critica a visão implementada nos últimos anos na Petrobrás de desvalorizar a pesquisa na empresa.

“Fico feliz em ter recebido esse Prêmio Inventor 2020, de ter conseguido trabalhar para isso, não me limitei a pagar a uma universidade, mas me empenhei tecnicamente, assim como outros colegas fizeram, só que cada vez está mais difícil e precisamos reverter esse jogo. É necessário ter mais recursos como dinheiro para financiar a infraestrutura própria para o desenvolvimento das pesquisas e possibilidade de ampliar o escopo de pesquisa que no atual contexto está muito limitado” – cobra.

Petrobrás deve ser indutora da pesquisa e do desenvolvimento do Brasil

O Sindipetro-RJ, em sua visão, entende que a Petrobrás tem o papel de ser uma indutora do desenvolvimento nacional, de ser uma indutora do aprimoramento tecnológico. Mas é preciso que as gestões da empresa valorizem não apenas a criação de patentes para mostrar números em estatísticas frias e, por vezes questionáveis. Precisamos ter fluxo de pesquisa e desenvolvimento que alimente o curto , médio e longo prazos, que trate de pesquisa , mas também de pesquisa básica, para que tenhamos reserva e tecnologias “disponíveis nas prateleiras” e com massa crítica e trabalhadores capazes de operá-las quando necessário. Caso contrário , estaremos sempre correndo atrás do prejuízo e apagando incêndios. Sabemos que isso é importante não só para a própria Petrobrás, mas, sobretudo, para o Brasil que é um país que além de gerar poucas patentes, não estimula ou prestigia seus criadores e pesquisadores.

Mesmo que as empresas divulguem como uma ‘demonstração de reconhecimento ao resultado do trabalho do seu colaborador’, sabemos que não é mais a mesma coisa que havia quando empresas como a Petrobrás, sem alarde, e no cotidiano, exercitavam políticas de reconhecimento de fato e de direito no relacionamento com o trabalhador.

A propriedade intelectual é um ativo importante que muitos países usam para se beneficiarem de uma série de formas. Mas no Brasil as condições para isso estão cada vez mais prejudicadas com a política do governo Bolsonaro de restrição à pesquisa. A prova disso é o anúncio do Ministério de Ciência e Tecnologia de um corte de 87% em seu orçamento, afetando milhares de pesquisadores que contavam com recursos governamentais para continuarem seus estudos em diversas áreas. O orçamento da pasta era de R$ 690 milhões, sendo reduzido para apenas R$ 89 milhões.

Direções da empresa entregam o “filé”

As direções neoliberais e privatistas dos últimos anos minaram e minam a criatividade dos pesquisadores na Petrobrás a partir do corte de recursos e sucateamento de instalações e laboratórios, e a captura de conhecimentos e saberes por parte daqueles que não valorizam realmente os trabalhadores e o acervo de conhecimento e o potencial por eles gerado para a empresa, como explica Ney Robinson.

Ney Robinson recebendo um de seus prêmios

“Outro exemplo sutil que é vendido como ‘uma coisa positiva’ é o compartilhamento de nossos saberes e competências. Qualquer um observa que estamos sendo apequenados dia após dia, de modo sistemático e continuado. Temos recebido e ouvido preocupações de vários técnicos diante de uma grande ‘tendência’ para que temas e disciplinas ricas de ensinamentos que, certamente geram patentes e inovações e, em última análise, formam nossa excelência , estejam sendo feitas, de modo crescente, com terceiros. Há muito sabemos que, pelo inusitado de nossas operações, nossos “problemas” podem e devem ser encarados como um grande presente, pois são fontes de saberes e de inovação. Frequentemente e contraditoriamente, temos repassado tais situações para fora, pois quem sabe do problema, quem delimita o campo de estudo e faz a especificação para contratar, somos nós. Nesse movimento, e sob o pretexto de enxugar os quadros, estamos entregando o ‘filé’ limpo e temperado para outros aprenderem. Ainda , por cima , paga-se caro por isso” – exemplifica, em tom crítico, ao que está sendo feito com as empresas Brasileiras ao longo dos últimos anos.

Segundo pesquisa ( http://sindipetro.org.br/wp-content/uploads/2021/08/Pesquisa-Ilaese.pdf ), pode-se afirmar que o acúmulo que a Petrobrás possui de conhecimento equipara-se ao do sistema universitário público brasileiro. Mas, esse patrimônio está sendo desmontado com mudanças implementadas por direções que se afastam cada vez mais do desenvolvimento nacional.

No demonstrativo da proporção da receita líquida, investida em pesquisa e desenvolvimento (P&D), durante a última década, se verifica um decréscimo superior a 40% (de 1,28% para 0,72%). Mesmo assim, o investimento feito pela Petrobrás é superior ao do orçamento destinado, por exemplo, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Em 2020, a empresa investiu R$ 1.818 milhões em pesquisa e desenvolvimento, enquanto que o CNPQ recebeu R$ 1.060 milhões. Por isso, é fundamental observar o alerta que os premiados fazem quanto ao direcionamento das pesquisas, ao modo de fazer.

Por último, é preciso reverberar a destruição que está em curso em centros de pesquisa como CENPES e CEPEL, passando por instituições como o INPE: http://sindipetro.org.br/bolsonaro-desativa-ciencia/

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