CENPES: como a suspensão do transporte prejudica terceirizados e próprios

Suspensão do serviço expõe trabalhadores a diversos riscos que vão desde desgaste psicoemocional, precariedade do transporte público, violência urbana e COVID-19, sofrendo também reflexos financeiros por conta da alta dos combustíveis provocada pela PPI (Preço de Paridade de Importação)

O processo de desmonte e privatização da Petrobrás revela que a política de redução de custos, aplicada pelas gestões anteriores e agora na gestão bolsonarista do general Silva e Luna, tem no corte de direitos e benefícios aos trabalhadores próprios e terceirizados, resultando na perda do bem-estar do trabalhadores, um de seus pilares. Um exemplo real da situação é o processo de precarização do transporte disponibilizado em unidades como o CENPES.

“Acho uma covardia que estão fazendo com nós contratados e com alguns petroleiros, pois cobram de todos nós para que não haja aglomeração, e praticamente nos expulsam do ônibus. Nós terceirizados temos uma realidade de sair 04h  da manhã, pegando duas, três conduções, correndo risco de vida, expondo nossos familiares de pegar COVID ou essa nova gripe. E ainda nos contaminar e passar a doença para os companheiros que trabalham no CENPES.” – desabafa um terceirizado.

Mulheres sofrem mais com a situação

A suspensão do serviço de transporte no CENPES prejudica, principalmente, as mulheres terceirizadas que são alvos frequentes de assaltantes, deixando-as mais expostas.

“O meu deslocamento ficou realmente muito complicado. Para estar no CENPES as 7h30, eu preciso sair muito cedo de casa. Para isso, tenho que pegar três (03) transportes, em cada trecho um risco diferente! No meu bairro, nesse horário, acontece a mudança de turno dos policiais, sendo assim o risco de assalto é bem maior. O outro trecho também é muito perigoso. A Ilha do Fundão tem um alto índice de assaltos, já foram registrados sequestros e assaltos de petroleiros e contratados. Na madrugada, o tempo de espera do transporte é alto, isso aumenta mais ainda o risco. Sem contar que quando a universidade não funciona, eles diminuem o número de linhas, até os ônibus internos não estavam funcionando há pouco tempo. O BRT é precário , super inseguro, quando não tem aula na UFRJ, não chega até ao Fundão. É uma situação muito difícil, realmente!”

Em um tempo, não muito distante…

Há alguns anos no CENPES houve um aumento considerável das linhas e os terceirizados foram incorporados para uso do serviço, ou seja, praticamente todos os trabalhadores unidade tinham linha. Porém, há cerca de seis anos teve início uma nova orientação para que os novos contratados não fossem incluídos no direito de uso das linhas. Atualmente somente os trabalhadores dos contratos em vigência, que tem essa cláusula em vigor, fazem uso do serviço. Isso já vinha acontecendo desde antes da pandemia. Os petroleiros próprios da Petrobrás também são afetados com a situação, quando a empresa redesenhou o serviço e as rotas a partir de 2019. Aqueles que moram em regiões mais distantes, periféricas, estão ficando sem linhas.

“Alguns vivem em municípios em que sequer passa alguma linha ou em situação com paradas de ônibus a mais de 1,5 km de suas casas. Então, muitas pessoas estão sendo obrigadas a irem de transporte público, carro e moto, gastando altos valores com combustível.” – explica um petroleiro que pede anonimato.

Transporte para quem é próprio e “mora bem”

O processo de redefinição das linhas a serem disponibilizadas começou a ser aplicado em 2020, antes da pandemia da COVID-19, em março daquele ano. O fato é que da mesma forma que ocorre com o serviço no Rio de Janeiro e no Grande Rio, o serviço de transporte contratado para o CENPES segue a mesma lógica da formatação das linhas concedidas pela prefeitura do Rio. Ou seja, só oferece oferta para quem mora nas regiões mais abastadas.

“Os colegas com maior poder aquisitivo, que moram em áreas mais nobres tem diversas linhas para atende-los. Os terceirizados que mais precisariam das linhas por morarem longe, questão de segurança, etc. foram paulatinamente sendo excluídos do processo. E os petroleiros que moram em áreas mais distantes e periféricas, e não na Barra ou Zona Sul ,também ficaram de fora, pois não estão em grande número e foram esquecidos quando as novas linhas foram redesenhadas” – denuncia um trabalhador da Petrobrás.

Segundo informações, alguns petroleiros próprios estão tentando junto ao setor de transporte do CENPES resolver o problema de forma individual, mas até agora não houve retorno satisfatório, pois em nenhum momento a resposta foi no sentido de criar alguma opção de transporte. Os primeirizados durante a pandemia usavam um aplicativo chamado Mobicity, mas a partir do início deste ano de 2022, e com o retorno da maioria dos ônibus do CENPES, o uso do aplicativo foi descontinuado. Existe a opção de ser feita RT – Requisição de Transporte -, mas acessível somente para as pessoas cujas linhas estejam lotadas.

Como foi informado em matéria anterior, o Sindipetro-RJ vai formalizar um questionamento sobre a medida que afeta em demasia os trabalhadores próprios e terceirizados do CENPES.

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